Antonio Moniz de Palme (Ed. 827)

Edição 827 (12/05/2022)

Nova visão dos direitos dos animais – Primeira Parte

Todos nós passámos por situações terríveis, na nossa juventude, situações essas que nos traumatizaram. Ou era um patinho de estimação, que andava sempre atrás de nós como um cão fiel, e lhe caiu uma tábua em cima, estropiando o pobre patudo para sempre, ou era um cão que conhecíamos desde sempre e que foi atropelado, ficando sem se poder mexer e a ganir de sofrimento, apesar da pronta medicação do solícito veterinário. Estes os terríveis cenários que qualquer um de nós teve que encarar nos verdes anos, numa altura em que as paixões pelos animais são profundas e a dor, pelo seu desaparecimento, intolerável. E não nos passava pela cabeça que o nosso amigo palmípede, que parecia estar à nossa espera, no início das férias escolares, grasnando de alegria mal nos via junto a si, poderia deixar o número dos vivos, deixando-nos tristes e inconsoláveis, e que o cão fiel e inteligente, com a ternura por nós, espelhada nos olhos, pudesse desaparecer do mapa, de um momento para o outro, sem nos pedir autorização. E lá vinham as boas palavras dos nossos pais e dos mais velhos, perante as nossas lágrimas sentidas, dizendo-nos que os nossos amiguinhos estavam a sofrer e que era melhor para eles irem para a paz do outro mundo, não só por causa das dores físicas, mas também por se sentirem incapazes de nos acompanhar. E lá desaparecia o nosso querido marreco, transformado secretamente num saboroso arroz de pato, e o bom e fiel Dragão, desaparecia do cenário do dia a dia, com uma injecção dada à socapa pela apropriada e radical medicação. E os cuidados com os animais ficavam por aí….  Mais tarde, meti o nariz no modo do funcionamento dos matadouros, ficando escandalizado com o escusado e cruel processo utilizado no abate, isto num país europeu, dito civilizado, afligindo- me ainda mais com o modo como era feito o transporte do gado e da outra bicharada. Na realidade, quando tive consciência do que se passava atrás da cortina de um bom bife com batatas fritas e um ovo a cavalo, fiquei para morrer. Já sabia que a matança anual do porquinho caseiro de estimação, embora à primeira vista a imagem parecesse tirada de um cenário sangrento da invasão dos bárbaros, tal não era como se poderia pensar, pois as aparências iludiam totalmente quem se fixasse apenas nelas. O abate costumeiro tinha a sapiência do Sr Luizinho, pai do meu amigo Pelaio, e matador oficial dos porcos conhecidos da terra. Enfiava com maestria a faca na papada do animal, cortando-lhe a jugular com um golpe rápido e certeiro e o mesmo, instantaneamente deixava de sentir, continuando a berrar e a espernear simplesmente por se sentir preso. Claro que esta opinião era produto da profunda experiência do Sr Luizinho, santa figura, incapaz de fazer mal a uma mosca, quanto mais a um simpático porco de família. Mas, na verdade, pensava eu com os meus botões, as vítimas coitadas nunca tiveram a oportunidade de dar a sua opinião sobre a habilidade do executor, apesar de considerado pleno de sabedoria, reconhecida em todos os cantos da minha terra. Mais tarde, começaram a aparecer uns góticos mentais que eram contra a matança dos porcos e contra as touradas, hábitos sociais ancestrais que faziam parte da vida da comunidade portuguesa. Quanto ao resto, a fauna que fosse ás malvas, pensavam os bem pensantes… Queriam lá saber..!!! Claro que aproveitei ser deputado para levantar o problema da defesa dos animais no Parlamento, mas nada ganhei com isso. Lá querer acabar com o gado bravo e com milhares de postos de trabalho no Ribatejo, para aí estavam virados. Estava na moda. Não tinham a mínima noção de que o fim dos espectáculos taurinos iria provocar o desaparecimento de uma determinada raça bovina que vive toda a sua existência sem nada fazer, pagando todas as mordomias de uma vida refastelada, com momentos de sacrifício no dia das touradas. Mas a ignorância era demasiado atrevida. Geralmente filhos da alta burguesia, sem saberem o que custa a vida, sem trabalharem e a viverem à custa da família. Ainda por cima, tinham a oportunidade de ocupar o tempo com uma manifestaçãozinha de rua, politizando de passagem o problema. Tal, estava mesmo a calhar. Porém, forçar os órgãos da colectividade a regulamentar o modo como eram transportados e abatidos os animais, isso já estava fora do mundo desse tipo de bem pensantes, pois o assunto iria estragar-lhes a digestão do almocinho e, na noite, o sabor dos copos na discoteca. Era assunto para esquecer! Quanto a mim, que pensava poder mudar o mundo com a minha ida para o Parlamento, tive uma enorme decepção nesta matéria. Os políticos de todos os quadrantes, ouviam-me perorar, contudo limitavam-se a bater-me nas costas, com ar de concordância, porém nada faziam. Tinham medo das críticas dos responsáveis dos Municípios e o partido não gostaria de tal…! Claro que fiz visitas, consideradas impertinentes a matadouros e aviários. Além de me olharem com ar de poucos amigos e de ouvir algumas ameaças veladas, mesmo assim houve estabelecimentos que procuraram suprimir algumas práticas selvagens, que lhes poupavam apenas uns escassos minutos do seu tempo profissional, à custa do sofrimento do gado.

E com o transporte dos ruminantes, dos porcinos e dos galináceos, sem qualquer cautela, o mesmo se passava. Parecia que os politicamente correctos apenas defendiam os seus lulus e caniches e o resto era paisagem longínqua com cómoda má visibilidade. Ultimamente, apareceu um partido que, na realidade, teve uma acção eficaz na defesa dos cães e dos gatos, levantando o problema do seu abandono e mau tratamento. Porém, quanto aos problemas mais pesados, silêncio absoluto, com a agravante de se meterem com os animais dos circos e prejudicando o modo de vida de muitas famílias que viviam, correndo de terra em terra a mostrar as habilidades dos cãezinhos amestrados e dos seus garbosos cavalos, encantando o público e principalmente as crianças. Por outro lado, mostrando uma dose de ignorância social insuportável, preparavam-se para exigir a proibição da caça e da pesca desportivas, atrevendo-se a fazerem comentários deploráveis em matéria agrícola. E a girândola de fogo de artifício final, rebentou quando vieram sugerir a criação de um Serviço Nacional de Saúde para Animais, num País que tem um Serviço Nacional de Saúde na penúria, como ficou demonstrado com a pandemia que nos assola, com doentes a morrerem nas urgências, sem assistência médica, esperando eternidades por uma consulta, e por uma necessária operação, não tendo Médico de Família e, quando têm, os serviços burocráticos, por este ou por aquele motivo, não atendem os telefones e o cidadão fica abandonado à sua sorte, acabando por ir a um médico à sua custa, tarde e a más horas, quando se sente a morrer. Mas não são só estes aspectos que me confundem. Para entreter o pagode, a politicagem inventa outro tipo de problemas escusados, não permitindo que democraticamente a população opte e manifeste a sua opinião sobre determinados temas, através dos necessários e democráticos referendos. Já nem falo no Aborto, mas sim na Eutanásia.

Ora, há que tratar prontamente dos vivos e não ter o atrevimento e a veleidade de determinar a morte dos outros.



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