O nosso Abade de Baçal, involuntariamente, foi a grande estrela do Último Encontro dos Estudos Judaicos, em Torre de Moncorvo
Edição 723 (14/09/2017)
O nosso Abade de Baçal, involuntariamente, foi a grande estrela do Último Encontro dos Estudos Judaicos, em Torre de Moncorvo
Realizou-se, no corrente ano, o III Encontro da História e Cultura Judaicas da Torre de Moncorvo, coordenado pelo Sr. Prof. Doutor Adriano Rodrigues, historiador e grande investigador da cultura marrana no interior português, eficientemente coadjuvado pela escritora Srª Prof. Doutora Adília Fernandes. Para surpresa de muitos participantes, o Abade de Baçal andou num enorme corrupio nas controvérsias de algumas das comunicações apresentadas, incluindo diferenças de opinião profundas, entre trabalhos de descendentes de gente com sangue judeu.
E quem foi o Abade de Baçal?, perguntar-me-ão alguns leitores.
O Abade Baçal, de seu nome Francisco Manuel Alves ( 1865-1947), foi um sacerdote que andou pelas terras transmontanas, foi reitor de Baçal e organizador de um Museu ao qual mais tarde foi dado o seu nome, devido aos imensos trabalhos de investigação e de arqueologia nas terras do Nordeste, tendo tido ainda a cautela de tomar medidas radicais para preservar todos os vestígios arqueológicos que foram aparecendo e que se não fosse a sua pronta acção, tinham desaparecido de vez. Tinha uma grande erudição, era um bom historiador e investigador. Escreveu imensas obras, sendo de salientar as suas Memórias Arqueológica – históricas do Distrito de Bragança, em 12 Volumes, cujo V volume tem muito interesse, pois trata da sempre debatida problemática do Judaísmo, incluindo as perseguições outrora feitas pela Inquisição. Esta obra é na verdade essencial para se perceber a influencia dos marranos, isto é, dos Cristãos Novos na vida do interior português e o conhecimento mais aprofundado dos cripto judeus. Devo dizer, na minha modéstia, que sempre considerei o Abade de Baçal um protector da Gente da Nação, os descendentes dos judeus sefarditas. Por essa razão, não pode ser considerado de modo algum um anti-semita, como alguns pretenderam insinuar, antes muito pelo contrário, um defensor da sua liberdade. Aliás, era possuidor de um carácter revelador de uma excepcional erudição e cultura e ainda de uma personalidade eivada de grandes sentimentos humanos. Os que conhecem minimamente a obra do Abade de Baçal, sabem que teve que reescrever as últimas páginas da sua história dos Judeus (V Volume), por instâncias dos seus superiores hierárquicos da Igreja, que não gostaram de determinadas conclusões a que chegou.
Ora bem, qual foi a razão de tanta polémica sobre a figura simpática, humana e culta do Abade de Baçal. Os Marranos, ou melhor, os judeus convertidos á força ao Cristianismo, no tempo de D. Manuel, para evitarem ser expulsos, só na clandestinidade praticavam a sua religião judaica, utilizando práticas, que se foram alterando pelo andar dos tempos e pelo isolamento em que se encontravam em relação aos centros religiosos judaicos. Vivendo sobre si mesmo, procurando respeitar a memória dos seus, adoptaram costumes, cujo significado, no meu ponto de vista, desconheciam e estavam cada vez mais longe dos verdadeiros princípios judaicos. Enfim, corruptelas costumeiras cujo verdadeiro sentido, nem os cristãos novos nem os cristãos velhos já compreendiam.
Aliás, esse tipo de situações são de todos os tempos. No reinado de D. Afonso II, “O Gordo”, os pregadores Dominicanos entraram em Portugal em 1229, chefiados por Frei Soeiro Gomes, para procederem, com a cobertura papal, a uma limpeza doutrinal na pátria lusitana e assim extirparem as possíveis heresias cátaras, a chamada heresia albigense, que tinha criado um terrível conflito religioso com consequências dramáticas e a razia de populações inteiras, nos territórios do que é hoje o Sul de França. Contudo, o Rei Português, com a maior lucidez possível, defendeu intransigentemente o seu Povo, pois meteu na ordem Frei Soeiro Gomes, ameaçando correr de Portugal os Dominicanos, e declarando que não havia cátaros em Portugal e apenas cristãos novos, árabes, judeus e, quando muito práticas religiosas sem qualquer tipo de consciência herética. Necessitavam sim essas populações de ser ajudadas doutrinalmente pelos responsáveis da Igreja. Claro que este filme, repete-se em todos os séculos, principalmente quando os crentes estão bem longe dos seus doutrinadores e se encontram abandonados sobre si mesmos ao isolamento dos seus costumes e memórias.
Foi levantado por alguns dos intervenientes deste Encontro, a situação das “ABAFADEIRAS”, mulheres que eutanasiavam os seus correligionários religiosos, judeus clandestinos, quando estes estavam perto da morte, prática que o Abade de Baçal e outros autores, como Samuel Schwarz e Miguel Torga, nos seus Novos Contos da Montanha, referem como existentes. Falou-se de umas irmãs transmontanas conhecidas por as Abafadeiras e o Padre Fontes, de Vilar de Perdizes, relatou que foi chamado para assistir a um moribundo e deparou com uma mulher de bruços sobre o seu corpo, segurando-lhe a cabeça com uma das mãos e com a outra a tapar-lhe a boca e o nariz. Imediatamente, impediu a continuação daquela estranha acção, mas o que é facto é que a vítima não resistiu e acabou por falecer. Segundo Schwarz, o Cristãos Novos, querendo aplicar, segundo as suas crenças, os últimos sacramentos aos moribundos, eram forçados, em virtude do segredo das suas práticas religiosas judaicas, a não permitir a presença dos amigos e vizinhos estranhos à sua religião que vinham solidariamente acompanhar a pessoa conhecida”in articulo mortis”. Assim, abreviavam o seu passamento, abafando ou asfixiando o moribundo, para só posteriormente haver a intervenção do elemento da Igreja Católica, que era chamado, para manter as aparências.
Esta lenda dos Abafadores, esta prática da eutanásia judaica, seria sobejamente conhecida nas terras do interior português. È voz corrente a existência, no passado, de factos que confirmam esta estranha realidade. Por estas circunstâncias, calculam bem o que foi a discussão levantada no colóquio sobre as histórias descritas sobre os Abafadores, bem como a veracidade ou não da sua existência. Quanto a mim, direi que os factos apontam para que tivesse existido essa estranha prática, motivada pela clandestinidade das práticas religiosas judaicas. Convém esclarecer que, com o decorrer dos tempos, repito, os marranos verdadeiramente não eram nem judeus nem cristãos. Procuravam sim uma prática ligada a princípios que já não conheciam correctamente, pensando erradamente estar a salvaguadar os seus valores religiosos.
Esta a razão por que estes colóquios sobre a História e a Cultura Judaica são imprescindíveis para se esclarecerem problemas e acabar com lendas e talvez práticas retrógradas que infelizmente existem em todas as religiões. Os organizadores do Colóquio e Torre de Moncorvo estão de parabéns, por esta iniciativa cultural, que procura integrar no nosso meio uma minoria que até há bem poucos anos não era aceite no seio da nossa comunidade.
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As Armas e os que se governam à nossa custa…! Eu sei lá… meu Comandante!
Quando tinha idade para ser chamado a cumprir o serviço militar, só os muito doentes e os deficientes se safavam. A rapaziada era apurada, andava ufana a passear um laço vermelho na lapela e acabava a fazer a recruta, iniciando a vida militar. E, se não tivesse um azar de percurso, acabava a estadia no exército, na marinha ou na aviação, por lhe fazer muito bem ao físico e ao espírito. Apesar das comemorações da passada vida militar e das confraternizações permanentes com os antigos camaradas de armas, todos se lembram de histórias tristes e de ditos nascidos da má língua ou da pura realidade, relembrando elementos que se governavam nas messes, desviando bens alimentares, ou nas enfermarias, atirando remessas de remédios ao lixo ou às águas do rio mais próximo para receberem as comissões dos fornecedores. Tal entristecia quem estava a cumprir os seus deveres, ficando com vontade de cometer um atentado contra tal gente e batendo as palmas quando sabia que algum desse tipo de biltres tinha sido apanhado nas curvas das suas funções e pagava os crimes cometidos com o canastro metido nos presídios militares.
Pois bem, após o 25 de Abril, os políticos passaram a olhar para as Forças Armadas que fizeram a revolução e lhes deram a possibilidade de uma Vida Democrática, com um detestável espírito superior, olhando a vida castrense de soslaio, naturalmente – direi eu – pelo facto de alguns terem fugido à tropa, desenfiando-se do País e procurando sempre minimizar os que se bateram por princípios de honra e na defesa dos interesses portugueses em jogo, quer concordassem ou não com a guerra do Ultramar. E o que é facto é que os orçamentos para as Forças Armadas foram descendo vertiginosamente, não ligando os responsáveis políticos qualquer atenção ao abandono descarado das instalações, à diminuição abaixo do pensável do contingente humano de cada ramo, nomeadamente quando tínhamos uma gigantesca Zona Económica Exclusiva a defender, à não existência da mínima prevenção na guarda dos bens e armamento existentes.
E se teríamos que redimensionar as nossas Forças Armadas às necessidades existentes após revolução, adaptando-as às novas necessidades, pouco ou nada foi feito, tentando-se politizar os cargos militares, através da escolha dos responsáveis do galinheiro privado de cada partido, para evitar agitações incómodas dos que continuavam a pensar pela sua cabeça. E só um cego é que não via e não vê tal atentado à integridade e aos valores que devem presidir à vida das Forças Armadas. E, claro está, que a corrupção, muitas vezes com a concordância de altos responsáveis, começou a singrar de vento em popa. Todos sabemos que o atentado que matou Amaro da Costa e Sá Carneiro se deveu ao facto de Amaro da Costa andar a investigar o descaminho do saco azul do Fundo de Desenvolvimento do Ultramar, pois segundo se sabia teria descoberto grossa pouca vergonha relacionada com o contrabando de armas por parte de gente altamente colocada. Muitos afirmavam que Adelino Amaro da Costa, na viagem que motivou a sua morte, transportava uma pasta confidencial com documentos comprometedores, pasta essa que não largava um instante e que foi encontrada, após o acidente, no meio dos destroços, e entregue às autoridades, levando um inexplicável sumiço. A pasta em questão foi vista por diversas pessoas. O Ten. Coronel Lencastre Bernardo, alto responsável da Polícia Judiciária, bem como o Major Canto e Castro, eram apontados por muitos, justa ou injustamente, como estando metidos no contrabando de armas, assim como uma série de outros militares. Como é que poderia aparecer a pasta com os documentos que Amaro da Costa guardava religiosamente consigo? Claro que desapareceu imediatamente da circulação, obviamente para defesa dos responsáveis militares investigados por Amaro da Costa. Segundo Farinha Simões, um dos autores do atentado de Camarate, agente duplo que trabalhava para a CIA e a STASSI (Polícia Secreta da Alemanha Oriental), durante alguns anos, até 1988, aviões transportavam clandestinamente armas para certos países e, no retorno, traziam droga para com o produto da venda, pagar as despesas da transacção e do transporte. Acrescentava ainda que os altos responsáveis por este contrabando, indicando os seus nomes, tinham luvas fabulosas através de comissões pagas via “Off Shores”.
Agora, para agravar o desgosto causado pelos dramáticos incêndios havidos, cai em cima de nós, pobres cidadãos portugueses que cumprem os seus deverem e pagam os seus impostos, o escandaloso roubo do material de Tancos, com uma vigilância a fingir, com uma gestão criminosamente laxista, sem o cumprimento das mínimas medidas de segurança. Que poderemos pensar?!!! Bem, em primeiro lugar deverá determinar-se quem são os responsáveis por tal despautério, que forçosamente terão que pagar a sua incompetência e desmazelo na gestão da coisa pública. Depois, verificar todos o processo relacionados com material de guerra desaparecido, para não termos mais surpresas desagradáveis. E, por último, claro está, punir quem deve ser punido…
Para já, com a exibição de um buraco na rede de defesa dos paióis roubados, misturado com toneladas de exagerada incompetência e desmazelo, tenho legitimidade para perguntar a mim próprio: -. Será que o material alguma vez chegou a entrar em Tancos? Será que apenas entraram em Portugal as luvas para pagamento da Corrupção e o material foi logo canalizado para outros destinatários?
Sei lá,… meu Comandante!!!.
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