Lançamento de um bom livro, que veio certificar o alto nível intelectual do seu autor
Lançamento de um bom livro, que veio certificar o alto nível intelectual do seu autor
Temos andado todos de cabeça perdida com o desemprego que aflige a comunidade, com os cortes nos salários e nas pensões que nos tolhe o poder de compra, com as contínuas limitações ao serviço de saúde e à educação. Protestamos, escrevemos artigos violentos e tudo permanece na mesma. Mesmo uns que anteriormente clamavam por tudo e por nada, mal vislumbraram o recebimento de uma qualquer prebenda, calaram-se bem calados, pois o problema deixou de ser da sua pessoa e passou apenas a ser dos outros. È a vida e a eterna fraqueza humana!!!.
Pois bem, não basta protestar contra casos concretos. É necessário que todos compreendam a razão da situação que vivemos e, posteriormente, feito o respectivo diagnóstico, possam tirar as lógicas e construtivas ilações, para poderem pensar nas soluções para os males da sua grei. Nesse sentido, o escritor e jornalista António Bica, intelectual da minha Querida Lafões, lançou há dias um novo livro, chamado “O Controle dos Cidadãos pelo Grande Capital”, expondo igualmente qual o modelo económico e político democrático, alternativo ao desbragado neo-liberalismo que nos leva na enxurrada, para assim termos a mínima capacidade de sair do atoleiro económico em que nos encontramos.
A sua obra didáctica foi apresentada, no Grémio de S. Pedro do Sul, pelo Prof. Eng. Fernando Oliveira Baptista, antigo Ministro da Agricultura, a um público interessado nas palavras do seu ilustre conterrâneo. Na verdade, tinha razão para tal. António Bica com a sua sólida e excepcional cultura, que conheço de há muito, fez uma descrição bem estruturada dos caminhos do sistema liberal e do sistema socialista através dos tempos, nomeadamente no passado século XX, bem como um bem elaborado e realista levantamento das perversões em que ambos tropeçaram, causando os responsáveis políticos que as executavam, incalculáveis sofrimentos a populações inteiras. E explicou claramente as diversas fases dos desvios que subverteram um e outro dos sistemas.
Os ouvintes estavam fascinados pelas bem fundamentadas explicações e pelo manancial cultural do autor, seu conterrâneo. Eu sou amigo do António Bica há muito, desde os tempos do Liceu de Viseu e da Universidade de Coimbra. Acompanhei sempre a sua evolução intelectual.Com o amadurecimento do seu intelecto e com o seu imenso desejo de assimilar conhecimentos, permitiu-se esbater a rigidez de posicionamentos políticos herméticos e deixou-se envolver por um estranho ecletismo, sempre apaixonante para quem permanentemente descobre ideias e soluções novas. Conversar e ouvir António Bica, lembra-me a felicidade suprema de duas conversetas despretensiosas com Agostinho da Silva e de que nunca me esquecerei. De cada nova palavra brota uma nova e insuspeitada ideia que faz esquecer a anteriormente assumida. E os pequenos acidentes de percurso na solução dos dramas concretos da nossa colectividade, não fazem esquecer que tem na sua mente um iluminado fio condutor que não posso deixar de considerar sobrenatural. O António Bica bem fala na rivalidade do individualismo e do egoísmo do homem com a tendência natural para viver e proteger o colectivo onde se integra e que possui interesses bem distintos da esfera privada de cada ser humano. E dessa rivalidade sobressai uma dinâmica que faz progredir a ciência, as instituições e o homem, progresso esse harmónico, pacífico e satisfazendo os valores individuais mais íntimos. Como católico, bem poderia apelidar esse planeamento e evoluir político como resultado da concretização dos valores cristãos, dos ensinamentos das Encíclicas, que muitos infelizmente pouco conhecem. O conteúdo das Encíclicas “Rerum Novarum”, da “Quadragésimo Anno” e da “Mater et Magistra” bem se sentiriam concordantes com os princípios explanados por António Bica. E se algum rebuço nessa simbiose houvesse, tal seria coberto pelo Humanismo, descobrindo o Pensamento de Unamuno um seguidor no nosso Mestre Lafonense. Na verdade, o conceito de Hegel de que o Estado é uma realidade objectiva e de que as suas leis, como as leis da natureza, são susceptíveis de ser compreendidas, mas não modificadas, não corresponde à verdade. O controle racional e as modificações criativas das instituições, quando se acredita no Homem e na Humanidade, podem ser progressivamente alterados e ajustados aos interesses fundamentais do Indivíduo e da Colectividade. Parabéns António Bica por este bom livro dado à estampa.
• António Moniz Palme-2014
Redação Gazeta da Beira
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