O espírito do mal em luta contra os Valores Fundamentais

A. Moniz de Palme

Todos os portugueses, uns mais outros menos, se regozijaram com a vitória, no Porto, da lista candidata às eleições autárquicas, chefiada pelo independente Rui Moreira. É tripeiro com experiencia de gestão tanto industrial como comercial, desportista com provas dadas e concorreu sem o apoio visível de qualquer clique partidária, com soluções já apresentadas para alguns problemas portuenses e da Região Norte e com um projecto para o município com princípio, meio e fim, nomeadamente na melindrosa área social.

Ainda por cima, todos tinham razão de queixa das actuações partidárias no país e desejavam a mudança, pelo menos no Porto… E, perante a rotunda derrota sofrida por alguns candidatos apresentados pelos partidos, logo começaram as críticas à sua insensatez nas escolhas feitas. Claro que os críticos têm plena razão. O que se passou no Porto e em Gaia foi deplorável, razão porque os portuguesinhos, na sua fresca ribeira, arregaçaram as mangas e deram uma valente coça política nas centrais de interesses partidários.

Mas é bom termos consciência que as críticas não foram só à actuação do PSD, pois em Matosinhos o PS teve o mesmo comportamento, tentando afastar da corrida à chefia do município, contra a vontade das gentes matosinhenses, o antigo presidente da Câmara, Guilherme Pinto, que tinha obra feita e era apreciado pelos seus munícipes. O P.S teve, nas urnas, a paga dada pelo Povo ao seu ínvio comportamento, correndo o candidato socialista e elegendo o agora independente Guilherme Pinto.

Tanto no Porto, como em Gaia, como em Matosinhos, o oportunismo, as centrais partidárias de emprego e os secretariados de interesses escusos de ambos os partidos foram banidos consciente e democraticamente pelo voto dos eleitores. No fundo, defenderam a verdadeira Democracia e o resto é conversa.

Por essa razão, o castigo, repito, foi dirigido aos dois grandes partidos que se viram contrariados nas suas manobras torpes de baixa e inadmissível partidocracia.

E se repararem bem, o mesmo aconteceu um pouco por todo o país. Para além da enorme percentagem de portugueses que se abstiveram., fartos das nomeações de incompetentes para cargos de responsabilidade, com chorudos vencimento, houve um real objectivo por parte da colectividade.. Punir de qualquer forma o arranjismo partidário, as escolhas feitas contra os interesses das comunidades que vê gente sem preparação a gastar dinheiro à tripa forra, a crédito, sem cuidar que o mesmo tem que ser o pago, criando problemas às gerações futuras e fazendo entrar os municípios em bancarrota.

Vejam cuidadosamente à lupa concelho por concelho do nosso País e percebam o cerne do problema com que nos temos que confrontar. Situação verdadeiramente escabrosa num país europeu, onde os instrumentos democráticos, que são os partidos, se atrevem a escolher gente sem valores, sem experiência em qualquer campo profissional e sem um pingo de vergonha, apenas para satisfazer os interesses privados dos seus correligionários e as estratégias de grupos de interesses ilegítimos que dão ordens aos partidos. Esses nomeados, muitas vezes, a única experiência que possuem é a colagem de cartazes partidários, exibindo, para cúmulo, um falso diploma escolar, tirado num vão de escada. É por estas razões que Portugal foi considerado, por uma organização internacional, o terceiro país mais corrupto do panorama actual…!

Também andei a colar cartazes, no passado, e muito me honro disso, mas pintava a cara de vergonha se fosse alguma vez escolhido para desempenhar um cargo de responsabilidade por tal motivo, e o aceitasse, não tendo o mínimo de preparação e de experiência para o seu desempenho…!

Ora se o panorama partidário não mudar e os respectivos responsáveis não alterarem o rumo que têm trilhado, o País cairá numa situação de não democracia, pois a colectividade ver-se-à na contingência de uma tomada de atitude menos pacífica, motivada, ainda por cima, pelo mal estar criado pelas actuais situação social e económica.

Como os partidos têm demonstrado ser comandados à distância por seitas com objectivos secretos bem diferentes daqueles que são assumidos nos respectivos programas partidários, os novos eleitos terão que ter um comportamento duro com os que andaram a prejudicar a colectividade nos respectivos concelhos. Rui Moreira, Guilherme Pinto, não podem deixar-se adormecer pelo canto das sereias. Não basta ganhar as eleições, tem que se fomentar uma mudança de valores que impeça as manobras da gentalha da política que apenas explora a sociedade, empobrecendo o país na mesma proporção que vai enriquecendo.

Os homens que vencem são uma pedra de toque para a comunidade, constituem um exemplo para os outros. Por isso mesmo, faço este pedido aos que venceram, repetindo as palavras de Zaratustra, Não repudiem o herói que há dentro de cada um! Não se limitem a uma vida política de minguadas aspirações, apenas satisfeitas por alegrias breves, sem alcançar mais longe do que de um dia para o outro…!

Temos que destruir o espírito do mal que mina a saúde política portuguesa.

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