• Carlos Alberto Paiva / Fotos de Ana Rosa e de Hugo Carvalhal
Edição 857 (12/10/2023)
Até mais tarde
Hoje não vai trabalhar
Vai ficar a dormitar
Não responde a ninguém
É possível que de facto
Só acorde pelas quatro
Ou mais tarde, não sei bem
Ou quem vá ou quem vier
Não importa, quem quiser
Vai ter muito que ‘sperar
O amor que vence tudo
Volta e meia fica mudo
No seu canto a repousar
Mas não queiras acordá-lo
Com sineta ou com badalo
Co’ a desculpa da Saudade
Nosso amor está cansado
É de tanto ter amado
Vai dormir até mais tarde
E na hora que decida
Regressar, enfim, à vida
Por questões de sensatez
Imagina só a fila
Só à ‘spera de quem diga
Que te amo outra vez
Edição 856 (28/09/2023)
Um tudo ou nada qualquer coisa
Foto de Carlos Paiva
O Nada é sempre Tudo,
Assim se cumpre a promessa
De mudando como eu mudo,
No fim, a Nada se regressa.
Se tudo o que é
Em si jamais subsiste,
Por mais voltas que se dê
É não sendo que se existe.
A Vida que temos em si
Mais não é do que quimera.
Pensamos ser, sim,
Mas o que somos já era.
Tudo é feito da matéria
De que o Mito se constrói,
E a Vida, p’ra ser séria,
Requer sempre o seu herói.
Sempre ao Nada se retorna,
Entretidos com enganos,
Tal aqui na plataforma,
Sem dar conta, revezamos.
No comboio em que parto
O vagão vai sempre cheio,
Devia ter-me apeado
Num desejo passageiro.
Do sentimento à janela
Da paisagem que vislumbro,
Para ser mas tão mais bela,
Fecho os olhos… vejo Tudo!
Edição 855 (14/09/2023)
Nau frágil
Rasteiro ao chão
Vai em procissão
Meu ‘spírito só
Meu ‘spinho cruel
Caminho de fel
Desfeito no pó
Perdeu a razão
Largou-se de mão
De quem lha não deu
Soltou-se o cordel
Saiu num batel
O Sol se fez breu
Na noite em que vais
As pedras do cais
Ai choram por ti
Na vez do farol
Nasceu outro Sol
Já eu te não vi
Lonjura abismal
Ferida com sal
Do mar que a levou
Arrasta-se o Ser
Na dor de querer
Amor que afundou
O mar não tem pé
Do fundo que é
Defunto se faz
Eu sou o navio
Que nunca partiu
Nem quer que te vás
Tão longe é a luz
Do chão em que pus
Meu peito a chorar
Além já não foi
Saudade que dói
De não t’ encontrar
Amar já não quer
Lá onde ‘stiver
Tão só naufragou
Pois lanço ao mar
A dor de lembrar
Quem mais não voltou
Edição 854 (27/07/2023)
Um Tudo ou Nada
Foto de Carlos Paiva
O Nada é sempre Tudo,
Assim se cumpre a promessa
De mudando como eu mudo,
No fim, a Nada se regressa.
Se tudo o que é
Em si jamais subsiste,
Por mais volta que se dê,
É não sendo que se existe.
A Vida que temos, em si,
Mais não é do que quimera:
Pensamos ser, sim,
Mas o que somos já era.
Tudo é feito da matéria
De que o Mito se constrói,
E Vida, para ser séria,
Requer sempre o seu herói.
Sempre ao Nada se retorna,
Entretidos com enganos,
Tal aqui na plataforma,
Sem dar conta, nos revezamos.
No comboio em que parto
O vagão vai sempre cheio,
Devia ter-me apeado
Num desejo passageiro…
Por fim, do sentimento à janela
Da paisagem que vislumbro,
Para ser mas tão mais bela,
Fecho os olhos… e vejo Tudo
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