António Moniz Palme (Ed. 676)

A Revoltante indiferença internacional perante o que se passa na Nigéria- 3º Parte

Os ataques fundamentalistas em Paris e na Bélgica provocaram naturalmente enorme celeuma nos meios políticos e natural reacção dos órgãos da imprensa, escrita e falada. Ora, perante o espectáculo mediático que foi exibido, inclusivamente pelos responsáveis europeus, como é possível que a imprensa e os bem pensantes que nos governam se calem com o que se está a passar na Nigéria, com o assassinato de mais de duas mil pessoas, onde se incluem mulheres, velhos e crianças?.

Além do silêncio da imprensa, ainda não houve inexplicavelmente qualquer iniciativa do Conselho de Segurança.

Convém prestar um esclarecimento aos leitores sobre assunto tão grave.

A Nigéria é um país africano situado na bacia do Níger e Benué que, em 1 de Outubro de 1960, chegou à independência, no seio da Commonwealth. Logo se manifestaram divergências entre as populações da parte Setentrional e Ocidental, habitadas por gente das etnias Hausa, Fula e Yoruba, e da parte Oriental, habitada pelos Ibos. Essas divergências provocaram uma guerra civil no novo país, a chamada Guerra do Biafra, tendo acabado em 1966 com a derrota dos Ibos, que pretendiam separa-se da Nigéria e constituir um novo país.

Contudo, desde o fim desse conflito até agora as coisas não têm corrido bem, sendo alimentada a instabilidade pela corrupção das elites provocadas pela exploração do petróleo e das demais riquezas minerais locais, acrescida pelo aditamento de um novo condimento à confusão reinante, o fanatismo religioso muçulmano.

Na Nigéria, existem cerca de trinta milhões de muçulmanos e cerca de três milhões de cristãos.Com as divisões políticas entre as diversas áreas, apareceu um grupo terrorista chamado BOBO HARAM que iniciou uma desgraçada guerra civil, matando em nome de Maomé, os muçulmanos não fundamentalistas e os cristãos.

Recentemente, e é esse o motivo do meu indignado protesto, esse grupo assassinou cerca de duas mil pessoas, como já referi, e finalizou a sua actuação criminosa utilizando uma criança de dez anos como bomba.

Assim, existe um clima de terror e de perseguição no Norte da Nigéria, dominada por esse grupo, perante o inexplicável silêncio de Lagos, a sua capital, do presidente nigeriano, Goodlouck Jonahtam e do próprio Conselho de Segurança da ONU.

Quanto ao primeiro, que anda em campanha eleitoral e que é acusado de corrupção e de má gestão dos interesses nigerianos, calcula-se que veja a confusão e o ambiente de terror existente como uns aliados, pois com o caos existente e com o medo que aterrorizou toda a população, após os sangrentos acontecimentos, ninguém do Norte e do Interior do País se deslocará para votar fora do local onde vive e, deste modo, o presidente com a ajuda, indirecta dos criminosos do Grupo Bobo Haram, voltará a ganhar as eleições com os votos dos apaniguados e das forças armadas que significativamente não têm mexido uma palheira para proteger as populações.

À primeira vista, parece haver um simples conflito entre muçulmanos e cristãos, mas o problema é bem mais complexo. No fundo, estamos perante uma elite dominante e corrupta, controladora da exploração do petróleo e das matérias primas, com uma crença religiosa indefinida, a não ser tratar dos seus interesses meramente pessoais, desviando o que podem e esquecendo os interesses da comunidade, nomeadamente o bem estar das populações esquecidas do Norte e do Interior.. Conselheiros militares internacionais e forças especiais fizeram um levantamento da situação na Nigéria, mas hesitam em colaborar com um exército com uma enorme tradição de violação dos direitos humanos e metido até mais não na política partidária.

E a Europa, que tem o dever moral de proteger os interesses das populações africanas, que tem feito?. Nada, para não dizer absolutamente nada. Por sua vez, o Conselho de Segurança da ONU.tem-se remetido a um cómodo silêncio. Ora, o Conselho de Segurança, pelo menos, teria que fomentar a criação de um projecto prioritário de investimentos nas regiões mais pobres da Nigéria, determinando orientações que tentassem acabar globalmente com a corrupção governamental e do exército que a sustenta. Esperamos que os líderes das Nações Unidas se unam à volta de um projecto da salvaguarda das pobres populações nigerianas.

Os portugueses que conhecem a problemática africana à custa de sangue suor e lágrimas assim o esperam.

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Redação Gazeta da Beira