António Moniz Palme (Ed. 717)

Finalmente, começam os responsáveis deste País a não esconder a figura de um dos maiores Homens Portugueses do Século Passado – 1ª parte

Morreu já em 1954, o Cônsul Português, Aristides Sousa Mendes que, durante a Segunda Grande Guerra Mundial, salvou dezenas de milhares de pessoas, não cumprindo uma circular hierárquica recebida antes do início desse conflito mundial, fazendo tábua rasa do seu iníquo conteúdo, que decretava que todos os pedidos de entrada no território português, tinham que ser autorizados UM a UM. Explicando melhor:- Por legislação anterior ao início da Segunda Grande Guerra, as autoridades portuguesas eram obrigadas a exigir uma licença passada caso a caso, pelo Ministério, para qualquer pessoa que pretendesse passar a fronteira, o que tornava inviável a entrada, no território português, de quem quer que fosse, numa situação de emergência. Se antes do início do conflito, tal disposição legal era tolerável, posteriormente passou a ser inconcebível num País Europeu, cuja maioria da população se dizia cristã e humanista. Na verdade, sabia-se bem que todos os dissidentes alemães e dos países dominados pelos nazis, bem como os judeus dos países ocupados pelas tropas de Hitler, vinham fugindo à frente das baionetas dos exércitos invasores, e tinham que atravessar a fronteira gaulesa, sem hesitações, sob pena de serem passados pelas armas, sem dó nem piedade. Ora, Sousa Mendes, não cumprindo com esta absurda exigência, atendendo às circunstâncias concretas existentes, colocou os seus princípios humanitários e cristãos acima de todas as conveniências pessoais, dando uma significativa lição ao Mundo. Claro que foi punido pela sua desobediência, ficando na miséria Ele e a numerosa família, perante o espanto do Mundo Livre…

Devo dizer que este beirão, formado em direito pela Universidade de Coimbra, tinha valores sólidos, que pautaram a sua vida enquanto peregrinou neste mundo. Era monárquico e católico, acreditando na liberdade de pensamento e na democracia, numa altura em que o republicanismo maçónico imperava na governação. Era um homem fora de vulgar de corajoso, um fidalgote de província com um código de honra muito especial, moldado por aquilo em que acreditava. Por esse motivo, após o assassinato de Sidónio Pais, os responsáveis, não contentes com o crime mandado praticar contra um político amado e querido pela maioria esmagadora da Nação, iniciaram uma caça às bruxas, procurando suprimir tudo o que não fosse da mesma seita e cor política. E o Cônsul, apesar de estar bem longe, em Curitiba, no Brasil, a desempenhar as suas funções profissionais, foi colocado inexplicavelmente na situação de disponibilidade por ser considerado suspeito. De tal iniquidade, resultou ficar com o seu vencimento significativamente reduzido. Tal injusta punição durou até 1921, altura em que finalmente foi nomeado para S. Francisco da Califórnia e mais tarde para o Consulado do Maranhão. Em 1927, foi nomeado cônsul em Vigo, na vizinha Espanha, onde acabou por receber os maiores louvores pelos serviços prestados. Vários cargos exerceu nos diferentes países com quem tínhamos relações diplomáticas, tendo sido sempre alvo de grandes elogios pelo seu desempenho profissional. Muito mais tarde, foi colocado em Antuérpia. Entretanto, igualmente ao que aconteceu com a maior parte dos portugueses, teve muita esperança no movimento do 28 de Maio, como confidenciava aos seus amigos, mas depressa o atingiu a desilusão, desabafando a sua profunda tristeza com a nova situação política, que estava a trucidar o desejo de liberdade e de modernidade política dos mais esclarecidos. Claro que, durante a Segunda Grande Guerra, a facção portuguesa germanófila, que tinha imenso peso na conjuntura, igualmente ao que se tinha passado na Primeira República, começou a procurar afastar o Cônsul da carreira ccconsular. Os olheiros do regime andavam permanentemente sobre a sua pessoa, para aproveitarem qualquer oportunidade para o tramar e o prejudicar profissionalmente. E as perseguições foram tantas que até lhe levantaram problemas pela sua vinda a Viseu, ao enterro do sogro, em 1 de Novembro de 1937, sem o cumprimento de todas as formalidades exigidas, isto é, requereu superiormente a autorização para se deslocar a Portugal e não esperou pela resposta burocrática a tal pedido, que seria recebida muito depois das cerimónias fúnebres, onde pretendia naturalmente estar presente para acompanhar a Mulher e a Família. Perante as injustiças permanentes e a má vontade que pressentia, e de que se queixava aos seus amigos íntimos, escreveu uma carta a Salazar, em 1938, solicitando a sua promoção a chefe de missão de 2ª classe e a sua colocação na Legação Chinesa ou Japonesa, paragens suficientemente distantes para dissuadirem a má vontade dos invejosos e dos políticos medíocres do regime que não gostavam da sua maneira independente de se comportar. Em resposta, foi colocado em Bordéus, uma cidade fronteiriça, ponto nevrálgico europeu onde, pouco tempo depois, todos os foragidos do regime nazi, convergiram para tentar sair de França e para salvar a vida. Tal colocação demonstra a consideração tida pelos seus superiores em relação à sua competência, pois somente alguém com um excepcional nível cultural e com enorme poder de decisão, poderia ocupar um cargo, eivado de um melindre diplomático permanente, originado pelo conflito mundial e pelos consequentes refugiados políticos.

Ora, foi este grande português que foi agora condecorado, na sua terra natal, em Cabanas de Viriato, perto de Alcácer do Sal. No dia 3 de Abril de 2017, a Beira Alta rejubilou de contentamento por ver feita finalmente justiça a um dos seus Filhos Queridos. Foi condecorado, na própria Casa do Passal, onde nasceu, pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade, que pediu desculpa a Aristides Sousa Mendes, em nome dos Portugueses, pelo ostracismo a que foi votado até agora pelos nossos responsáveis, contra a vontade da maioria da população, e pelas aleivosias com que tentaram denegrir a sua Honra e Respeitabilidade para o fazerem apagar da História.

Como o condecorado era licenciado pela Universidade de Coimbra, os Antigos Estudantes de Coimbra fizeram-se representar pelo presidente da Assembleia Geral e pelo Presidente da sua Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, respectivamente, António Moniz Palme e António Amaro Correia. Claro que muito recordei a figura do Meu Pai, seu amigo, que tanto sofreu por causa das perseguições feitas a Aristides Sousa Mendes.

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