A. Moniz de Palme (Ed. 658)

Um Regresso Imaginário que se transformou numa real e concreta Revisitação

Ed658-regressoImagO último fim de semana de Junho foi pródigo em alegrias para os sampedrenses que vivem e labutam fora da sua terra, bem como, claro está, para os nossos conterrâneos que actualmente fazem parte da população residente. Vivo actualmente no Porto, embora, muitas vezes, me desloque à Beira, mas não tenho um contacto diário com a minha querida Terra.

Mas voltemos ao Fim de Semana. Bem, reuniram-se em S. Pedro do Sul mais de cem pessoas da minha família, incluindo Parentela de qualquer modo ligada a Lafões. A acrescentar a esse facto, que me encheu a Alma, estive na apresentação do estupendo livro do distinto médico, Sr. Dr. Manuel Guimarães Rocha, “Regresso Imaginário”, escrito com significativa sensibilidade, em que a saudade e o amor ao seu chão sagrado respiram por todos os poros. O cantado positivismo dos clínicos, neste caso, foi mandado às malvas e a observação, embora de um jovem, revelou-se bem madura. Essa circunstância tinha eu a certeza que aconteceria. Quando ambos éramos muito jovens, no fim das festas e das reuniões de amigos, com a língua bem solta por um copinho de Lafões, muitas ideias políticas e sociais trocávamos, com a mesma facilidade com que trocávamos as figurinhas das colecções de futebol, compradas nos rebuçados da Lucília da Companhias. Só mais tarde me apercebi que tinha preocupações e um poder de observação precoce para a minha descuidada idade. Pelos vistos, o Manel Rocha era da mesma fazenda, olhando para o fundo das coisas e, como um artista plástico, vendo para além da realidade. O livro apresentado pela Srª Drª Manuela Ferreira Leite com palavras que traduziam bem o cerne da obra apresentada, foi por mim lido gostosamente nessa mesma noite, de cima para baixo e de baixo para cima, com a certeza que iria perder, quando o acabasse, o agradável prazer quase sensual que as suas páginas me estavam a favorecer. Mas, a apresentação da “Imaginária Revisitação” coincidiu com o encontro de velhos amigos, que quase nunca vejo ou mesmo não via há dezenas de anos. Que mundo de recordações, Meu Deus!!!. Sofri um impacto perturbador. Senti-me bem mais novo e completamente realizado, com aquela simbiose da minha memória com a realidade. Até os versos do vate lafonense José Valgode me fizeram levitar para outros espaços siderais, esquecendo momentaneamente as realidades da vida e as suas amarguras Mas, o encontro da memória, da saudade e do mundo real, não acabou por aqui. No dia seguinte, na Câmara Municipal foi homenageada a memória do Grande Sampedrense e meu querido amigo Zeca Barros, com a presença da sua Mãe, Srª D. Margarida Barros, e restante Família. Como nos versos escritos por Sua Mãe, direi “Agora que vives no Céu, protege os teus entes queridos”, onde naturalmente se incluem os seus amigos. Homenageada foi, igualmente, a figura do Sr. Dr. Pinho Bandeira, homenagem onde incluo, como fez o filho Eng. João Bandeira, a grande Mulher que foi a Srª D. Conceição Athaíde Amaral. Por último, representando os que em constante diáspora deixaram a terra natal, foi homenageado o Sr. Comendador António Cardoso. Novamente a simbiose do passado e do presente criou a química necessária para a realização de umas bodas integrais de felicidade, deixando os presentes encantados. Que fim de semana espectacular, como diz agora a gente mais nova…!!!

Ainda passei por um restaurante, O Camponês”, onde sempre comi a melhor vitela do mundo, que é a de Lafões, nomeadamente a de Manhouce, que até me fazia ouvir a voz inebriante da minha cantora preferida, a bonita Isabel Silvestre. Todos os comensais adoraram. Só me faltava agora ir aos carrosséis, aos carrinhos e às barracas de comes, como antigamente, provar o caldo verde com a saborosa tora, escondida entre as couves, e a bifana com batatas fritas. E fui mesmo, com os meus filhos e netos, reviver as Festas da Vila do meu tempo. Festas essas bem organizadas pelo Município, agora implantadas em frente da Câmara Municipal e da Igreja do Convento. Adorei, principalmente os numerosos contactos com gente simpática, que por serem muito mais novos, eu já não controlava, mas que me vinham falar e esclarecer quem eram. Foi a forma de claramente reconhecer que as boas qualidades dos meus conterrâneos se mantêm com o decorrer dos tempos. Será do vinho de Lafões? Não acredito. Não tenho dúvida alguma que são os bons valores que os mais velhos vão transmitindo às gerações mais novas, através dos seus exemplos de trabalho, de espírito de sacrifício, de honestidade, de respeito e do contínuo espírito de aventura endémico que lhes corre nas veias.

Peço desculpa do termo utilizado Festas da Vila, mas a expressão está demasiadamente arreigada às minhas circunvoluções cerebrais.

Dizer Festas da Cidade era uma autêntica violência para a minha pobre pessoa. Ainda por cima, nos cantados desafios de futebol entre a Ponte e a Vila, como evoca Manuel Rocha nas páginas do seu livro, como eu vivia na fronteira entre as duas zonas territoriais de S. Pedro do Sul, Vila e Ponte, e como, além do mais, era mau jogador de futebol, tanto jogava por um lado como por outro, devido à minha natureza de fronteiro e às minhas poucas qualidades futebolísticas. Como consequência, integrava a equipe onde alguém faltava. Digam-me lá, como poderei aceitar o banimento do termo Festas da Vila ??!!!

Que saudades do passado e da Minha sempre bonita Terra.

• António Moniz Palme 2014

————————————————————————————————

Mais artigos

Cemitérios e a sua imprescindível faceta social – 1ª parte
Vasco Graça Moura, uma explosão intelectual permanente
A defesa dos interesses portugueses, através da comunicação social – 3ª parte
Lançamento de um bom livro, que veio certificar o alto nível intelectual do seu autor
Amêijoas à portuguesa fora de portas – 2ª parte
Quando fora do território nacional vemos a influência da nossa história e da nossa gente, sentimos um profundo e legítimo orgulho – 1ª parte
A maldita influência da Moda Política praticada além fronteiras
Somos sempre uns eternos pacóvios perante o que vem lá de fora, mesmo que nos prejudique gravemente…! (2)
E como não podia deixar de ser, um toque refinado pseudo francês (5)
As Morcelas e demais Enchidos e a nossa Beira (4)
Novo cenário para esta tragicomédia, com artistas bem do nosso agrado: Os enchidos (3)
Os preliminares da “Matação” e a parte social desta função (2)
O Porquinho caseiro faz parte da família (1)
O espírito do mal em luta contra os Valores Fundamentais
O futuro das nossas Reformas e Pensões e as dúvidas sobre a sustentabilidade da Segurança Social. Quem é responsável pela actual situação?
A maldita influência da Moda Política praticada além fronteiras  (parte 1)
As frustrações do dia a dia e a violência desportiva

Redação Gazeta da Beira