António Moniz de Palme
As competições desportivas são uma boa forma de distracção para ambos os sexos, tanto da gente mais nova como da gente mais velha. Quando se apanha ar fresco e sol quanto baste, numa competição desportiva, mesmo como espectadores, esquecemos os problemas diários que inconscientemente arrastamos atrás de nós. Pelos ecrãs da televisão, quando são transmitidos desafios de Inglaterra e de Espanha, e só falo nesses pois são os jogos no estrangeiro preferidos pela maior parte dos telespectadores, todos podem observar que os estádios estão cheios de gente de todas as idades, tanto homens como mulheres, com uma grande componente de criançada, que vibra durante todo o desafio e, no final, mesmo entre lágrimas de desgosto bate palmas a ambos os contendores, quer o seu clube ganhe, quer o seu clube perca.
O espectador português admira tal situação, o ambiente civilizado que se vive e que atenua qualquer excesso de uma réstia de fundamentalismo desportivo que sempre existe para mal dos nossos pecados, acompanhado por palavrões sem jeito e por desmandos e brutalidades gratuitas. Na verdade, em todos os países existem pessoas sem educação, cujos únicos valores são os interesses imediatos e primários do seu clube idolatrado, pondo de lado o respeito pelo seu semelhante e até a integridade física de um suposto admirador do clube rival. Mas esses são uma minoria. Normalmente uma variante de marginais, vingando-se das frustrações do dia a dia. Porém, os governos dos países civilizados metem na ordem essa casta de energúmenos que, à pala do desporto, cometem excessos sem conta, não tendo limites na sua selvajaria, agredindo, destruindo e aproveitando para desviar o que não lhe pertence, já que o seu clube perdeu. Quando tal comportamento ultrapassou determinado limite, os responsáveis da Inglaterra e da Holanda, como punição, meteram na cadeia esses artistas e proibiram as respectivas equipes de participar em competições fora de portas, isto é, no estrangeiro, antes mesmo de os Organismos Internacionais terem tomado atitudes.
Cá em Portugal, em matéria desportiva, as cenas tristes sucedem-se, raramente sendo castigados os seus autores
Que tristeza a necessidade do preventivo aparato policial no dia dos grandes jogos do campeonato. Que miséria de país em que a escumalha, encobrindo-se à sombra de um qualquer emblema desportivo, agride o parceiro, atira petardos e estraga e destrói selvaticamente tanto a propriedade privada como a pública, que é de todos nós. Que gente bárbara que a coberto do desporto incomoda quem está a trabalhar e a ganhar o sustento para a sua família!!! Que vergonha e nojo me causam!!! Claques que atiram pedras e partem telhados e vidros de Estações do Caminho de Ferro, de Edifícios Públicos, de Estações de Serviço, as montras das lojas por ponde passam, apenas por incompreensível resposta ao facto de o seu clube ter perdido. Na verdade, no regresso a casa, após a derrota do seu clube, agridem o pessoal das estações, os revisores e até as pobres guardas de passagem de nível, muitas vezes gente já de uma certa idade. Claro que os selvagens encobrem-se uns aos outros e, ao fim e ao cabo, ninguém é responsável pelas agressões cometidas e pelos estragos feitos no património e nos bens alheios. E a colectividade despende milhares de euros em reparações e em substituições de equipamentos destruídos e avariados propositadamente.
Obviamente, todos têm plena legitimidade para me encostarem à parede e me questionarem sobre de quem é a responsabilidade destas tristes situações.
Em primeiro lugar, temos todos que assumir tal situação, que se traduz na falta de educação da nossa gente. Depois, a falta de categoria de muitos agentes desportivos e de responsáveis de clubes que aparecem a representar os mesmos nos órgãos de comunicação social.
Como se pode tolerar que um alarve, num programa desportivo da televisão, opine que é necessário manter a agressividade nas relações desportivas? Pelos vistos, sempre que o clube de um fulano chamado Gomes da Silva perde, os adeptos que ouvem estas baboseiras, para salvar a honra do convento, devem apedrejar, bater destruir o que puderem. E como regra, os outros Clubes respondem na mesma moeda.
Como se pode tolerar que um dirigente, a quem se exige mais responsabilidade, no fim de um jogo não aperte a mão ao dirigente do clube da equipe vencedora, colocando mal o clube que representa, bem como os associados desse clube?
Como se tolera que dirigentes de clubes, ditos grandes, estejam permanentemente a acirrar os adeptos dos seus clubes para estes entrarem em confrontações com os adeptos dos clubes adversários? Enfim, uma vergonha constante, que afasta dos campos de futebol as pessoas civilizadas. Ora, quem assim se comporta, deve ser responsabilizado pelo efeito explosivo das suas palavras nos associados dos clubes que representam.
Mas não, esta falsa democracia tem medo de actuar contra os biltres que dão cabo do desporto nacional. E com a eterna promiscuidade da política e do desporto, têm medo de perder votos e engolem todas as trapalhadas dos responsáveis desportivos.
Vai chegar altura em que ninguém está para assistir a um jogo de futebol, sendo os próprios adeptos a acabar por correr a gentinha que os dirige, pois criam um clima de crispação permanente para entreter os basbaques, enquanto desviam a atenção dos maus resultados obtidos e , no escuro, negoceiam os passes dos jogadores, aproveitando a confusão para meter ilegitimamente dinheiro ao bolso. “Voilá…”, o panorama tem que mudar custe o que custar…
Assim espero, para bem da sanidade desportiva do meu País.
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