A história do 25 de Abril, não se pode fazer sem a história do 25 de Novembro
• António Moniz de Palme*
Edição 822 (24/02/2022)
A história do 25 de Abril, não se pode fazer sem a história do 25 de Novembro
O General Pires Veloso, após o 25 de Abril, foi governador de S. Tomé e, mais tarde, considerado o Vice-Rei do Norte, tendo chefiado o 25 de Novembro
Bem afirmou o Sr. D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto que a história do 25 de Abril não se podia fazer sem a história do 25 de Novembro. Na verdade, assim foi, pela situação provocada, pelos caminhos traçados à revelia do Povo Português, por alguns militares e pelos partidos marxistas. Com estes actores na ribalta política, a Democracia em Portugal acabaria em três tempos, os campos de concentração ocupariam, em cada local, os campos de futebol, os fuzilamentos seriam aos milhares e os elementos da Igreja igualmente não escapariam, como aconteceu em muitos países em que os comunistas tomaram conta do poder. Felizmente, o chamado Verão Quente, teve um epílogo feliz. A generalidade dos militares meteu na ordem os quartéis e a esmagadora maioria do Povo saiu à rua para defender a Democracia e a Liberdade e, se necessário fosse, responderia pelas armas às ameaças do uso da força vociferada por alguns grupos políticos, não satisfeitos com a nascente Democracia e a concreta Liberdade que tão bem acolhida foi, no seio da colectividade portuguesa. E nesse processo não posso deixar de evocar toda a Província, nomeadamente a cidade do Porto, tradicional defensora da Liberdade, que se assumiu como epicentro da retoma verdadeira do processo revolucionário, como referiu o Presidente da Câmara do Porto Rui Moreira, na homenagem feita ao General Pires Veloso. Recordo que Pires Veloso, no Norte, Jaime Neves e Ramalho Eanes, entre outros, no resto do País, foram os elementos que recuperaram o exército português, não permitindo que deixassem de constituir uma força ao serviço da colectividade portuguesa e não um grupo armado ao serviço do extremismo partidário e de uma abjecta ditadura. Na verdade, a partir do 11 de Março de 1975, a situação política deteriorou-se. O Povo vivia no terror causado pelas prepotências governamentais, pelas prisões sem culpa formada, pelo controlo da imprensa e pela perseguição aos que teimavam permanecer livres, perante o radicalismo instalado aos vários níveis do poder, como era o caso da Região Militar do Norte, chefiada por Eurico Corvacho, que não hesitou em mandar executar prisões arbitrárias sem qualquer justificação, em ordenar sevícias para aterrar os que se opunham aos seus princípios estalinistas e em permitir a continuação de fuzilamentos simulados como meio dissuasor eficiente de impedir a actuação em prol da Liberdade. Vivi esses tempos conturbados como actor de primeiro plano. Apesar dos jornalistas estrangeiros, que nos visitavam para verem a raridade de um país europeu ocidental, dominado pela ditadura soviética, nos aconselharem a fugir, pois todos os que se opusessem ao regime que se avizinhava, seriam passados pelas armas, como aconteceu em todos os países em que os comunistas tomaram conta do poder. Um que insistia que devíamos sair imediatamente do País, foi um jornalista japonês que me entrevistou, na sede do partido onde eu estava então filiado. Por sua vez, os jornais do Estado estavam proibidos de publicar artigos e opiniões fora do sistema estabelecido pelos próceres governamentais. E para tal se verificar não é preciso fazer grandes investigações, pois um jornal portuense, propriedade do Estado e que ainda existe, não publicava os artigos de autores que a engrenagem política comunista não aceitava. Assisti às prisões arbitrárias de gente pacífica, de agressões feitas por grupos armados aos trabalhadores que se revoltavam contra as ordens não democráticas dadas por pseudo chefes políticos não eleitos e que assumiam funções ilegítimas, nas empresas privadas, com a cobertura do poder. Mas as populações de toda a Província e nomeadamente do Norte e, muito especialmente das terras do Porto, sempre tiveram fraco estômago para aturar qualquer tipo de ditadores. Historicamente, tinham morrido para resistir aos franceses, na altura das invasões, além do mais, tinham lutado pela liberdade constitucional no Cerco do Porto e, por último, através dos tempos tinham mantido absoluta autonomia, obedecendo apenas ao seu rei e não a tiranetes de pacotilha. Não era agora que se iam subjugar às ordens de grupos que teimavam exercer o poder sem serem sufragados pelo voto popular. E a teimosia desses iluminados ia-lhes saindo cara. Do Norte ao Sul, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores, a vontade popular soberana levantou-se como um todos contra a prepotência. E se o comportamento de alguns iluminados, forçado pelas circunstância, não tivesse arrepiado caminho e aceite prontamente a Liberdade, querida pela generalidade, acabariam certamente muito mal.
Enfim, o Sr. D. António, então Bispo da Cidade Invicta, teve toda a razão quando declarou que o 25 de Abril sobreviveu por ter sido enxertado pelo 25 de Novembro.
António Moniz Palme – 2022 – Porto
* Advogado
Mais artigos:
• O Cônsul Aristides Sousa Mendes e a maledicência do costume (Ed. 821)
• Ciclistas e outras reconfortantes lembranças (Ed. 820)
• O Mundo anda às avessas e a gente que ature os seus sublimes disparates (Ed. 815)
• Edições das Crónicas do Dr. António Moniz de Palme (Ed. 745 à 814)
• W.C O drama do despesismo das latrinas
• A vida democrática está a sofrer curto circuitos intoleráveis (3ªparte)
• Os Juízes e a legislação incompreensível que nos rege. – 2ª parte
• O Papa Pio XII e as suas atribulações
Comentários recentes