Portugueses com “P” Grande (1)
Quando fora do território nacional vemos a influência da nossa história e da nossa gente, sentimos um profundo e legítimo orgulho -1ª parte
A crise financeira que atravessamos, nomeadamente as sequelas dos permanentes cortes de que são vítimas os vencimentos e reformas atiram-nos, não poucas vezes, para situações de constrangimento moral, sofrendo solidariamente os problemas da colectividade, nomeadamente dos que têm vencimentos mais baixos e famílias numerosas. Mas, tal vai-se suportando com a ajuda de Deus e a protecção da Nossa Senhora de Fátima, esperando que uma rabanada de bom senso ilumine os Responsáveis Nacionais e da Comunidade Europeia e a viragem, no ciclo de decadência do Sul, traga rapidamente o bem estar. Apesar da nossa conformação com a inevitabilidade conjuntural da actual situação económica, não podemos permitir que, nas nossas barbas, se continue a enriquecer sem justa causa à custa do erário e a destruir os valores que são aceites pela maioria esmagadora de portugueses. Na verdade, estão estes permanentemente a ser violentados pela estratégia das malditas seitas que nos oprimem. Tal, torna o Povo infeliz e provoca uma revolta que progressivamente está a levedar dentro de cada um. Só os cegos é que não vêm ou não querem ver por estarem bem acomodados nas prebendas dos lugares públicos.
Ora bem, sem fugir com o fio à meada, e igualmente ao que se passa com a maioria das Famílias Portuguesas, tenho filhos a esgravatar o seu sustento fora do País, o que me vem obrigando a passar o Natal na Califórnia, a pedido de um deles..
Lá, tive a possibilidade de contactar com o espírito da diáspora portuguesa, na costa ocidental da América, onde vivem desde há séculos centenas de milhares de nossos compatriotas.
O primeiro navegador a aportar àquelas paragens, por volta de 1542, foi o português João Rodrigues Cabrillo, tendo para lá vogado, posteriormente, famílias inteiras que ali desenvolveram as suas actividades, criando uma próspera colectividade lusitana, integrada perfeitamente no território de um país estranho. Inicialmente, baleeiros, que decidiram ficar pela Califórnia e, posteriormente, na Grande Corrida ao Ouro, milhares de comerciantes e agricultores portugueses, para lá foram estabelecer-se para fornecer os bens necessários aos garimpeiros. Os Vales de S. José e de S. Joaquim foram agricultados pelo suor dos nossos emigrantes que, ajudados pela mão-de-obra de gente hispânica, criaram naquelas terras uma riqueza agrícola notável. Já no romance “Valley of the Moon”, Jack London enaltece as qualidades do agricultor português, quando as personagens Billy e Saxon, caminhando por San Leandro, se interrogavam como era possível os “Porchugeeze” conseguirem ter sucesso onde os americanos falhavam!!!. Hoje, os seus descendentes, com apelidos portugueses, são os grandes produtores dos Estados Unidos. Para quem era considerado de baixo nível intelectual, não foi, na realidade, nada mal. Por outro lado, os pescadores portugueses, com o seu espírito de aventura, instalaram-se um pouco por toda a costa, sendo os responsáveis pela captura , inicialmente de baleias e hoje, do peixe que abastece não só os mercados californianos como os mercados de toda a América. Muitos americanos, de todas as origens, vão procurar os aglomerados populacionais, habitados por portuguesas para aí se deliciarem com peixe capturado pela nossa gente e, por outro lado, para saborearem pratos tradicionais lusitanos, cuja antiguidade das receitas se perde na lonjura dos tempos. E se tal não bastasse, perante um liceu pomposamente apelidado de D. Dinis, uma Igreja das Cinco Chagas, um teatro Gil Vicente, um hospital de Nossa Senhora de Fátima, bandeiras de Portugal hasteadas pelos centros de Santa Clara, Half Moon Bay e Pescadero e casas de amigos de clubes de futebol portugueses, ficamos agradavelmente emocionados e com os olhos marejados de lágrimas de legítimo contentamento pela nossa nacionalidade.
Mas, continuemos a descrever o colorido filme que me impressionou vivamente. Subindo pelo litoral, acima de S. Francisco, passada a zona vinhateira de Napa e de Sonoma, esquecida a existência das sempre iguais auto estradas, percorremos caminhos florestais cheios de curvas, que nos lembram a estrada do Vale do Vouga. Por entre matas encantadas de sequóias milenares, de uma beleza sem par, chegámos às praias para onde os portugueses, nomeadamente açorianos, arribavam para pescar baleias. Na verdade, no mar alto, podem observar-se os seus sintomáticos repuxos a passar ao largo e muitas vezes o seu volumoso corpo a brilhar à superfície. Não podemos deixar de parar extasiados com o cenário que se desdobra à nossa frente. O espectáculo é deslumbrante, podem crer.
Após a proibição da caça às baleias, a comunidade portuguesa dedicou-se a outras actividades e continuou a florescer rapidamente, sendo respeitada por todos devido às suas altas qualidades de trabalho e de seriedade. E o efeito da sua influência está estampado por todos os cantos, sendo motivo do nosso profundo orgulho.
• António Moniz Palme
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Redação Gazeta da Beira
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