FAUNA e FLORA de LAFÕES

• Nuno Campos*

Edição 857 /12/10/2023)

Quercus orocantabrica, é uma nova espécie de carvalho

O carvalho-galaico (Quercus orocantabrica) apresenta algumas diferenças em relação aos robles europeus (Quercus robur). Foi muito recentemente considerado uma nova espécie, fruto do trabalho fantástico realizado pelo investigador português, Carlos Vila-Viçosa.

 

O que era considerado como o nosso carvalho-alvarinho (Quercus robur) revelou-se uma das principais surpresas, conta Carlos Vila-Viçosa. “Vimos uma grande divergência genética dos carvalhos-alvarinhos face ao seu congénere europeu Quercus robur”. E as diferenças são tão notórias que dele se autonomizam duas espécies: Quercus orocantabrica, que substitui o Quercus robur, e Quercus estremadurensis, designados pelos nomes comuns carvalho-galego e carvalho-da-estremadura.

O carvalho-galego (Quercus orocantabrica) é uma árvore de folha caduca que pode elevar-se a mais de 30 metros. Diferencia-se face ao Quercus robur por ter, entre outras distinções, folhas mais largas e brilhantes, com maior número de lóbulos e um pecíolo (parte que liga a folha ao ramo) mais longo. A espécie está presente no Noroeste de Portugal e Espanha, sendo a sua zona privilegiada de distribuição a região da antiga Galécia, mas distribui-se também pelo norte peninsular, Serra de Sintra e São Mamede em Portugal.

Tinha sido descrita, em 1937, uma subespécie similar em Portugal, então nomeada de Quercus robur subsp. broteroana. Em 2002, foi também descrita uma espécie nativa em Espanha, a que chamaram Quercus orocantabrica. Concluiu-se que estas descrições correspondem a uma única espécie, pelo que a designação inicial de espécie (Quercus orocantabrica) torna-se prioritária na taxonomia relativamente à da subespécie, explica o investigador.

https://www.facebook.com/carlos.vilavicosa?__cft__%5b0%5d=AZVkeoXHmtgViJj_V1x6wkN0qwKWfMM2ifLKxQ0ds2O_qN_twdtD5LJje0kJjV5PJsNfqXIwtZ4VUGUuMvV01lHHOaszxAHeqHbU33i-Pq8BQaczGpUlPlJ1jUYKHmZ1K-R5rf_JwcRzHh0oHaY1NANl-2YrdIwBYmEqUfRVL1qVtw&__tn__=-%5dK-R

Carlos Vila-Viçosa, autor que tem feito um trabalho notável e de enorme mérito no estudo dos carvalhos portugueses.

A espécie ocorre maioritariamente no Noroeste da Península Ibérica, na Galiza e Norte de Portugal, estando ausente nas terras altas, na Terra Quente transmontana e nos planaltos do interior transmontano; na região Centro ocorre a Norte das serras da Cordilheira Central, mas também é abundante em alguns pontos a Sul, na serra da Gardunha e ao longo do vale do Zêzere até à região de Pedrógão, mas está ausente no Interior; a sua presença está ainda descrita a Sul do Tejo, na serra de São Mamede.

O Quercus orocantabrica adaptou-se a um clima que, apesar de estar classificado como Mediterrânico (Csb na classificação de Koppen, Verão seco com temperaturas moderadas), apresenta uma estação seca curta, com apenas um a três meses secos, precipitação estival ocasional e nevoeiros frequentes, ou temperaturas máximas médias nos meses mais quentes entre os 22 e os 28 graus Celsius; a precipitação média anual é elevada, normalmente acima dos 1000 mm, concentrada sobretudo entre Outubro e Maio. Contudo, no Norte da Galiza, a estação seca está ausente e o clima já é indiscutivelmente temperado oceânico (Cfb na classificação de Koppen).

O carvalho-alvarinho dominou as florestas nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro e ocupou vastas áreas dos distritos de Vila Real, Viseu, Coimbra, Guarda ou Castelo Branco, mas é cada vez mais raro.

Em Portugal é visível um enorme desprezo pelos carvalhos, fruto da iliteracia científica da população. Os carvalhos nacionais têm um património genético único em toda a Europa e algumas espécies correm sério risco de extinção.

Em Lafões resta-nos muito pouca floresta composta por carvalhais. Muito pela exploração florestal de pinheiro-bravo, numa primeira fase, e atualmente pela exploração madeireira de eucalipto e pela propagação de um sem número de espécies vegetais invasoras, das quais destaco as acácias.


Edição 856 /28/09/2023)

BIODIVERSIDADE – “200 espécies desaparecem diariamente”

Foto de Nuno Campos

As atividades humanas que geram poluição e alteram os habitats, e que são fonte de alterações climáticas, estão a exercer pressão sobre as espécies e os ecossistemas. Segundo estimativas da comunidade científica, um milhão de espécies de plantas, insetos, aves e mamíferos em todo o mundo estão atualmente ameaçadas de extinção. Nós por cá, em Lafões, não estamos a ser um bom exemplo. Espero que as políticas ambientais sejam cada vez mais consideradas pelas autarquias e pelos cidadãos.

 

Qual a importância da biodiversidade?

A biodiversidade é a base da vida. É tão essencial para os seres humanos como para o ambiente e a proteção do clima.

Proporciona às pessoas alimentos, água doce e ar puro e desempenha um papel importante na manutenção do equilíbrio da natureza. Ajuda a combater as alterações climáticas e permite prevenir a propagação de doenças infecciosas.

Segundo o Fórum Económico Mundial, quase metade do PIB mundial (cerca de 40 biliões de euros) depende da natureza e dos seus recursos. Os maiores setores da economia (construção, agricultura e indústria alimentar e das bebidas) dependem todos em grande medida da natureza e geram, em conjunto, quase 7,3 biliões de euros para a economia mundial.

Lafões vende Natureza. Não estará na hora de sermos muito mais incisivos no seu restauro e Conservação? Ou continuaremos a delapidar o nosso património natural negligenciando o impacto direto e indireto do homem nos ecossistemas?

 

Estratégia de biodiversidade da UE para 2030

A UE e os seus Estados-Membros estão empenhados em colocar a biodiversidade na via da recuperação até 2030. A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030 é a pedra angular da proteção da natureza na UE e é um elemento fundamental do Pacto Ecológico Europeu.

 

A Comissão apresentou a estratégia em maio de 2020. As principais ações a realizar até 2030 incluem:

  • a criação de áreas protegidas que cubram, pelo menos, 30 % da superfície terrestre e marítima da UE, alargando a cobertura das zonas Natura 2000 existentes
  • a recuperação dos ecossistemas degradados em toda a UE até 2030 mediante vários compromissos e medidas específicos, incluindo reduzir a utilização de pesticidas e o risco deles decorrente em 50 % até 2030 e plantar 3 mil milhões de árvores em toda a UE
  • a mobilização de 20 mil milhões de euros por ano para proteger e promover a biodiversidade através de fundos da UE e de financiamento nacional e privado
  • a criação de um quadro mundial ambicioso para a biodiversidade

Os países da UE adotaram conclusões do Conselho sobre a estratégia e aprovaram os seus objetivos.

O Conselho salientou a necessidade de intensificar os esforços para combater as causas diretas e indiretas da perda de biodiversidade e do declínio da natureza. Reiterou o apelo à plena integração dos objetivos de biodiversidade noutros setores, como a agricultura, as pescas e a silvicultura, e a uma aplicação coerente das medidas da UE nestes domínios.

Os ministros apelaram a que uma parte significativa dos 30 % do orçamento da UE e das despesas do Next Generation EU destinados à ação climática seja investida na biodiversidade e em soluções baseadas na natureza que promovam a biodiversidade.

 

Regulamento Restauração da Natureza

A UE está a elaborar novas regras destinadas a restaurar a biodiversidade e os ecossistemas, em consonância com os objetivos da Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030. O Regulamento Restauração da Natureza visa estabelecer medidas de restauração que abrangerão, pelo menos, 20 % das zonas terrestres e marítimas da UE até 2030 e todos os ecossistemas que necessitam de restauração, até 2050.

Tratar-se-á da primeira regulamentação centrada especificamente na restauração da natureza nos Estados-Membros da UE.

 

As regras relativas à restauração da natureza estabelecerão metas vinculativas em matéria de medidas de restauração de:

  • habitats terrestres e marinhos degradados, polinizadores, ecossistemas agrícolas, zonas urbanas, rios e planícies aluviais, florestas.

O Conselho chegou a acordo quanto à sua posição (orientação geral) sobre o Regulamento Restauração da Natureza em junho de 2023, tendo em vista as negociações com o Parlamento Europeu.


O Projeto Cobras de Portugal esteve em Lafões

No passado dia 9 e 10 de Setembro, o Grupo Cuida – Fauna e Flora de Lafões em parceria com o Cobras de Portugal, com o apoio do Município de Vouzela e da Associação Recreativa e Cultural de Santa Cruz da Trapa, promoveram uma ação de Educação e Sensibilização sobre “As 10 espécies de Serpente presentes em Portugal Continental.

Esta ação decorreu durante o fim de semana em Santa Cruz da Trapa e Vouzela, sendo composto por uma componente teórica e outra prática, visando o objetivo de disponibilizar informação para que possam identificar e lidar com serpentes, de forma a sensibilizar para a sua conservação e permitir uma interação segura entre humanos e cobras. Esta ação foi dirigida à população local, mas contámos com a participação de pessoas oriundas de vários pontos do país e com a presença dos Bombeiros Voluntários de Vouzela.

A ação foi desenvolvida pela bióloga e ilustradora científica Davina Falcão, que nos elucidou sobre quais as espécies portuguesas de serpentes, em que regiões a sua presença é mais frequente e ainda  a distinguir uma víbora de uma cobra inofensiva – sim, ao contrário do que se pensa, nem todas as cobras são perigosas. Foi ainda apresentado por mim, o Livro fotográfico “Quem Gosta Cuida” – livro composto por fotografias de várias espécies da Fauna e Flora de Lafões.

 

Sobre as Cobras de Portugal

As espécies mais comuns em Portugal são a cobra-rateira e a cobra-de-ferradura. A primeira é a maior serpente de Portugal, podendo atingir até 2,30 metros. A segunda é conhecida por se adaptar a ambientes urbanos e, por esse motivo, é comum vê-la nas cidades. Para Davina, há uma falta de conhecimento sobre as espécies, o que resulta num sentimento de receio por parte da população. “O encontro de cobras com humanos termina na morte destes animais quando, na maior parte das vezes, as pessoas nem se cruzam com víboras”.

O truque para distinguir cobras inofensivas de perigosas está no seu aspeto. “As víboras têm um padrão em forma de ziguezague e as suas pupilas são semelhantes às dos gatos, enquanto as outras serpentes têm pupilas redondas”, elucida a também ilustradora científica. Se estas características não forem claras à primeira vista, “então é porque se encontram a uma distância que não representa perigo para o indivíduo”.

Caso o animal se encontre dentro de casa, a situação já é diferente. “O primeiro passo é remover animais de estimação e pessoas do espaço porque não se sabe de que espécie se trata. Depois disso, fechar a divisão e chamar a GNR, Bombeiros a PSP ou o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) para a retirarem em segurança”. Na possibilidade de quem encontrar a cobra se sentir à vontade com a sua presença, pode “varrê-la para fora de casa ou cobri-la com uma caixa e retirá-la do local”.

É muito natural ter medo ou “nojo” de Cobras. No entanto estas têm um papel extremamente importante no ecossistema, visto que uma das suas presas são ratos, mantendo o seu número controlado. Não mate cobras!



Edição 854 (27/07/2023)

A Salamandra-lusitânica está classificada como vulnerável

Esta é uma espécie que só existe (endémica) no Noroeste da Península Ibérica e foi descrita pelo naturalista Barbosa du Bocage, nos anos 60 do século XIX.

Trata-se de uma salamandra de pequenas dimensões – pode alcançar cerca de 15 centímetros – e destaca-se pela sua cauda comprida que, no caso dos adultos, pode corresponder a dois terços do seu comprimento total. De olhos salientes e pele brilhante, a Salamandra-lusitânica apresenta duas linhas dorsais douradas ou cor de cobre, que se unem numa única linha ao longo da cauda.

Apesar de ter hábitos terrestres, esta espécie vive nas proximidades de ribeiros, em zonas montanhosas (até aos 1400 metros de altitude), com vegetação abundante e com níveis elevados de humidade. E é precisamente junto às margens dos cursos de água que este anfíbio deposita os seus ovos. A época de reprodução decorre no período entre maio e novembro e cada fêmea pode depositar 15 ovos debaixo de pedras que estejam ligeiramente submersas, em concavidades existentes nas linhas de água, ou mesmo em grutas.

Após a eclosão, a espécie passa por um processo de metamorfose que pode demorar perto de dois anos e a sua vida terrestre prolonga-se em média por mais oito anos. Em Lafões é muito fácil encontrar esta espécie. Encontro-a facilmente na Ribeira da Landeira em Santa Cruz da Trapa, e em algumas ribeiras onde o impacto humano na contaminação de águas seja mínimo. A proteção deste cursos de água é fundamental para a sua conservação!


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