António Moniz de Palme (Ed. 702)

Uma estranha e volúvel carripana

PARABÉNS BOMBEIROS DA NOSSA TERRA

Bombeiros-agosto_DrMonizPalme

Uma estranha e volúvel carripana

Que a mulher é variável e sempre vária, como cantava Virgílio, no seu poema épico “Eneida”, já nós sabíamos. E que esse conceito tem aceitação universal, igualmente não é nenhuma novidade, -o sexo feminino que me perdoe. Apesar de tudo essa ideia criada pelo homem não reflecte apenas machismo latino mas, respira igualmente romantismo por todos os poros e não é desprimorosa para a sua imagem. E querem coisa mais bela que os versos da canção do Duque de Mântua, no “Rigoletto” de Verdi, que todos conhecemos e cantarolamos: “ La donna é mobile/Qual piuma al vento/Muta d´accento/ e de pensiero” Isto é, trocado em miúdos: – A Mulher é móvel, como pluma ao vento, muda de lugar e de pensamento. Eis a verdadeira questão. E o nosso bem amado William Shakspeare lá coloca as suas frustrações perante a inconstância do mulherio, através de uma exclamação posta na boca de Hamlet, “Trailty, thy name is woman” “Inconstância, o teu nome é mulher”. Significativo não é?!!! Mas escusamos de andar a escarafunchar em autores tão refinados, pois o nosso patrício Machado de Assis assim se refere ao sexo fraco, nas suas “Ventoinhas”, aliás pouco respeitosamente, diga-se a verdade, -“ A mulher é um catavento, vai ao vento, que soprar”. E por aqui me fico, antes que as minhas prezadas leitoras resolvam alçar o machado de guerra contra o meu aparente anti-feminismo.

E não há razão para ressentimentos, pois inconstância do homem ainda é bem pior, flagrantemente mais visível e, por que não, agravada com o condimento do descaramento e do despudor. Vejam os circuitos oportunistas e sempre a rodar de alguns que se dedicam à arte da política.

E os nossos amigos animais domésticos não são também tocados pela inconstância? Basta passar uma cadela jeitosa pelo portão da quinta e lá vai o “Canis fidelis”, sorrateiramente, atrás da beleza canina que lhe passou ao lado, sem dizer agua vai. Por vezes, demorando longos dias a regressar a casa perante o frenesim e o desespero dos telefonemas dos donos, para quanto canil existe à face da terra. E os gatos que, no Inverno, atraiçoam as donas perante qualquer gata assanhada que enxerga no quintal ou no telhado do vizinho! Com os tarecos passa-se a mesmíssima coisa. Uns inconstantes e traidores da lealdade que devem a quem lhes dá as sopinhas de leite, a quentura do borralho e o carapau apropriado.

Para quê este rosário de inconstâncias humanas e de traições dos nossos mais fieis amigos do mundo irracional. Na verdade, tive conhecimento de uma traição escandalosa cometida a frio pelo simples material rolante, perante toda a colectividade que lhe deu vida, pagando com ingratidão o seu aparecimento na sociedade. Podem crer, é mesmo de se ficar de boca aberta perante esta situação de leviandade de uma simples viatura já com idade para ter juízo. Como todos sabemos, os nossos esforçados bombeiros viam-se gregos para comprar um pronto-socorro, uma auto bomba ou um simples jeep. Quem não se lembra dos heróicos promotores de rifas e de embaixadas com destino certo, na tentativa de angariar fundos públicos ou particulares para o início do pagamento de uma carripana essencial à sua meritória actividade de apagar os fogos ateados na área de jurisdição de cada Concelho…! Pois bem, em 1965, foi comprado um jeep, ou melhor um Land Rover, da Série 2 – A, com a matrícula HF-37-47,de cor vermelha como compete à actividade, que andou anos a passear-se com garbo e valentia por incêndios e outras actividades da Corporação que servia. Bem, os tempos vão passando e acabo por descobrir que um Land Rover verde, completamente recauchutado e destinado a andar pelas praias da Califórnia a transportar turistas e uma família sampedrense, tinha uma matrícula que me parecia familiar ou, pelo menos, conhecer de vista. Exactamente, a mesma situação que sentem os que passam por uma bonita mulher e sabem que outrora a conheceram de certeza, talvez agora com outro visual, e com a beleza serena e o brilho no olhar da sensatez, ganho com a experiência. E não me fiquei. Resolvi tirar a limpo tal imbróglio. Palavra puxa palavra, páginas do livrete passadas a pente fino e ó espanto dos espantos!. Não é que aquela luxuosa viatura era mesmo o Land Rover mimado, com a matrícula HF-37-47, de cor vermelha, dos Bombeiros Sampedrenses e que tinha desaparecido na bruma dos tempos sem dar qualquer cavaco à rapaziada. Uma boa descarada, digamos a talhe de foice, com o ar mais sofisticado possível tanto no trabalhar como nos modos, isto é, nos atavios e outras frescuras da carroçaria. Um escândalo. Nem queria acreditar!!!. Sempre há viaturas muito tolas…!

Agora não me venham dizer que as “bellas máquinas” não são como as divas que fazem exames de correcção às rugas e ao canastro para parecerem mais novas. Foi o que aconteceu perante as minhas barbas e as barbas dos fregueses de S. Pedro com o leviano Land Rover, HF-37-47 que nem de mim escondeu a sua alteração fisionómica e a traição à sua terra. Bem,pelo menos,  escolheu um novo proprietário lafonense, o meu filho Zé Maria…! Há coisas que não lembra ao diabo….

O que vale é que os bombeiros voluntários veem comemorando os seus 130 anos bem medidos de prestação de serviços incalculáveis às populações e esta história vem mesmo a calhar para poder dar os parabéns calorosos às inúmeras gerações de soldados da paz que tudo interrompem quando a sirene começa a cantar. Bem Hajam Bombeiros da nossa Terra que têm a gratidão e a amizade sentida de toda a comunidade.

António Moniz Palme-2016

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