A maldita influência da Moda Política praticada além fronteiras
E, como bichas de rabear carnavalescas, a Moda do Mercado Comum também entrou no palco político indígena, (3)
Igualmente, a entrada no Mercado Comum foi um imperativo da Moda Europeia. Fruto de uma decisão arbitrária não plebiscitada democraticamente pela vontade da colectividade portuguesa. Para os seus braços fomos atirados de olhos fechados, sem um único dossier elaborado com princípio, meio e fim que explicasse claramente ao Povo Português qual o impacto, na nossa economia, dessa radical mudança de vida
Na verdade, tanto industriais como gestores sabiam realisticamente a nossa absoluta falta de preparação para competir num espaço europeu sem barreiras e sem esquemas proteccionistas. Ora, tal preparação da força produtiva nacional iria demorar um certo tempo, sendo impossível acontecer do pé para a mão. Mas esse esclarecimento público não convinha de forma alguma aos interesses económicos da plutocracia europeia, nem aos gangues políticos que dominavam a governação em Portugal, vendo nas empresas públicas um meio ideal para enriquecerem. E os que pressentiam o que se iria passar, queriam uma união mais íntima com os novos países africanos de expressão portuguesa, mantendo as relações com a EFTA, forum do comércio livre que integrava, além do nosso país, os Países Escandinavos, a Grã Bretanha, a Suíça, e a Áustria e que tinha por principal objectivo a eliminação dos direitos e outros obstáculos alfandegários às trocas de produtos industriais.
Porém, quem assim pensava era logo considerado reaccionário ou comunista e outras coisas menos bonitas que a conjuntura engendrava para afastar quem ousasse expressar as suas dúvidas em relação ao Mercado Comum.
Enfim, a cegueira completa da intelectualidade revolucionária portuguesa, altamente incompetente, a marcar as cartas da governação e a comprometer para sempre o equilíbrio económico do país. Quando era deputado, fui mandado a Bruxelas, com representantes de todo o leque partidário. Sentia-me o único anti-séptico descarado em relação ao Mercado Comum, comungando e partilhando os receios e as óbvias consequências dessa mudança de vida portuguesa com o meu velho amigo de Coimbra César Oliveira, deputado de um pequeno agrupamento da Esquerda Socialista. Para grande espanto nosso, todos os outros representantes partidários, sem excepção, ouviram as práticas explanadas e os elogios e virtudes da entrada para a Europa de Monet, e logo aderiram de mãos e pés à integração no desconhecido mundo que nos esperava. Tive posteriormente ocasião para diversas conversas bem conclusivas, em Bruxelas e durante um Congresso Beirão em Viseu, com Hernâni Lopes, um homem brilhante, que muita falta está a fazer neste momento de crise económica e de incapacidade governativa para a ultrapassar. Na altura, referi-lhe que, embora a nossa situação estivesse atrasada, atendendo aos modelos europeus, não concordava de modo algum com o desmantelamento industrial e agrícola nacionais, embora fosse necessária uma urgente remodelação de métodos e processos. Por outro lado, nem podia acreditar que o sector das pescas fosse destruído, situação que se antevia e que logo se começou a processar. Perante as dúvidas ouvidas, pressentia que os governantes, desculpando-se com a centralização europeia, reforçassem ainda mais o centralismo na administração, desequilibrando o progresso harmónico do território e fazendo frutificar as assimetrias já existentes.
Mas, quem era eu!!!. Na realidade, sou um pária. Faço parte de um sector da sociedade que não tem liberdade de expressão nos órgãos da comunicação social nacionais, por ser politicamente incorrecta, Graças a Deus. Quem dá a certificação de intelectual e de político audível, são as seitas e os responsáveis pela actual situação. E esta conjuntura é fruto da caricatura da moda que através da globalização da economia, criou uma promiscuidade escandalosa desta com a política. O Povo bem fala e protesta, mas tudo permanece na mesma. A pouca vergonha que verificamos, a corrupção que sofremos, a injustiça reinante., são seus indecorosos frutos. Filhos espúrios do Secretismo que impunemente domina Portugal.
• António Moniz Palme
————————————————————————————————
Mais artigos
Redação Gazeta da Beira
Comentários recentes