António Moniz Palme (Ed. 718)

“Quem salva uma Vida, salva o Mundo Inteiro” (2ª parte)

“Quem salva uma Vida, salva o Mundo Inteiro”2ª parte

Começarei esta segunda parte do meu artigo, fazendo referência ao título de um Jornal Francês de 1940, a propósito de Aristides Sousa Mendes e dos milhares de pessoas que a sua abnegação e coragem conseguiu arrancar das garras da morte. Dizia-se ”Quem salva uma Vida, salva o Mundo Inteiro”, louvando a acção humanitária do nosso Cônsul.

Na verdade, em Bordéus, o panorama que o Cônsul tinha perante os seus olhos não era nada brilhante, pois, sendo cumpridas as exigências da Circular nº14 do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que proibia a passagem de vistos a quem pretendia entrar em Portugal, nem uma al salvaria ao morticínio que se adivinhava e que muitos portugueses tinham a certeza ir acontecer, conhecendo o que se estava a passar nos campos de extermínio nazis.

Com o bombardeamento de Bordéus, após a queda de Paris, uma multidão apavorada invadiu o nosso consulado, implorando um visto para a sua salvação. Mas, apesar da difícil situação vivida pelas autoridades portuguesas locais, Portugal não ficou futuramente responsável pela hecatombe que seria o encontro dos nazis com os refugiados políticos e pela multidão de judeus que ali se tinham concentrado. Pois, mais de 30.000 foram salvos pelo desenrascanço humanitário do nosso Cônsul, que mandou às urtigas a Circular proibitiva. Ajudado pela família e por alguns funcionários, passou vistos a dezenas de milhares de refugiados, salvando-lhes a vida, apesar de ser ver obrigado a uma deslocação a Handaia para lá fazer passar na fronteira franco/espanhola, os titulares dos vistos por si assinados. Se o comportamento do Cônsul tivesse sido diferente, quando acabasse a guerra, Portugal seria crucificado politicamente e acusado de crueldade e de ter colaborado com os nazis. Disso não tenham a menor dúvida. Mas não, o nosso Cônsul, desobedecendo a uma circular inexplicável, salvou a honra de Portugal perante o Mundo Civilizado. Qualquer governo decente de um país livre, perante o comportamento do seu funcionário consular, chamaria o mesmo a capítulo, para salvar as aparências, por não ter cumprido o que tinha sido determinado oficialmente, pois Portugal não pretendia desagradar a qualquer dos beligerantes. É bom recordar que Portugal esteve sempre a jogar com um pau de dois bicos, procurando não dar nas vistas perante as exigências dos dois contendores. Se a circular fosse cumprida e não fossem socorridos os milhares de refugiados, que se sabia irem ser passados pelas armas, internacionalmente Portugal, após a guerra, passaria um mau bocado. Mas não foi o caso para bem do bom nome português, devido à actuação corajosa do Cônsul Sousa Mendes. Assim, quando muito, pelo não cumprimento burocrático de uma circular, poderia ter sido admoestado, talvez punido, e logo arquivado o respectivo processo e louvado publicamente, sendo posteriormente homenageado pela salvação de tantas vítimas da guerra. Mas não. A ala germanófila do Estado Novo, apesar da Alemanha ter perdido a guerra, não permitiu tal. O Cônsul foi severamente punido, sofrendo duas sanções pela mesma infracção, o que na altura já era considerado uma inconstitucionalidade, morrendo na miséria, acabando por se socorrer da Sopa dos Pobres, onde ia tomar uma refeição diária com a numerosa Família, pois tinha mais de uma dezena de filhos. Esta situação miserável verificou-se, apesar de toda a Europa Livre ter saudado Portugal pela acção de Aristides Sousa Mendes no salvamento dos refugiados políticos, e de Salazar publicamente ter declarado “pena foi não ter sido possível fazer mais”…! Todos os esforços feitos para ser levantada a pena ao Cônsul, mesmo por gente considerada afecta ao regime, caíram em saco roto. Até um recurso junto do Supremo Tribunal Administrativo foi tentado. Todos esses ensaios para se fazer justiça foram infrutíferos. A sua casa de Cabanas de Viriato foi à praça, sendo vendida em hasta pública para pagamento das dívidas. Apenas foi respeitado o jazigo de família, onde repousam os seus restos mortais, pelo facto de ser legalmente impenhorável. Só faltou terem deitado abaixo a sua casa e salgado o seu chão sagrado, como faziam aos traidores, para apagarem o seu nome e a sua corajosa personalidade da face da terra.

Porém, aconteceu o 25 A e tudo ficou na mesma. Aos revolucionários da terceira República, não interessava recordar e limpar o nome de um herói que deu cabo da sua carreira profissional para salvar vidas humanas. Pelos vistos, tal não estava na cartilha dos pseudo intelectuais da revolução. E apenas quando internacionalmente começaram a verificar-se movimentações para reparar o mal feito a Sousa Mendes, é que se tentou fingir que se tomava uma atitude. Perante a homenagem feita por Bem Gurion, em Israel, a Sousa Mendes, o grande português, bem como às movimentações dos emigrantes portugueses nos Estados Unidos e à pressão da comunidade judaica, foi feita uma homenagem a Aristides Sousa Mendes, à porta fechada, na Embaixada Portuguesa nos Estados Unidos, para que o silêncio oficial não redundasse num escândalo internacional, sendo atribuída a esse grande Homem, a título póstumo, a Ordem da Liberdade, Grau Oficial, condecoração que já tinha sido distribuída profusamente a todo o bicho careta possível e imaginável, num grau superior. O eco dessa condecoração mal chegou a Portugal. Significativo comportamento dos responsáveis. Mas os portugueses não são parvos e começaram a procurar conhecer toda a vida do Cônsul, ficando a saber que as aleivosias levantadas para o denegrir, desde recebimento de dinheiro pelos vistos dados até à venda de outros documentos, não passavam de rotundas mentiras para tentar encobrir o mal que tinha sido feito a um dos maiores portugueses do século passado. Numa sondagem sobre quem seria, para o Povo Português, o maior Homem da História Portuguesa, em segundo lugar apareceu o Cônsul Aristides de Sousa Mendes, para espanto dos portugueses, que dessa estranha maneira foram apresentados a um Herói Português que muitos não conheciam. Qual o motivo deste comportamento dos responsáveis? Qual a razão para tal, principalmente de políticos que andaram a pedir desculpa internacionalmente pelas perseguições feitas, em anteriores séculos, aos judeus? Como se pode hipocritamente exibir perante uma nação inteira, cuja grande percentagem tem sangue marrano nas veias, um exame de consciência público por factos históricos passados, quando perante um funcionário consular punido injustamente, nada se fez a não ser tentar não fazer ondas, não valorizando o facto de Sousa Mendes ter posto a sua vida e da sua Família em jogo para salvar a vida do próximo. Cada vez tenho menos paciência, para corruptos e para hipócritas sem valores.

Aristides Sousa Mendes, finalmente, entrou oficialmente nas páginas da história dos heróis portugueses pela porta principal pois, não oficialmente, já fazia parte do número dos Homens Bons e Heróicos que figuram na memória e no coração dos autênticos portugueses.

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