António Moniz Palme (Ed. 743)

Edição 743 (12/07/2018)

Casamentos Reais Luso Britânicos e a consequente influência portuguesa na vida inglesa – 3ª Parte

Sobre o casamento do Príncipe Harry e ultrapassadas as notícias da presença deste ou daquele familiar no casamento que, pelo que se viu, correu lindamente, não poderei deixar de fazer um pequeno comentário. Assim, à laia de visita turística à capital da nossa velha aliada, terei que facilitar aos leitores alguns apontamentos esclarecedores. Chegados a Londres, ficamos logo envolvidos com a sumptuosidade dos costumes e tradições da monumental Albion e da simpatia e segurança da verdadeira Democracia, inspirada pela Sua Soberana, a Rainha Isabel II. Antes demais, explico que a Inglaterra tem um símbolo bem conhecido de todos, a ROSA, emblema de D. Filipa de Lencastre, casada com o nosso D. João I. Esta a razão porque é bem conhecido dos portugueses. E as outras componentes do Reino Unido, perguntar-me-ão? Aqui estão. :- da Irlanda é o TREVO (shamrock), da Escócia o CARDO (Thistle), do País de Gales o ALHO PORRO (Leek). Esta a primeira apresentação feita aos visitantes. Logo a seguir, na primeira curva do nosso trajecto londrino, deparamos com o empolgante TROOPING  OF DE COLOUR, isto é, a Saudação à Bandeira (Union Jack), no dia de Aniversário da Rainha, mas desconfio que por questões turísticas, a Rainha anda a fazer anos todos os dias ou pelo menos todas as semanas. É a vida…! Refeitos das sensações da cerimónia anterior, não podemos perder THE CHAGING OF THE GUARD, o colorido render da Guarda que encanta todos os visitantes. Passadas as visitas imprescindíveis ao Buckingam Palace e à Torre de Londres, com os seus “beefeaters”, os guardas da torre, armados de alabardas, e onde está guardado o tesouro da coroa inglesa., poderemos ainda ter a sorte de assistir ao Cortejo de Lord Maior (Lord Mayor´s Procession). Pois muito bem, se resistirmos à tentação de almoçar num restaurante chinês, italianos, indiano ou de qualquer parte do mundo, acabaremos por encostar o estômago à mesa de um restaurante inglês, comendo “hagis”, um enchido escocês típico, ou um peixe frito com batatas fritas. Tudo para esquecer…! Não pensem que vão ter em Londres a boa e saborosa comidinha portuguesa à mão de semear. Isso é que era bom…! Para tentar fazer a digestão, vamos dar uma volta por Londres, nos característico “Double-Decker”, autocarro de dois andares que existem agora por todo o mundo mas não com as cores tradicionais inglesas, e vemos, com curiosidade, uns senhores graves e bem apessoados a passearem o seu chapéu de coco “Bowler Hat” , com o qual cumprimentam cerimoniosamente quem lhes faz alguma pergunta.

Já agora, precisando de um difícil e raro bom café, resolvem os visitantes entrar num tradicional hotel onde os ingleses, após as compras, vão tomar qualquer coisa. Vão tomar o tradicional Chá das Cinco. Tomam um chá (tea), com scones e biscoitos e os cavalheiros poderão beber um bom vinho do Porto. E aqui começa a invencível influência portuguesa nos costumes britânicos. Voltemos então ao passado e à respectiva história comum.João IV, 8º Duque de Bragança, casado com D. Luísa Francisca de Gusmão, filha do Duque Medina Sidónia, acabou por assumir a chefia da revolução de 1640 que nos livrou do jugo castelhano dos Filipes. Sem dinheiro, sem exército, só com aliados de conversa mole e não com a disponibilidade de meios efectivos que ajudassem a manter a nossa recobrada independência, logo se pensou em obter uma aliança com os Ingleses. A monarquia tinha acabado de ser restaurada na Ilhas Britânicas e Carlos II, a quem Portugal deu guarida e protecção em alturas difíceis da sua vida, subiu ao trono. Foi negociado então o casamento da princesa portuguesa, D. Catarina, muito bonita e inteligente, com o Rei de Inglaterra Carlos II. Apesar de a princesa portuguesa ser católica e, oficialmente, Carlos II ser protestante, as relações entre ambos foram sempre o espanto dos elementos da corte inglesa protestante e dos representastes das cortes estrangeiras sediados em Londres. Claro que a Rainha D. Catarina tinha que suportar as amantes do real conjuge dos tempos de solteiro e de quem este tinha filhos. Com a sua aguçada intuição, após ter avaliado bem a sua situação desfavorável de não dar um herdeiro ao Rei, levou para Inglaterra um batalhão de cozinheiros, de músicos e de artistas, de hortelãos, iniciando a lenta alteração da insípida gastronomia inglesa. Nos inaugurados CHÁS das Cinco, havia uma reunião social com a presença dos elementos da corte, incluindo o madamismo que clandestinamente se deitava com o rei. Devo lembrar que só em Portugal e em Marrocos, tendo em atenção os países mais badalados, se usa a palavra CHÁ, pois em todos os outros lugares do mundo, excepto na China, sua origem, é apelidado de TEA. Bem, o costume tradicional inglês de tomarem o chá das cinco foi implantado pela Rainha D. Catarina, que fazia acompanhar o mesmo com scones e variados biscoitos portugueses e empadas de fruta, que se vulgarizaram com o nome de “mince pies”. Mas além de tal, a Rainha arranjou uma boa vingança em relação às damas que lhe assediavam constantemente o marido. Meteu no menu uma compota de laranja amarga, feita com laranjas azedas que lhe eram mandadas expressamente pelos navios comerciais lusos, por incumbência da sua mãe D. Luísa de Gusmão. As damas da corte torciam o nariz e, para não fazerem má figura, tragavam a contra gosto a compota de laranja amarga, conhecida por “MARMALADE”. Hoje em dia uma das vulgarizadas sobremesas inglesas com a assinatura da nossa portuguesa Catarina. E para compor o lanche e garantir a boa disposição e a presença da fidalgaria masculina da Corte Inglesa, era o chá acompanhado por um cálice de Vinho do Porto. Um cálice, isto é, cálices incontáveis e do maior agrado do homem britânico. Alias, o Tratado de Methuen, celebrado em Lisboa uns anos mais tarde, por meados de 1703, entre Portugal e Inglaterra, veio garantir o abastecimento inglês do nosso Vinho do Porto. Os ingleses importavam o nosso vinho fino, em detrimento da concorrência francesa, e os portugueses a lã inglesa. E a marca portuguesa da Rainha D. Catarina ficou gravada para sempre na história social britânica. Não foram só os ingleses a ter influência nos nossos costumes pois, em contra partida, começaram, a tomar chá diariamente, com biscoitos barrados de doce de laranja amarga e, principalmente, no fim das refeições, a beber um dedal de vinho fino, como se diz na nossa terra. Costumes britânicos bem assentes no dia a dia inglês. E esta. Gostaram? Espero que o príncipe Harry e a noiva Meghan, após a cansativa cerimónia do casamento, para relaxarem, tenham tomado um chá das cinco, com “Marmalade”,e um copinho de vinho do Porto para animar…! Engraçado, como são as coisas. Com este casamento real, a Monarquia mais conservadora da Europa, deu um pontapé rotundo no racismo. E esta…?!!! Muitos Parabéns aos Noivos.

António Moniz Palme – 2018

 


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