António Moniz de Palme (Ed. 710)

As barbas revolucionárias de Fidel de Castro representam uma fortuna pessoal maior do que a da Rainha Isabel de Inglaterra!!!

As barbas revolucionárias de Fidel de Castro representam uma fortuna pessoal maior do que a da Rainha Isabel de Inglaterra!!!

Malhas que os revolucionários tecem

O desaparecimento de Fidel de Castro, figura carismática e controversa do nosso tempo, fazem-me meditar sobre a história de Cuba, a maior das ilhas caribenhas, descoberta pelo nosso Salvador Fernandes Zarco, mais conhecido por Cristóvão Colombo. Tal território, após a sua independência em relação ao poderio castelhano, foi cair na influência americana, nunca mais conseguindo sossego e uma vida democrática decente, permanentemente animada por golpes pessoais, movidos pela corrupção ou pelo vil desejo de mandar, sem ideologia que se visse, chefiados por ditadores de meia tigela, que apenas sabiam meter o dinheiro do país na sua própria blusa, como se diz popularmente. Pelo sim pelo não, iam tirando à cautela a liberdade de expressão aos governados, para não serem incomodados com as críticas e os protestos. Até que apareceu um salvador da pátria, Fulgêncio Baptista, um sargento pouco culto mas inteligente e com iniciativa que tomou o poder. Mas, pouco tempo depois, perante umas eleições que naturalmente iria perder em favor de Eduardo Chibas, um intelectual, defensor da Democracia, que tinha o apoio da grande maioria da população, fez um golpe de estado, em 10 de Março de 1952, estranhamente logo aprovado pelos Estados Unidos, apesar desta personalidade não ter respeitado o seu Povo, pois impediu que demonstrasse o que pretendia em eleições livres já marcadas. Com uma pesada ditadura a emoldurar o panorama político e a calar a boca do povo, deu logo entrada nos circuitos da grande corrupção, tendo favorecido o jogo e a prostituição e protegendo ilegitimamente interesses internacionais em detrimento dos locais, sendo esquecida a população cubana que cada vez ia ficando mais pobre e sem esperança.

Surge então na ribalta uma nova personagem. Fidel Alexandre Castro Tuz, nascido na Galiza e educado numa escola de jesuítas. Foi com a família para Cuba e, enquanto estudante, começou a entrar na vida de intervenção política activa, organizando manifestações contra a ditadura e acabando por participar no frustrado assalto ao Quartel Moncada, em Santiago, em 26 de Junho de 1953. Preso e julgado a sua vida foi poupada. Foi condenado a dois anos de prisão, acabando por ser amnistiado e liberto. Foi então para o México onde esteva exilado e a preparar uma expedição militar contra Fulgêncio Baptista. Lá encontrou um médico argentino, Che Guevara, que colaborou prontamente nos preparativos militares congeminados por Fidel. O transporte que utilizaram para chegar a Cuba foi o “gramma”, um iate que mal tocou as areias cubanas foi apanhado e os poucos sobreviventes viram-se forçados a fugir para a protecção da Sierra Maestra, de difícil acesso. Aí, iniciaram a luta de guerrilhas, assaltando postos militares, roubando provisões e armas para distribuir pelos seguidores. Entretanto, o dinheiro do turismo tinha começado a fluir a Cuba em flecha. Contudo, o mesmo não era aplicado ao serviço da comunidade, melhorando o seu nível de vida, e sim aumentando o património pessoal dos governantes que receberam de chapéu na mão o submundo americano que ali havia encontrado o local ideal para a lavagem do dinheiro sujo. E o mal-estar aumentou em catadupa. O povo e a cultura cubanos, fartos desta situação, pretendiam uma mudança rápida do panorama político, apoiando Fidel de Castro, apesar do receio pela sua ideologia comunista. Era a única forma de quebrar o ciclo da corrupção e da violência que era a geral moeda de troca na vida cubana. Apenas os mercenários militares e a polícia política, contratados e pagos a peso de ouro, protegiam o governo de Baptista. Com este panorama, com o apoio internacional de todos os que defendiam a Liberdade por esse mundo fora, a tomada do poder foi um simples passeio das escarpas da Sierra Maestra até Havana. Após três anos de luta de guerrilhas, os barbudos, assim conhecidos devido às longas barbas que exibiam, montados em cavalos e de chapéus de palha de abas largas, fizeram uma entrada triunfal em Havana, sem qualquer resistência, transformando os novos donos de Cuba numa lenda viva, copiada um pouco pela romântica juventude de todo o mundo. Assim, acabou sem graça a ditadura de Fulgêncio Batista. Mas o pior é que lhe sucedeu uma outra ditadura, esta com uma ideologia marxista de base, nunca tendo sido marcadas eleições para sufragar os novos governantes e, antes pelo contrário, começando os assassinatos a torto e a direito de quem se atrevia a torcer o nariz aos ultrapassados métodos de Estaline, usados por Fidel. Uma das vítimas, foi um dos chefes dos guerrilheiros, Camilo Cinfuegos, que em Outubro de 1959 fez o favor de, ajudado por mão criminosa dos novos governantes, desaparecer do mapa. Era um intelectual, com o dom da palavra, ideias democráticas bem assentes e valores culturais estruturados, com uma enorme capacidade dialéctica e uma ainda maior popularidade junto da gente simples, que certamente, em futuros diálogos políticos exigidos por uma democracia e por um regime livre, destruiria com duas penada a pesada e ultrapassada lógica marxista.

A fome entrou em Cuba bem depressa, apesar da ajuda soviética que, com a Perestroika, acabou por secar. Tudo o que era técnico válido em Cuba deixou de fazer parte do cenário, indo de abalada para os Estados Unidos ou para a Europa. Só os muito velhos e doentes ficaram. A agricultura, totalmente nacionalizada, ao arrepio da opinião de Lenine e do comunismo de Mao Tsé-Tung, estagnou completamente a produção que diminuiu de forma confrangedora., apesar do entusiasmo inicial revolucionário e das metas pré-fixadas para a monocultura das cana-de-açúcar. Na verdade, a reforma agrária levada a cabo foi um autêntico desastre. As vacas deixaram de produzir os quantitativos de leite que anteriormente produziam e deixaram de ter as crias necessárias para satisfação mínima das necessidades da população e para fornecimento dos hotéis aparecidos com a abertura ao turismo.

A Igreja foi afastada à força da vida cubana, prosseguindo em regime de catacumba sobre os corpos dos padres e chefes religiosos criminosamente abatidos, apenas começando a ser hipocritamente tolerada para mundo ver, após a visita do Santo Padre João Paulo II. Contudo os bens da Igreja, após terem sido nacionalizados, foram completamente vandalizados e transformados em arrecadações e quartéis militares e, ultimamente, em salas de espectáculos, para calar a indignação popular, como tive ocasião de presenciar.

Mas nem tudo foi mau na revolução, é necessário que se diga, pois tanto são ridículos os que tecem loas ao regime cubano e ao ditador Fidel, como são ridículos os que falam do regime sem o conhecer, não atendendo aos ciclópicos trabalhos que em Cuba foram feitos no campo da Saúde e da Educação, para se conseguir a melhoria da população. Mas as melhorias, infelizmente, acabam aqui. A população na sua maioria, ainda para cúmulo, continua à margem da revolução comunista feita pela ditadura, sonhando com o consumismo, com as camisas e automóveis de marca, com os bons restaurantes, onde não podem entrar, e exibindo sempre que podem fotografias dos primos e parentes, montados em viaturas caras, que vivem no mundo capitalista, nomeadamente na Florida, e que para eles são um paradigma. Isto é, a revolução falhou na reconversão mental do povo. Nestas situações ou se actua á força, tirando a vida a quem se manifestar contra o regime, como tem acontecido, ou à mínima fraqueza a revolução castrista entra numa rápida espiral de destruição…, ou melhor, para todos entenderem, vai pelo cano abaixo.

Tive esperança que após a visita do Papa João Paulo II a Cuba, em 1998, Fidel caísse em si e marcasse eleições para auscultar a população, candidatando-se a elas e, obviamente ganhando facilmente as mesmas. Estabeleceria uma democracia musculada de transição, não permitindo que os partidários do “laissez faire, laissez passer” e os amantes do betão armado e do consumismo extremo, retornados da Florida em força, entrassem na vida política sem qualquer travão, como vai acontecer quando o regime cair, por deserção dos seus responsáveis. Como já referi numa série de artigos já publicados na ”Gazeta” e no meu último livro “Revisitação”, não sou admirador do regime vigente cubano mas, independentemente disso, tenho que reconhecer o enorme esforço feito pelos revolucionários para responder aos problemas da saúde e da educação da população cubana. E agora? O único factor que mantinha o ponto de ebulição e o ardor revolucionário era Fidel que, por ter ido para o outro mundo, deixou de meter medo com a sua estrutura policial à ilharga. É significativo ver fotografias da população, ao longo da estrada, a virarem as costas ostensivamente quando por eles passava o caixão do antigo “El Comandante”..!!! A não transformação política de Cuba com Fidel de Castro poderá provocar a não sensata e necessária evolução política, mas uma revolução de sinal contrário e a terrível consequência da incultura e dos seus acessórios, incluindo a invasão do betão armado, do consumismo desenfreado e da mentalidade de “revanche da Florida, com a inevitável destruição do que resta da cultura cubana.

Ainda por cima, pelos tablóides americanos e europeus que vão chegando a Cuba com as avalanches diária de turistas, os cubanos começam a saber que os irmãos Castro têm uma imensa fortuna, aliás como todos os ditadores, referindo a má língua que deve ultrapassar a histórica e lendária fortuna da Rainha de Inglaterra…!

Concluirei, fazendo novamente alusão aos pêndulos dos relógios que no seu bater compassado, passam de um campo para o outro diametralmente oposto. Não havendo meio-termo nesta matéria. Se assim for, restará ao Povo Cubano fazer uma peregrinação à bonita basílica de Nuestra Señora del Cobre, no Cerro de la Cantera, perto de Santiago de Cuba, onde está a famosa imagem da Virgem Negra, protectora de Cuba, pedindo que os novos responsáveis modifiquem o regime para evitar uma revolução de sentido contrário, marcando eleições livres. O simpático Povo Cubano já sofreu demais e tem direito à paz e à liberdade.

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