Agricultura
Jorge Sofia
17/12/2015 (Ed. 687)
Texto e fotos de • Jorge Sofia*
A árvore de Natal
Nesta altura das festas, urge cumprir o ritual e proporcionar às crianças o relembrar do motivo das Festas. Por causa disso e por outras razões, sempre fui adepto do Presépio, é imaginativo, muda todos os anos, ajuda os oleiros e é nosso! Convém que na utilização de musgo se procure recolhê-lo onde ele não faz falta, porque os musgos têm grande importância ecológica, uma vez que reduzem a erosão, são reservatórios de água e nutrientes, oferecem abrigo a micro-organismos, são viveiros para outras plantas e desagregam rochas, sendo, portanto, iniciadores ou criadores de solos. Mas deixando estas conjeturas de lado, verifico que o meu leitor se está nas tintas para tradições que sujam a casa e se prepara para o pinheirinho de Natal, mais “arrumável”, pequeno, vistoso e tão à mão “ali-naquele-pinhal-ao-pé-de-casa”. Enquanto afia a machadinha, deixe-me, no entretanto, alertar para um pequeno problema (para além da corrida que pode levar do dono do “ali-naquele-pinhal-ao-pé-de-casa”) – a processionária.
A processionária do pinheiro (Thaumetopoea pityocampa Schiff.), que se alimenta das folhas do pinheiro, pode parasitar todas as espécies de pinheiros e cedros. Mas normalmente só nos preocupa a sua lagarta (Como não me canso de referir, a vida de um inseto passa por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto), pois tem um aparelho defensivo composto por aproximadamente 120.000 pelos com propriedades urticantes. Quando a lagarta se move liberta milhares de pelos que se dispersam no ambiente. Os pelos retêm no seu interior uma proteína designada de taumatopoína, que é capaz de desencadear a libertação na pele e mucosas de histamina, acetilcolina ou proteínas (enfim, de causar alergia), causando aquilo que se define por urticária com sensação de comichão deveras desagradável. Estas alergias são particularmente frequentes nas crianças pequenas, que ficam curiosas pelo comportamento das lagartas que numa fase da sua vida se deslocam pelo solo em fila indiana (procissão).
Os ataques iniciam-se durante o verão, pondo as borboletas os ovos nas horas de crepúsculo, como as fêmeas se dirigem para as silhuetas dos pinheiros, as posturas concentram-se nas árvores de bordadura ou naquelas que se encontram isoladas, preferindo a parte superior da copa e evitando as exposições a norte, menos ensolaradas e mais frias. As larvas nascem até ao outono, agrupando-se e começando a alimentar-se sobre as agulhas onde se encontra a postura. Para se protegerem constroem os primeiros ninhos. Os ataques variam de intensidade consoante o nível populacional, o qual é fortemente influenciado pelas condições meteorológicas (temperatura e insolação), pelo conjunto de inimigos naturais (insetos parasitoides e predadores, fungos, bactérias, vírus e pássaros) e pela qualidade e quantidade de alimento, da qual depende a fecundidade das fêmeas. Quando desfolhadas, as árvores exibem menores crescimentos. No fim do Inverno e durante a Primavera interrompem a alimentação por 1 a 3 dias, após o que iniciam a conhecida “procissão”, encabeçada por uma fêmea, descendo para o solo, onde se enterram a uma profundidade de 5 a 20 cm, transformando-se em pupa ou crisálida e assim permanecendo em repouso até ao início de catividade no verão.
Embora danosa, esta praga é tolerada pelas árvores adultas, sendo apenas importante aquando de ataques sucessivos em árvores jovens. Em termos de saúde pública, a processionária pode constituir um grave problema nos anos de fortes ataques e junto a locais habitados ou frequentados pelas populações.
Nestas situações, convirá tentar controlar a praga, o que poderá ser feito de diferentes formas:
* Pulverizações com substâncias à base de Bacillus thuringiensis, apenas serão eficazes no estado de ovo ou após o nascimento das larvas (setembro/outubro). Tendo de ser pulverizada a copa.
* A utilização de inseticidas à base de diflubenzurão, permite um controlo mais tardio das lagartas (outubro/novembro).
* Quando as infestações são pequenas, é muitas vezes preconizada a destruição dos ninhos, durante o dia, enquanto as lagartas estão abrigadas, devendo o pessoal encarregado destas operações estar equipado com óculos e com proteção da cabeça e pescoço.
* Quando as lagartas iniciam a procissão podem ser capturadas manualmente no solo e tronco das árvores, ou através da aplicação de cintas de captura com colas específicas inodoras, que mantêm a sua capacidade adesiva durante largos períodos, fazendo com que as bichas ali fiquem coladas. A aplicação deste último método requer uma vigilância frequente para substituição das cintas autocolantes.
Vá por mim, abandone rituais nórdicos, compre pano verde e faça o Presépio. Dê a alegria ao oleiro de partir dois ou três bonecos, acrescente outros tantos, desloque os Reis Magos, ponha o Menino a 25 e relembre a Natividade como deve de ser. O Natal não é só bacalhau.
A todos um Feliz Natal e Próspero Ano Novo!
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