Rompecilha (Carlos Paiva)
Edição 706 (24/11/2016)
Por, para e com…
Favoráveis ventos sopram de Rompecilha, trazendo afortunadas notícias. As mais recentes dão-nos fé da participação da ACDR na Feira do Mel e da Castanha, em Macieira, essa sobranceira aldeia da serra de S. Macário.
Desde cá do fundo, subiram as gentes de Rompecilha a tal altitude, levando consigo, além do coração em flor, os frutos da sazão. E que esgotaram quase instantaneamente! Foram-se num ápice as castanhas, ficaram ainda outros produtos do labor daquela pequena mas afanosa aldeia. Talentosas mãos, as daquelas pessoas!… E assim continua a Associação das Rompecilha a mobilizar os seus sócios, e simpatizantes, indo onde preciso, numas vezes, e trazendo até si a multidão, quando a ocasião o propicia, noutras.
Outras notícias, ainda que mais anteriores, vieram, de igual modo, trazidas no etéreo colo do vento. E o que nos disse o murmúrio deste? Que nas novas instalações, adquiridas não vai há meses, aconteceram obras. Não pude, infelizmente, testemunhá-lo in loco, mas os relatos que o vento me depôs no peitoril da janela ilustraram-me o conhecimento: no piso térreo daquelas por tanto tempo esquecidas paredes, existe agora um Café da ACDR. É lugar a merecer visita, de simples mas com bom gosto. O carácter acolhedor, esse, provém das boas gentes que o servem e das que dali fazem local de encontro.
O vento que novas me trouxe faça agora o caminho inverso e leve, encavalitado no seu dorso, o enaltecimento devido aos Corpos Sociais que engendraram tal projecto e o tornaram real. Mas mais ainda, vai o apreço a todos os esclarecidos sócios que, em sede de Assembleia Geral, como é devido, apuseram informado selo de aprovação à proposta que tão curto tempo concretizou (outro evento que, também infelizmente, jamais pude presenciar – ingrata amizade, esta que com o tempo travei…).
Reitero: valham estoutros sócios! São tudo, e tudo o que se faz, no fim de contas, é por eles, para eles, e com eles…
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28/11/2015
Nas boas graças de S. Martinho!
Todos já se puderam aperceber de que o S. Martinho anda muito simpático ultimamente. Tem afastado as nuvens negras e tem-nos brindado não só com um, mas com vários verões de S. Martinho. Bom para nós, não é verdade?, que assim não temos de andar sempre com o guarda-chuva à ilharga, nem sequer com aqueles casacos pesadões sobre o lombo, ou então enfiados em casa, em frente à lareira, enrolados nalgum cobertor…
Na minha opinião, é outra coisa: o S. Martinho apercebeu-se de que a humanidade anda carente de contacto, de convívio, de confraternização, e quando chove e o frio aperta, a malta esconde-se em casa e já não quer saber dos outros! E assim, o santo, cheio de compaixão, está mais atento aos que os humanos, cá em baixo, querem fazer para juntar o povo e dá ordens expressas aos querubins para que não descarreguem nem chuva nem frio, e a gente, é claro, agradece e, se for preciso, até lhe mandamos rezar uma ou duas missas.
É que se não fosse por esta boa-vontade do santo, como poderia o Magusto da A.C.D.R. (Associação Cultural e Desportiva da Rompecilha) ter sido um sucesso? Foi tão atencioso, que até fez vista grossa a nos termos adiantado praticamente uma semana ao prescrito no calendário, que diz que o dia para estas coisas deve ser o 11, e a malta da Rompecilha não foi de modas e fê-lo no dia 3! Mas que fazer, se já havia castanhas e já se encetara o pipinho?… Seria um desperdício não o fazer! E as pessoas? As pessoas também o queriam! E não foram só as gentes de Rompecilha. De várias aldeias dos arredores (Covelinhas, Solgos, Lageosa, Pesos, Sequeiros, Covas do Monte…) e até de sítios tão distantes quanto Lisboa, vieram outros amantes destas tradições, para comer as castanhas, provar o vinho novo e, acima de tudo, confraternizar.
É desta maneira que a gente reencontra quem não via há tanto tempo, apesar de estarmos tão perto; é desta maneira que a gente evoca momentos do passado e os reedita no presente; é desta maneira que a gente (re)descobre no outro não só um velho conhecido, mas um amigo; é desta maneira que a ruralidade não só sobrevive, mas vive de uma maneira pujante e, essencialmente, autêntica, sem qualquer pretensiosismo bacoco, (re)vivendo as coisas simples da vida, as coisas que a tornam, afinal, bela e digna de ser vivida.
Dizia o filósofo alemão Friedrich Nietszche que sem música a vida não faria qualquer sentido. Eu cá concordo com ele. E não serei o único. Por isso mesmo, e uma vez mais, as concertinas arrancaram fados e desafios, fizeram dançar, e as suas melodias conduziram-nos através do que há de mais genuíno na música portuguesa. Apenas esmoreceram quando começou a anoitecer e o frio, que chegava cortante como uma faca, nos disse que, por aquele dia, já chegava, que era hora de regressarmos cada um à sua casa, com a barriga cheia de castanhas e o espírito tão jovialmente retemperado. Também, convinha não abusar da dita boa vontade do santo, pois é certo que, no dia seguinte, o verão já se fora e S. Martinho estaria, certamente, com os azeites…
Volvida praticamente uma semana, o santo parecia continuar com os azeites. Era sábado, dia 10, dia inaugural da Feira do Mel e da Castanha, na aldeia de Macieira. A A.C.D.R. fez-se representar neste certame, ocupando uma das “barracas” com os frutos da produção local, aproveitando, igualmente, para divulgar o seu trabalho em redor do linho. No que diz respeito àqueles primeiros, havia um pouco de tudo: desde as inevitáveis castanhas, a maçãs, nozes, abóboras, cebolas, folares, sem esquecer as compotas e os licores resultantes da arte do Delfim Dias, já veterano destas andanças. Por outra parte, havia, em exposição, mantas e toalhas, assim como diversas peças de vestuário, tudo feito em linho. Havia ainda algumas peças relacionadas com o “Ciclo do Linho (desde a terra até à roca)”, bem como exemplos deste mesmo linho nas suas várias fases de maturação. Para quem estivesse interessado em compreender melhor todo o percurso dessa planta, desde que a mesma é semeada até que chega à roca, bastaria assistir ao documentário vídeo que estava constantemente a passar num ecrã. Contudo, e para o visitante mais exigente, ávido de conhecer estes costumes, vendo ao vivo como se fazia, no sábado ao fim da tarde houve uma apresentação que pretendia ilustrar esse mesmo Ciclo. Juntaram-se os curiosos em volta das gentes da aldeia da Rompecilha e observaram, atentamente, como se fazia antigamente, uns relembrando, outros procurando descobrir, pela primeira vez, as várias etapas daquele Ciclo. A apresentação foi, mais uma vez, pontuada pelos cantares daquelas gentes, dando mais colorido e genuinidade àquela mesma.
Mereciam estas gentes, bem como os visitantes, que ao santo já lhe tivesse passado a azia e viesse o dito verão. Mas não veio. Teve de se esperar pelo Domingo para que S. Martinho botasse a mão na consciência, se apiedasse daquelas gentes, e permitisse que o sol brilhasse e o dia corresse de melhor feição. Assim foi, para bem dos que reservaram a jornada para fazer uma visita ao evento, e também do dos que ali estavam a mostrar os frutos do seu labor. A A.C.D.R., felizmente, não foi excepção, e, terminado o certame, tinha mais do que razões para bendizer o santo.
Tão alto há-de ter chegado o seu “obrigado”, que os dias soalheiros, embora já um pouco frios, ainda permaneceram. “Obrigado” também a quantos colaboraram, de uma ou doutra forma, em quanto a A.C.D.R. levou à Feira do Mel e da Castanha. Sem a vossa colaboração, tal não seria possível. Que todos possamos regressar para o ano, com a mesma vontade e empenho, e que o santo, já agora, e se não lhe for pedir muito, também esteja bem-disposto!… Até lá.
Nota: no Facebook, podeis aderir ao Grupo Amigos de Rompecilha, onde se vai dando conta destas e de outras coisas da nossa aldeia. Sereis bem-vindos!
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24/10/2013
Cascada do Milho em Rompecilha
Assim se estreitaram ainda mais os laços existentes entre os membros desta comunidade
O calendário dizia que estávamos a 12 de outubro, mas quem estaria disposto a acreditar nisso, com a apesar de tudo amena temperatura que se fazia sentir? Mas mesmo que fizesse o frio que seria de esperar nestas alturas, o calor humano que é apanágio das gentes da aldeia da Rompecilha trataria de contrariar o termómetro!
Mais uma vez o povo se congregou no campo central do lugarejo, desta feita com o fito em fazer a cascada do milho. Previamente, colhera-se o milho pela meia-tarde. Mão-de-obra? A melhor que há: a própria e a dos conterrâneos a quem apraz ajudar e participar nestas andanças, as quais fazem por perpetuar os costumes de outrora.
A cascada do milho, também baptizada, noutros sítios, de “desfolhada”, era, à semelhança de outras tarefas do campo, uma ocasião em que a realização do trabalho supunha um animado convívio entre os intervenientes. Tenha-se o cuidado de consultar as fotos e vídeos relativos a este evento, disponíveis no grupo “Amigos de Rompecilha”, no Facebook, e essa animação ficará, decerto, bem patente.
Uma vez desvelada, à força de a libertar do casulo de folhame que a envolvia, a espiga do milho foi depois separada da cana que a sustentava. Entretanto, a descoberta do milho-rei, de quando em vez, desencadeava surtos de euforia, traduzidos na distribuição de abraços ao redor.
Assim se estreitaram ainda mais os laços existentes entre os membros desta comunidade, devendo destacar-se a presença de algumas pessoas vindas de povoações vizinhas, assim como de alguns “lisboetas”, como costuma dizer-se. São, como é natural, sempre muito benvindos e o desejo não pode ser outro senão de que, no futuro, apareça mais gente e traga a sua boa disposição e faça desta aldeia, por pouco que seja, também a sua aldeia. É que esse pouco, parecendo pouco, é, contudo, muito para quem estima o lugar das suas raízes.
Segue-se o Magusto da ACDR (Associação Cultural e Desportiva da Rompecilha), a 3 de Novembro. A Rompecilha fica a aguardar por vós.
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10/10/2013
Rompecilha com vida… convida!
Para muitos, o mês de Agosto será o zénite do ano por múltiplas razões. Desde logo, é, por tradição, o mês mais quente, aquele em que o Sol dita, de forma inclemente, a sua lei. Também é, por outro lado, o mês das férias para muito boa gente, e, sendo assim, o mês em que nos permitimos fazer o que nos anda vedado o resto do ano inteiro. No caso da aldeia da Rompecilha, o mês de Agosto não foge a essa regra. É o mês em que, da habitual ½ dúzia de “gatos pingados” (salvo seja!), se passa para uma mão cheia de gente, gente esta que é, por assim dizer, de dentro, mas também de fora.
A gente de dentro é a gente que anda longe, a lutar pela vida, no seu ganha-pão diário, e que aproveita aquela altura para vir até às suas origens. São, basicamente, os filhos da terra que essa mesma terra, um dia, de lágrima ao canto do olho, teve de ver partir. Quanto à gente de fora, bom, este já é um grupo bem mais heterogéneo, mas, ainda assim, sempre muito bem-vindo. Falamos de amigos da gente de dentro, que vêm até ali conhecer o lugarejo, ou então que já o conhecem e que, todo o santo ano, fazem questão de ali regressar e de dar vida à aldeia que, reconheçamo-lo, de vida vai tendo, às vezes, bastante falta… Outra gente de fora é a gente de aldeias vizinhas, que ali se desloca igualmente, pelas mais variadas razões. E, por fim, há gente mesmo de fora, que nunca ali pôs os pés e que, seja lá por que carga de água fosse, quis vir conhecer essa terra de tão ímpar nome: Rompecilha.
Como vimos, agosto é mês em que a aldeia está a borbulhar. Razões para essa efervescência? Pois bem, temos as habituais e temos, também, aquelas que são novidade. E parece que todos os anos vai havendo uma ou outra, lá está, novidade. Aquela que se nos impõe mais imediatamente no quadro da memória tem a ver com a reprodução do Ciclo do Linho por inteiro, na sua vertente “desde a terra até à roca”. Noutras ocasiões, salvo erro em dois artigos, já aqui vos demos conta desse projecto que a aldeia vem acalentando, como quem acalenta um filho. Falámos-vos da sementeira e da monda do linho, mas, depois disso, outros passos se deram, nomeadamente com o arrancar, ripar e empoçar daquela planta. Porque esse trajecto foi feito em várias etapas, a ACDR (Associação Cultural e Desportiva da Rompecilha) teve por bem fazer essa dita reprodução do Ciclo, integrando-a nas Festas que anualmente ali se realizam, em honra de Nossa Senhora da Guia e de Santa Eufémia. Praticamente um dia inteiro (o sábado, dia 10) foi quanto se dedicou a esta actividade, a qual envolveu, entusiasmou, e, acima de tudo, encantou. Ter-lhes-ão servido de preparativo duas outras apresentações desse mesmo Ciclo: uma na Feira mensal da aldeia de Sul, ali tão próxima, ali tão vizinha, no 14 de julho; e, como é óbvio e de todos sabida, a que apareceu no programa da RTP “Verão Total”, a 23 do mesmo mês, e que levou o nome e as gentes desta terra um pouco mais além das suas tradicionalmente exíguas fronteiras.
Fora isto, agosto foi, tal como costuma, de resto, ser nos outros anos, o mês do passeio anual da ACDR. Este ano, o destino de eleição foram as ruínas de Conímbriga, com passagem, a posteriori, pela cidade de Coimbra e, por fim, regresso pela vila de Lorvão, onde se visitou o respectivo Mosteiro. A satisfação, no final, estava bem estampada nos rostos dos que participaram, ficando a vontade de, para o ano, naturalmente com outros destinos no menu, se repetir a experiência.
Para trás, a 28 de julho, ficou ainda a Rota dos Romeiros, evento realizado em parceria com o Município de S. Pedro do Sul e com a Associação Aldeias de Magaio, e que se vem repetindo ano após ano. Conduz os peregrinos desde junto à Igreja de S. Martinho das Moitas até ao Alto de S. Macário, donde podem, chegando ali, apreciar o nascer do Sol. Este ano, o S. Pedro, quiçá por pirraça ou traquinice para com o santo S. Macário, decidiu trocar as voltas aos romeiros e, em vez do habitual bom tempo, brindou-os com neblina e aguaceiros. Não contou o S. Pedro foi com a determinação daqueles últimos, que, com o mesmo entusiasmo e boa disposição, marcharam, encosta acima, até ao seu desejado cume.
Assim se foram o julho e, como atrás salientámos, o efervescente agosto. As actividades da ACDR prosseguem, num futuro próximo, com a Cascada do Milho. Para os aficionados destas andanças, repetimos-vos o lugar onde poderão pôr-se ao corrente do que por tais bandas se vai fazendo, para “entretém” desta existência: o grupo Amigos de Rompecilha, no Facebook, e, é claro, volta e meia, nas páginas desta Gazeta.
Fica aqui, para remate de conversa, o mais sincero e profundo “bem-haja” a quantos nos visitaram e participaram nas nossas actividades. Contamos convosco para futuras oportunidades, pois é trazendo-nos um pouco da vossa vida que a vida desta aldeia ganha, com certeza, outro ânimo, e, assim, Rompecilha com vida…convida! Até breve!…
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