A. Moniz de Palme (Ed. 700)

O Culto da Imaculada Conceição e a Santa da Máscara de Seda – 2ª Parte

O Culto da Imaculada Conceição e a Santa da Máscara de Seda – 2ª Parte

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Continuando a descortinar a vida de Santa Beatriz da Silva, após a mesma ter escapado do baú onde tinha sido encerrada, direi de fonte segura, que a Santa abandonou a Corte onde se tinha dado tão mal, devido à sua extrema beleza. Escolheu trocar os privilégios da Corte pela reclusão num convento de freiras dominicanas, escondida atrás de um véu, até que Deus a levasse deste mundo. Convém esclarecer que, ao longo dos séculos, esta aparição da Virgem à Santa Beatriz, durante a sua clausura forçada dentro de uma arca, foi tratada por diversos pintores, sendo tal passagem e o correspondente milagre divulgado pelo mundo de língua castelhana e portuguesa. Como já referi, teve então, Beatriz autorização para se retirar da Corte e ir para Toledo, para o Mosteiro de S. Domingos, o Real, onde passou a viver em penitência e oração permanentes, sempre com a cara velada, para que a sua formosura não fosse mais motivo do mortal pecado da inveja.

Exactamente como na novela histórica do Máscara de Ferro, voluntariamente, a Santa Beatriz arranjou uma máscara ou cobertura de pano, talvez de seda, que usava permanentemente e, desse modo, não mais ninguém lhe podia ver o rosto. Mesmo assim, tal beleza era tão admirada e cantada pela generalidade da população que o escritor Alexandre Borges, no seu livro “Histórias Secretas de Reis Portugueses”, refere ter Tirso de Molina, grande dramaturgo e, um dos fundadores do teatro espanhol, em parceria com Lope de Vega e Calderón, ter posto na boca do Rei D. Juan II, numa das suas peças de teatro, a significativa frase – ”Beatriz, mulher tão bela, que só a Deus merece”. Lembro que Tirso de Molina era o nome artístico de Frei Gabriel Tellez, que ingressou na Ordem de la Merced, em Guadalajara, onde professou.

Mas voltemos a Beatriz da Silva que, por intercessão de Isabel a Católica, o Papa Inocêncio III autorizou a fundar o Mosteiro da Conceição da Ordem da Imaculada Conceição. Foi dele que irradiaram as Irmãs Concepcionistas, que deram a conhecer ao mundo o Culto da Imaculada Conceição. Para a concretização desse objectivo, a Rainha D. Isabel doou-lhe os palácios de Galian e a Igreja de Santa Fé para instalar o novo convento. Foi dele que, através dos tempos, as Irmãs Concepcionistas deram a conhecer ao mundo o Culto da Imaculada Conceição. Contudo terá que se ter em conta uma verdade histórica intransponível. Após a cena criminosa da prisão de Beatriz dentro de um baú, a situação mental da Rainha, apesar da sua aia a ter perdoado, iniciou um processo degenerativo imparável. Após o falecimento do Rei, seu marido, chegou a um extremo mental incontornável e foi segregada da Corte para o Castelo de Arévalo, de onde nunca mais saiu. A própria filha Isabel apenas a visitou quando a mãe estava a morrer. Encontrava-se imóvel na cama, não conhecendo ninguém. Contudo, Beatriz da Silva, sua antiga aia, teve um comportamento completamente diferente, pois deslocou-se várias vezes para a visitar e acarinhar, visitas que só se explicam pela veracidade do acontecido e pelo espírito de santidade de que Beatriz estava envolvida. No fundo, Isabel a Católica, com o apoio dado a Santa Beatriz da Silva, estava a tentar redimir o tresloucado comportamento da mãe em relação à sua aia. Após ter ajudado monetariamente a manutenção do Convento de São Domingos, em 1489, conseguiu levar a súplica da Santa Beatriz a Roma. O Papa Inocêncio VIII, pela Bula Inter Universa, autorizou formalmente a criação de Mosteiro da Conceição, sonho da Santa Beatriz da Silva. Todavia, a Bula foi enviada de Roma num barco que naufragou e a bula desapareceu nas profundezas do mar. Mas outro milagre aconteceu, a Bula desaparecida no naufrágio do barco que a transportava, apareceu misteriosamente dentro de um cofre do convento. Encontra-se actualmente em Toledo, onde pode ser vista. Está datada de 30 de Abril de 1489. Apesar da sua idade, Beatriz teve a grande alegria, de ver cumprida a ordem dada por Nossa Senhora. Mas novo milagre aconteceu. A Virgem Maria apareceu e comunicou-lhe que morreria dentro de dez dias e não tomaria o hábito nem o sonhado cargo de abadessa. Faleceu pouco depois, em Toledo, no ano de 1490, sem pronunciar os votos e assumir o cargo de madre fundadora. Vestiram-lhe então o hábito que iria usar na sua profissão de Fé. Pouco tempo antes de exalar o último suspiro, levantaram-lhe o véu que sempre a tinha acompanhado, para receber a Extrema e Santa Unção. Para espanto de todos, do rosto da Santa Beatriz saíam raios de luz que iluminavam todo o aposento e, na sua testa, estava uma estrela brilhante que ali permaneceu até expirar.

Santa Beatriz da Silva foi beatificada pelo Papa Pio XI, em 28 de Julho de 1926, e santificada em 3 de Outubro de 1976 pelo Papa Paulo VI.

Como já referi, o culto desta Santa expandiu-se por todo o mundo de língua portuguesa e castelhana. Além de uma Casa Museu Santa Beatriz, em Campo Maior, várias associações religiosas veneram esta Santa, cuja festa litúrgica é a 17 de Setembro. Existe, igualmente, uma Real Irmandade de Santa Beatriz da Silva, que leva a cabo celebrações em Sua Honra.

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Redação Gazeta da Beira