António Bica (Ed. 715)

PAC (parte 17 - final)

707_drbica_pac

Este texto “Algumas questões da agricultura portuguesa. A progressiva desertificação humana nas áreas de economia agrícola dominante do norte e centro do país” está subdividido em 17 pontos, pelo autor, António Bica.
Na sequência da publicação da 1ª parte deste artigo, na Gazeta da Beira nº696 de 12/05/2016 para facilitar a leitura do texto e uma vez que se trata de um artigo extenso, esta é a 17ª e última parte.

A necessidade de concentração da oferta dos produtos agrícolas para se competir no mercado, incluindo para além das fronteiras portuguesas, e outras medidas

A pequena e média agricultura tem que ser capaz de concentrar a oferta para poder competir no mercado, incluindo o internacional.

Essa necessidade resulta do comércio já estar, no essencial, organizado em grandes superfícies comerciais que não são compatíveis com compras em pequena escala e sem uniformidade de produtos.

Isso não se consegue facilmente sem decisivo apoio por parte dos poderes públicos na constituição de centrais de comercialização, tanto quanto possível nas mãos dos pequenos e médios agricultores, nomeadamente sob a forma de cooperativa, que incluam apoio técnico à produção, planificação da produção para responder às exigências do mercado de consumo, concentração dos produtos e assegurando-se, desse modo, poder de negociação quanto a preços e prazos de pagamento junto das grandes superfícies comerciais e garantir fornecimentos de qualidade às cantinas públicas.

Esta medida deverá ser acompanhada com apoios à promoção do consumo de produtos nacionais de qualidade.

Quanto ao sector leiteiro em Portugal, que tem maior expressão no litoral norte e centro, se se mantiver a eliminação das quotas leiteiras, precisa de apoios aos pequenos e médios produtores de leite sem dimensão para serem competitivos no mercado internacional do leite para converterem as suas explorações, adaptando-as a produções que possam ser competitivas. OS apoios podem incluir o redimensionamento da exploração de leite por associação entre produtores.

A avicultura em Portugal tem suficiente dimensão para garantir o auto abastecimento e para exportação.

Actualmente a produção avícola do país está dependente fundamentalmente de duas grandes empresas que atuam no país que mantêm economicamente subordinados, no que é designado por integração, a generalidade dos avicultores. É de admitir que haja práticas de cartelização entre as duas grandes empresas integradoras da produção avícola, em prejuízo dos avicultores e do mercado de consumo.

Será desejável que o poder público apoie a constituição de mais uma ou duas organizações integradoras da produção avícola, nomeadamente sob forma cooperativa. Há que se ter em conta que em Portugal a tradição de organização cooperativa para a recolha e industrialização do leite sob forma cooperativa levou a que o sector de recolha, industrialização e comercialização do leite se mantenha em Portugal em mãos de estruturas cooperativas dos produtores de leite.

O apoio à instalação de jovens agricultores para produção pecuária não abrange apoio à compra de animais para produção e reprodução, o que, dado constituir um encargo financeiro muito elevado tem dificultado a viabilidade das explorações de jovens em pecuária. Por outro lado o valor do prémio de instalação, que destinando-se a assegura o mínimo de rendimento pessoal ao jovem agricultor durante os anos iniciais que era igual para todos independentemente da dimensão da exploração, actualmente privilegia os grandes projectos, o que dificulta a instalação de jovens agricultores nas regiões do Interior Norte e Centro.

A Lei do Baldios foi alterada por Lei da Assembleia de República durante o governo PSD/CDS (2011 a 2015). As alterações feita à Lei visaram fazer confundir progressivamente o sector económico privado com o sector comunitário constituído fundamentalmente pelos Baldios. Com esse objectivo essa alteração legislativa tornou possível que os baldios sejam arrendados, o que pode ser feito a longo prazo, como permite a Lei do arrendamento para fins florestais. Se se não se puser fim a esta possibilidade, é de prever que os grandes interesses madeireiros venham a arrendar por muitas dezenas de anos áreas progressivamente mais vastas de baldios afastando desse modo as populações rurais do interior Norte e Centro que é onde há maior área de Baldio (cerca de 400 mil há). Por isso, torna-se necessário que se altere a actual lei dos Baldios de modo que se garanta a preservação do sector económico comunitário do país.

O mesmo governo PSD/CDS promoveu alteração por lei da Assembleia da República do Código Cooperativo, revogando o anterior. A estrutura organizativa sob forma cooperativa é a mais adequada aos pequenos e médios agricultores, porque é democrática e baseada no princípio de cada associado um voto. A alteração legislativa feita ao Código Cooperativo pelo PSD/CDS visou introduzir nas organizações económicas cooperativas o direito de voto a quem se proponha investir nelas. Isso foi feito para permitir aos especuladores financeiros dominarem as cooperativas de forma a aproveitar os benefícios, nomeadamente fiscais que são dados às cooperativas porque são organizações de pequenos e médios produtores.

Haverá que revogar o novo Código Cooperativo promovido pelo governo PSD/CDS e repristinar o Código Cooperativo que foi revogado por iniciativa do mesmo governo.

Revogar também as alterações à lei dos baldios e alterá-la de modo a melhor regular todo o subsector dos meios de produção comunitários previsto na Constituição.

————————————————————————————————————————————-

Mais artigos:

Algumas questões sobre a gestão dos baldios em regime de associação com o Estado (parte 16)
Os terrenos mediterrânicos com arvoredo florestal e a mato que forem arborizados devem beneficiar de apoios ao rendimento pela PAC (parte 15)
Os terrenos mediterrânicos com arvoredo florestal e a mato que forem arborizados devem beneficiar de apoios ao rendimento pela PAC (parte 14)
A política agrícola mais racional e económica com maior garantia de segurança alimentar a nível mundial (parte 13)
As nefastas consequências sobre menos desenvolvidos da subsidiação agrícola pelos países mais industrializados (parte 12)
Os agricultores e os cidadãos europeus beneficiarão com a reforma da política agrícola (parte 11)
A questão da chamada soberania alimentar (parte 10)
A subsidiação e a restrição da produção agrícola não é o que melhor serve os interesses dos agricultores mediterrânicos (parte 9)
Em conjunto com os demais países mediterrânicos há que impor na UE políticas agrícolas que atendam aos interesses dos agricultores desses países (parte 8)
A progressiva desertificação humana no norte e centro do país (parte 7)
É o agravamento de impostos sobre os terrenos a floresta e a mato não é racional. Há que tomar outras medidas (parte 6)
Impõe-se tomar eficazes medidas preventivas dos fogos florestais e nos matos, havendo, para isso, que atribuir ajudas ao rendimento pela PAC (parte 5)
O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (40)
O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (39)
O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (38)
O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (37)
O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (36)
NORTE E CENTRO – A PEQUENA E MÉDIA PROPRIEDADE A MATO E A ARVOREDO FLORESTAL
Na Guerra de 1967 os Palestinianos não abandonaram a sua terra
A política dos EUA para dominar o petróleo do Médio Oriente
A emigração política para a Palestina
A origem da Declaração Balfour
Os Judeus beneficiaram da tomada do poder na Europa pela burguesia
Viajando no tempo com as palavras e Reflexões sobre a vida e o mundo (27)
Reflexões sobre a vida e o mundo (26)
•  Reflexões sobre a vida e o mundo (25)
•  Reflexões sobre a vida e o mundo (24)
Reflexões sobre a vida e o mundo (23)
Reflexões sobre a vida e o mundo (21 + 22)
Reflexões sobre a vida e o mundo(20)
Reflexões sobre a vida e o mundo (19)
Reflexões sobre a vida e o mundo (18)
Relexões sobre a vida e o mundo (17)
Reflexões sobre a vida e o mundo (16)
•  Os Baldios
Reflexões sobre a vida e o mundo (15)
Reflexões sobre a vida e o mundo (14)
Reflexões sobre a vida e o mundo (13)
Reflexões sobre a vida e o mundo (12)
Reflexões sobre a vida e o mundo (11)
Reflexões sobre a vida e o mundo (10)
Reflexões sobre a vida e o mundo (9)
Reflexões sobre a vida e o mundo (8)
Reflexões sobre a vida e o mundo (7)
Reflexões sobre a vida e o mundo (6)
Reflexões sobre a vida e o mundo (5)
Reflexões sobre a vida e o mundo (4)
Reflexões sobre a vida e o mundo (3)
Reflexões sobre a vida e o mundo (2)
Reflexões sobre a vida e o mundo (1)
Desenvolvimento económico, social e político com respeito pela natureza e pelos princípios de igualdade, liberdade e solidariedade (31)