A. Bica (Ed. 698)

A retirada dos judeus de Gaza depois da Segunda Intifada (38)

A retirada dos judeus de Gaza depois da Segunda Intifada

• António Bica

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A morte do respeitado líder palestiniano Arafate, o menor prestígio do seu sucessor e a aguerrida luta na Faixa de Gaza do aí maioritário movimento político do Amas, rival da OLP, levou este movimento a prestigiar-se politicamente nesse território.

Em 2006 em eleições legislativas gerais em toda a Palestina disputadas entre a OLP e o Amas, este movimento foi o mais votado. Era de esperar que viesse a formar governo de acordo com a vontade livremente expressa nas eleições. Mas Israel logo apoiado pelos EUA opôs-se a isso. Assim o poder dividiu-se, por imposição de Israel entre a Faixa de Gaza governada pelo Amas e a Palestina cisjordana governada pela OLP.

Nesse ano de 2006 os judeus de Israel invadiram de novo o Líbano, havendo indícios, noticiados pela revista nortamericana The New Yorker, de que o fez para destruir ou enfraquecer significativamente o Hesbolah que se constituíra em 1982 como movimento político e paramilitar xiita com apoio do Irão. O Hesbolah fez frente à invasão com eficácia, obrigando o exército judeu de Israel a retirar em 14 de Agosto, 34 dias depois do início da invasão. Desse conflito resultaram 1200 mortos libaneses e 154 judeus quase todos militares.

Israel para tentar fazer cair do poder o Hamas na Faixa de Gaza apertou o controle das fronteiras dela com a colaboração do Egipto então governado por Mubáraque, dificultando fortemente a entrada de bens essenciais, incluindo alimentos e medicamentos. Alguns habitantes fundando-se em legítima defesa retaliaram com o disparo de alguns foguetes contra o sul de Israel. Os Judeus de Israel responderam com a operação militar Chumbo Fundido iniciada por intensos ataques aéreos em 27 de Dezembro de 2008 com uso de bombas de fósforo proibidas pelo direito internacional e em 2009 ocuparam o território, prosseguindo a operação até 21 de Janeiro. Os judeus de Israel durante a operação mataram 1314 palestinianos, dos quais mais de metade civis, danificaram cerca de 20000 casas, destruíram mais de 5000, e ainda 16 edifícios públicos, incluindo um hospital, e 20 edifícios religiosos. As infrastruturas de abastecimento de água, electricidade e de combustíveis foram severamente danificados.

Em Agosto de 2005 Israel entendeu que não tinha condições para manter a ocupação militar e por colonos judeus de Gaza, que é pequena faixa de terra na margem oriental do Mediterrâneo, fazendo fronteira de 11 km a sul com o Egipto, e com Israel de 10 km a norte e de 41 km a oriente. A área de Gaza é de cerca de 400 km2, sendo habitada por cerca de 500.000 palestinianos. Todos os colonos e militares judeus que ocupavam Gaza a deixaram. A ocupação era cara e difícil, porque quase todo o território é ocupado por casas, sendo todo o território de Gaza cidade.

Mas os judeus não deixaram os palestinianos de Gaza em paz apesar de terem retirado completamente de Gaza. Porque a ocupação da Palestina foi declarada ilegal pelas Nações Unidas (ONU) é ilegítima. Com a retirada dos judeus do território de Gaza, segundo o direito internacional os habitantes desse território têm direito a sair e entrar livremente por terra através do Egipto, com que confina,  e também por mar com que margina, porque nos restantes lados é território ocupado por Israel, que mantém Gaza cercada por muro alto, impedindo também o acesso a ela  por mar.

Porque a ocupação da Palestina por Israel foi declarada ilegal pela ONU, com a retirada dos judeus dela, segundo o direito internacional podem entrar e sair livremente da faixa de Gaza por mar e por terra. Mas o governo egípcio tem cedido às pressões de Israel para que não o autorize, mantendo Israel vigilância apertada por mar para que ninguém passe por ele. E os EUA bloqueiam as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas para força Israel a não bloquear o acesso ao mar pelos palestinianos de Gaza.  Os judeus de Israel fizeram assim de Gaza território-prisão de 500.000 palestinianos com a colaboração do governo egípcio e a passividade da ONU forçada pelos EUA contra o direito internacional.

Os palestinianos passaram por isso a construir túneis por baixo dos muros para o território do Egipto para as pessoas e os bens circularem e para o território ocupado pelos judeus para os hostilizar em legítima defesa.

Israel retaliou contra isso em 2012 com ataques militares entre 14 e 21 de Novembro, que chamou “Pilar Defensivo”. A acção militar foi desencadeada com cerca de 1.500 ataques, tendo morrido cerca de 160 palestinianos e ficado feridos cerca de 1.200. Os palestinianos conseguiram matar 6 judeus e ferir cerca de 220.

Em 2014 o governo judaico fez novos ataques. Em 4 de Julho iniciou ataques aéreos a casas de Gaza. Em 9 de Julho na praia mataram 4 crianças que tomavam banho no mar. Em 17 de Julho invadiram Gaza por terra. Em 3 de Agosto desocuparam-na. Deixaram cerca de 100.000 casas destruídas com prejuízo de 6 mil milhões de euros e cerca de 2.000 palestinianos mortos. Os palestinianos mataram 70 judeus. A situação de cerco a Gaza mantém-se. É de esperar sucessivas repetições de ataques judaicos a Gaza.

 

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Redação Gazeta da Beira