António Bica (Ed. 687)

A emigração política para a Palestina

A emigração política para a Palestina

• António Bica

Acabada, com a derrota da Alemanha, a Primeira Grande Guerra em 1918, na sequência da proclamação, pelo governo inglês, da Declaração Balfour, os judeus procuraram intensificar a imigração para a Palestina, tentando aumentar em pouco tempo a população judaica a habitar nela e desse modo vir a dominar o país.

Acontecera entretanto a Revolução Russa de Outubro de 1917 liderada por Lénine. Milhões de judeus russos apoiaram a Revolução e alguns deles foram dela dirigentes, de que o mais conhecido foi Leão Trotsqui. O judeu alemão Kurt Eisner liderou o movimento revolucionário que administrou a Baviera de Novembro de 1918 a Fevereiro de 1919.  Na Hungria a revolução socialista que esteve no poder entre Março e Agosto de 1919 foi dirigida pelo judeu húngaro Bela Kun. Na Europa e nos Estados Unidos da América do Norte as ideias socialistas foram adoptadas por muitos dos judeus intelectuais e de condição modesta.

A imigração judaica para a Palestina criou, em pouco tempo, tensões sociais e económicas entre os imigrantes judeus e a população palestiniana. Na Galileia, logo em 1920, houve tumultos, em que se destacou a organização terrorista judaica Haganá comandada pelo judeu Jabotinsqui, que foi então preso.

Na Galileia, em 1920, houve tumultos, em que se destacou a organização terrorista judaica Haganá comandada pelo judeu Jabotinsqui, que foi preso com outros e condenado a 15 anos de prisão.

O governo inglês mandou, pouco depois, para governador da Palestina o inglês judeu Samuel, pondo a raposa a guardar o galinheiro. Das primeiras medidas que tomou foi decretar amnistia relativa aos tumultos de 1920 e libertar Jabotinsqui e os outros judeus culpados dos tumultos.

Outra corrente política (a do Partido Mizrachi) entendia que os judeus deviam deixar o trabalho manual para os palestinianos e dedicar-se só a administração pública, ao exército e à gestão das empresas. Jabotinsqui, o dirigente do Haganá, depois de amnistiado, esforçou-se por mobilizar os interesses capitalistas judeus em todo o mundo p Significativa parte dos novos imigrantes judeus para Palestina, de que um dos líderes foi Ben Gurion, mais tarde chefe do governo de Israel, defendia que o futuro estado judeu na Palestina deveria ser socialista, devendo organizar-se com base em cooperativas e empresas colectivas. Foi esta a corrente política fundadora dos kibutz que considerava que os judeus deviam, na Palestina trabalhar  como operários e agricultores.

Para financiar a emigração para a Palestina de cada vez maior número de imigrantes judeus. Entre esses imigrantes  esteve o judeu da Europa oriental, Begin, mais tarde chefe de governo de Israel. Jabotinsqui intensificou a organização e o treino militar dos imigrantes judeus com o objectivo de criar pela força um Estado Judeu.

De 1920 a 1930 a população judaica na Palestina passou de 80.000 para 160.000. Na década de 1930 a imigração de judeus reforçou-se. Em 1934 entraram 40.000. Em 1935, 62.000. Em 1939 havia 500.000 judeus na Palestina.

O governo inglês propôs então que se criasse um Estado judeu no território palestino em que os judeus, em consequência da forte corrente imigratória, se tornaram maioritários. Eram as  melhores terras da Palestina: a faixa junto ao Mar Mediterrâneo, a Galileia e o vale de Jezrael. O restante território constituiria o Estado Palestiniano. Jerusalém não pertenceria a nenhum dos dois  Estados propostos, devendo ser administrado pela Inglaterra. Os judeus opuseram-se firmemente, porque queriam um território maior com a capital em Jerusalém.

Na década de 1930, na Palestina, a luta política entre os imigrantes judeus socialistas e os capitalistas intensificou-se. Ben Gurion chamava a Jabotinsqui (defensor do capitalismo) “Vladimir Hitler”. Os partidários de Jabotinsqui assassinaram, em 1933, o líder socialista do partido O judeu alemão Kurt Eisner que havia liderado o movimento revolucionário que administrou a Baviera de Novembro de 1918 a Fevereiro de 1919. Os judeus europeus e norte-americanos mais sensatos e prestigiados condenaram o crescente radicalismo sionista e o seu desrespeito pelos Palestinianos. Em 1938 o prémio Nobel Einstein declarou: «Prefiro um acordo justo para judeus e árabes viverem juntos e em paz à criação de um Estado judeu. Tenho medo do que o judaísmo sofrerá com o desenvolvimento do nacionalismo egoísta judaico».

Mas Jabotinsqui, defensor de violência judaica, pregava: «Só um muro de ferro de baionetas judias poderá impor o Estado judeu».

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Redação Gazeta da Beira