O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (20)
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As tribos hebraicas
Os hebreus eram semitas que, segundo a Bíblia, emigraram do Vale do Tigre e do Eufrates para a terra de Canaã, hoje Palestina, talvez no início da metade do segundo milénio antes de Cristo. Talvez um século ou dois depois emigraram para o Egipto, tendo por volta do ano 1.300 antes de Cristo deixado o Egipto ou daí sido expulsos. Na sequência dessa expulsão conquistaram território na margem oriental do Mar Mediterrâneo, então designada Terra de Canaã, hoje Palestina, para nela se instalar. Os hebreus estavam organizados em 12 tribos, com fundação atribuída a 12 descendentes do hebreu Jacob, considerado filho de Isac e neto de Abraão.
Como já se referiu, os hebreus saíram do Egipto cerca do ano 1300 antes da nossa era pouco depois de a reforma religiosa monoteísta do faraó Aquenaton ter vigorado por cerca de 20 anos. Essa reforma, depois da morte desse faraó, foi derrotada, tendo sido reposto no Egipto o antigo sistema politeísta, com perseguição dos seguidores do monoteísmo. É admissível e provável que os hebreus tenham aderido à reforma monoteísta de Aquenaton, porque ela teria carácter humanista e pacifista por considerar todos os homens filhos do deus único, o que se deduz dos documentos arqueológicos diplomáticos da época encontrados há alguns anos, das características da sua arte plástica e dos seus textos religiosos. A Moisés, o chefe mítico que comandou os hebreus na saída do Egipto, é atribuída pela Bíblia educação na corte do faraó. Freud, no livro “Moisés e o Monoteísmo”, defende ser essa a origem do monoteísmo hebraico. Além da religião monoteísta os hebreus trouxeram do Egipto os fundamentos da sua cultura, nomeadamente os interditos alimentares (proibição de comer certos alimentos, incluindo a carne de porco) e a circuncisão.
As doze tribos hebraicas instaladas, depois da expulsão do Egipto, na Terra de Canaã, hoje designada por Palestina, unificaram, por volta do ano 1.000 antes de Cristo, o seu governo sob a autoridade de um rei, primeiro Saúl, a que sucedeu David e depois Salomão. A partir deste último rei, as tribos dividiram-se: As dez tribos do norte formaram um reino com capital na Samaria separado da tribo do sul, e a de Judá, que manteve a capital em Jerusalém, tendo absorvido a pequena tribo de Benjamim durante a época dos Juízes.
No fim do século oitavo antes de Cristo, a Assíria, reino do norte da Mesopotâmia, no território do actual Iraque, conquistou o reino das dez tribos hebraicas do norte com capital na Samaria e levou para a Assíria as suas classes dirigentes, que, com os anos, perderam a identidade hebraica. O povo miúdo hebraico continuou, como sempre acontece, agarrado à terra e aos rebanhos, já não a trabalhar para as classes dominantes hebraicas, que foram desterradas, mas para os novos senhores assírios. Esses agricultores e pastores hebraicos, privados das desterradas classes dirigentes, afastaram-se das normas e práticas religiosas do reino hebraico do sul, com capital em Jerusalém, passando a ser designados por samaritanos, tendo até ao tempo de Cristo, havendo referência a eles na parábola evangélica do Bom Samaritano.
Cerca de duzentos anos depois de ter conquistado as 10 tribos hebraicas do norte, a Assíria caiu por conquista da Babilónia que passou a dominar o território que era anteriormente da Assíria e se expandiu para sul, conquistando o reino hebraico da tribo de Judá com a capital em Jerusalém, no ano 586 antes de Cristo. Levou então para a Babilónia as classes dominantes judaicas como anteriormente fizera a Assíria com as das dez tribos hebraicas do norte de Israel.
Cerca de 50 anos depois de a Babilónia ter conquistado a Assíria os Persas passaram a dominar o largo império que se estendia da Índia ao Mediterrâneo Oriental, incluindo o reino da Babilónia. Seguiram os Persas política de unificação territorial com base no comércio e em tolerância cultural e religiosa. Em consequência dessa política de tolerância, em 538 antes de Cristo, os persas autorizaram os judeus das classes dominantes, até aí desterrados na Babilónia, a regressar às terras de origem, na Judeia e aí se auto-administrarem. O tempo decorrido de desterro (50 anos) não fora suficiente para apagar nos desterrados das classes dominantes judaicas a sua cultura e a religião.Com o regresso reconstruíram, esses judeus, o templo de Jerusalém e organizaram os textos bíblicos que hoje constituem o fundamental da Bíblia.
A identidade das 10 tribos hebraicas do norte, que passaram a ser designadas pelas dez tribos perdidas, desapareceu por ter durado quase duzentos anos o seu desterro na Assíria, onde os desterrados se misturaram com a população local, perdendo a identidade cultural e religiosa.
A identidade da tribo de Judá, com capital em Jerusalém, manteve-se porque a sua classe dominante esteve desterrada na Babilónia apenas 50 anos e pôde regressar ao território de origem e aí manter a identidade hebraica sob a designação de judeus.
• António Bica
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Redação Gazeta da Beira
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