A progressiva desertificação humana no norte e centro do país (parte 7)
Possíveis medidas para prevenção de fogos florestais. Necessidade de harmonizar o conflito entre o interesse dos pastores e o de manutenção de lobos
Este texto “Algumas questões da agricultura portuguesa. A progressiva desertificação humana nas áreas de economia agrícola dominante do norte e centro do país”, está subdividido em 17 pontos, pelo autor, António Bica.
Na sequência da publicação da 1ª parte deste artigo, na Gazeta da Beira nº696 de 12/05/2016 para facilitar a leitura do texto e uma vez que se trata de um artigo extenso, continuamos por mais 10 partes.
Sem se pretender esgotar as medidas de governação necessárias à paragem da progressiva e cada vez mais acelerada desertificação humana do norte e centro do país, referem-se as seguintes:
Terrenos a floresta e a mato. Há que tomar as medidas asseguradoras de que os matos sejam controlados de modo a não ultrapassarem altura de cerca de 30 cm. Em regime político democrático não devem nem podem ser medidas autoritárias. Pelo contrário devem ser estimuladoras do interesse dos compartes dos baldios e dos donos das pequenas e médias parcelas de terrenos de floresta em manter nelas os matos controlados; e arborizar as parcelas a mato, que em todos pode haver arvoredo florestal. Como se sabe a arborização dos terrenos a mato e o controlo do mato nos terrenos a floresta pode ser feito por dois processos:
Ou se corta o mato, o que tem custo relativamente elevado, actualmente (2014) cerca de 100 € por hectare e por ano, corte que tem que ser feito em média 1 vez em cada 3 anos, ou se deixa crescer o arvoredo florestal com densidade suficiente para o seu sombreamento impedir o desenvolvimento da vegetação arbustiva sob coberto das árvores. Se se optar por a densidade do arvoredo florestal impedir o desenvolvimento do mato sob coberto, até as árvores terem o desenvolvimento suficiente haverá que cortar o mato. A partir do desenvolvimento suficiente, deixará de ser preciso cortar o mato, sem prejuízo de ter que se cortar nas estremas da floresta, e nas áreas de aceiros. Para que se não perca o investimento florestal, haverá que pagar seguro anual que indemnize por prejuízos que mesmo nessas condições possam ocorrer. Todas essas despesas estimam-se actualmente (2014) em 100 € por hectare.
Ou, em vez de se densificar o arvoredo de modo a não haver mato no subcoberto, pode optar-se por fazer povoamento florestal pouco denso de modo que permita o desenvolvimento entre o arvoredo da vegetação arbustiva com bom potencial forrageiro (carqueja, tojo, giesta, urze arbustiva) para ser pastoreada por gado ruminante. Neste caso terá que se cortar o mato até o arvoredo florestal ter desenvolvimento que fuja aos dentes das ovelhas, das cabras e à acção das vacas. Quando o desenvolvimento do arvoredo florestal for suficiente, pode ser criado gado ruminante (ovelhas, cabras e vacas) entre o arvoredo florestal. O pastoreio, se for bem conduzido, assegurará o controlo do mato a altura não superior a 30 cm, sem prejuízo de para isso poder haver eventual ajuda de acção mecânica.
É possível o pastoreio ser feito com reduzida intervenção humana. O espaço de floresta em regime de silvopastorícia pode ser organizado com cercas em rede de arame suficientemente alta abrangendo cerca de 100 hectares com um ponto de água permanente e de qualidade para abeberamento dos animais e um abrigo rústico em madeira tratada (tábuas) onde os animais possam procurar abrigo se quiserem. A vigilância permanente de gado pode ser assegurada por dois cães pastores (por exemplo da raça do Montesinho), sem prejuízo de em cada dia o dono do gado (ou dos gados, nesse caso em sistema de vezeira ou adua, se houver gado de mais do que um dono) verificar eventual ocorrência de anomalias a remediar e levar alimento aos cães.
Nas regiões do país onde há lobos, haverá que deixar corredores suficientemente largos entre as cercas para circularem e se alimentarem. Como é conhecimento a reintrodução de lobos nas serras do norte do país fez abrir conflito entre o interesse dos pastores em proteger os seus rebanhos do ataque dos lobos e a necessidade de se alimentarem. Embora esteja prevista indemnização a pagar aos donos dos animais mortos por lobos, a burocracia necessária para prevenir fraudes é muito complexa e por consequência demorada. Esta contradição de interesses tem que ser solucionada para que a pastorícia no interior norte possa conviver com a existência de lobos. A solução poderá ser o ICNF, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, pagar aos pastores que pastoreiam o seu gado em regime de cercas organizadas cabeças em fim de vida económica útil (que têm baixo valor) para serem postas nos corredores entre as cercas e aí caçadas pelos lobos.
Se houver oposição atendível a abandonar aí os animais vivos para serem caçados pelos lobos, poderão ser mortos por processo que não cause sofrimento desnecessário e deixados para os lobos se alimentarem.
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Terrenos a floresta e a mato. Há que tomar as medidas asseguradoras de que os matos sejam controlados de modo a não ultrapassarem altura de cerca de 30 cm. Em regime político democrático não devem nem podem ser medidas autoritárias. Pelo contrário devem ser estimuladoras do interesse dos compartes dos baldios e dos donos das pequenas e médias parcelas de terrenos de floresta em manter nelas os matos controlados; e arborizar as parcelas a mato, que em todos pode haver arvoredo florestal. Como se sabe a arborização dos terrenos a mato e o controlo do mato nos terrenos a floresta pode ser feito por dois processos:
Ou se corta o mato, o que tem custo relativamente elevado, actualmente (2014) cerca de 100 € por hectare e por ano, corte que tem que ser feito em média 1 vez em cada 3 anos, ou se deixa crescer o arvoredo florestal com densidade suficiente para o seu sombreamento impedir o desenvolvimento da vegetação arbustiva sob coberto das árvores. Se se optar por a densidade do arvoredo florestal impedir o desenvolvimento do mato sob coberto, até as árvores terem o desenvolvimento suficiente haverá que cortar o mato. A partir do desenvolvimento suficiente, deixará de ser preciso cortar o mato, sem prejuízo de ter que se cortar nas estremas da floresta, e nas áreas de aceiros. Para que se não perca o investimento florestal, haverá que pagar seguro anual que indemnize por prejuízos que mesmo nessas condições possam ocorrer. Todas essas despesas estimam-se actualmente (2014) em 100 € por hectare.
Ou, em vez de se densificar o arvoredo de modo a não haver mato no subcoberto, pode optar-se por fazer povoamento florestal pouco denso de modo que permita o desenvolvimento entre o arvoredo da vegetação arbustiva com bom potencial forrageiro (carqueja, tojo, giesta, urze arbustiva) para ser pastoreada por gado ruminante. Neste caso terá que se cortar o mato até o arvoredo florestal ter desenvolvimento que fuja aos dentes das ovelhas, das cabras e à acção das vacas. Quando o desenvolvimento do arvoredo florestal for suficiente, pode ser criado gado ruminante (ovelhas, cabras e vacas) entre o arvoredo florestal. O pastoreio, se for bem conduzido, assegurará o controlo do mato a altura não superior a 30 cm, sem prejuízo de para isso poder haver eventual ajuda de acção mecânica.
É possível o pastoreio ser feito com reduzida intervenção humana. O espaço de floresta em regime de silvopastorícia pode ser organizado com cercas em rede de arame suficientemente alta abrangendo cerca de 100 hectares com um ponto de água permanente e de qualidade para abeberamento dos animais e um abrigo rústico em madeira tratada (tábuas) onde os animais possam procurar abrigo se quiserem. A vigilância permanente de gado pode ser assegurada por dois cães pastores (por exemplo da raça do Montesinho), sem prejuízo de em cada dia o dono do gado (ou dos gados, nesse caso em sistema de vezeira ou adua, se houver gado de mais do que um dono) verificar eventual ocorrência de anomalias a remediar e levar alimento aos cães.
Nas regiões do país onde há lobos, haverá que deixar corredores suficientemente largos entre as cercas para circularem e se alimentarem. Como é conhecimento a reintrodução de lobos nas serras do norte do país fez abrir conflito entre o interesse dos pastores em proteger os seus rebanhos do ataque dos lobos e a necessidade de se alimentarem. Embora esteja prevista indemnização a pagar aos donos dos animais mortos por lobos, a burocracia necessária para prevenir fraudes é muito complexa e por consequência demorada. Esta contradição de interesses tem que ser solucionada para que a pastorícia no interior norte possa conviver com a existência de lobos. A solução poderá ser o ICNF, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, pagar aos pastores que pastoreiam o seu gado em regime de cercas organizadas cabeças em fim de vida económica útil (que têm baixo valor) para serem postas nos corredores entre as cercas e aí caçadas pelos lobos.
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