Antonio Bica (Ed. 686)

O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (28)

A origem da Declaração Balfour

• António Bica

Ed686_BalfourO reconhecimento, no século 19, pelos Estados da Europa ocidental e central do direito de cidadania dos judeus possibilitou, na Europa e na América do Norte, a acumulação de riqueza pelos judeus no comércio, na indústria e na banca, a ocupação de lugares de destaque no ensino e na cultura e o crescimento demográfico na Europa de 2.000.000 para 7.000.000, sobretudo por afluxo de judeus donde não tinham condições tão favoráveis, como na Europa oriental, no norte de África e no médio oriente. Os judeus prosperaram então na Europa ocidental sobretudo nos Estados alemães.

O crescimento dos judeus em número, riqueza e influência cultural e política, o que se conjugou com a persistente atitude judaica de arrogância, sempre que os judeus têm poder e dinheiro, em relação à população comum não judia, criou ressentimentos antijudaicos especialmente nas camadas urbanas da população ainda não esquecidos desde que haviam sido expulsos na Idade Média da França, da Inglaterra e dos principados de fala alemã da Europa central que deram origem à Alemanha actual. Os socialistas do século 19, com destaque dos marxistas, lutaram consistentemente junto das classes trabalhadoras mais permeáveis ao antijudaísmo contra o crescente sentimento antijudaico: Augusto Bebel, socialista alemão, proclamava – «O anti-semitismo é o socialismo dos tolos.»

A publicação no século 19 do livro de Darwin sobre a evolução das espécies levou depois à generalização apressada e reaccionária como evolucionismo social às sociedades humanas contemporâneas da teoria evolucionista das espécies. Pegou então na Europa a ideia tola de se promoverem as populações nacionais a raças. A população de cada raça tendeu a autoproclamar-se como a melhor; os judeus, com o seu espírito tribal, fizeram o mesmo em relação a si. Foram os judeus e os alemães que mais longe levaram esse desvario civilizacional com negação dos valores de igualdade humana forjada na antiguidade clássica e generalizada pelo cristianismo.

Na Europa oriental eslava, aos judeus, aí muito numerosos por se terem refugiado nesses territórios quando na Idade Média foram expulsos da França, da Inglaterra e dos principados de língua alemã, não foi reconhecido o direito à cidadania, tendo sofrido medidas fortemente restritivas, o que os levou a voltar em grande número à Europa ocidental e central e a emigrar para a América, quando com as revoluções políticas e económicas liberais dos séculos 18 e 19, aí deixaram de ser perseguidos e lhes foi atribuída igualdade de direitos.

O afluxo desses judeus à Europa central e ocidental criou, entre os judeus que aí viviam, receio de se agravarem os sentimentos antijudaicos entre a população com perda dos direitos de cidadania já adquiridos. Isso conjugado com o velho messianismo judaico fez nascer o “sionismo”, termo criado em 1893 por Natan Birnbaum, de cuja ideia o primeiro grande defensor foi Herzl, seguido depois por Weizman. O nome resulta de Sião, uma das colinas de Jerusalém. O movimento judaico sionista queria constituir um Estado judaico com território próprio e politicamente autónomo.

O sionismo foi apoiado por toda a Europa, desde o czar da Rússia, ao imperador Guilherme II da Alemanha e o governo inglês. Porque se vivia a grande época de expansão imperialista europeia, admitiu-se que o território a entregar aos judeus poderia ser Chipre, que era então colónia inglesa, parte do Egipto (também então sob protectorado inglês), o Uganda (colónia britânica) e até, no sul da Argentina, a Patagónia.

Mas os judeus mais conservadores queriam que lhes fosse entregue a Palestina, que era então território do império turco tal como a Arábia, a Jordânia, o Iraque, a Síria e o Líbano. Procurando criar situação de facto que se tornasse irreversível, os banqueiros judeus Rotschild financiaram a compra na Palestina de largas áreas de terras para aí instalar imigrantes judeus.

No início do século 20 o desenvolvimento económico industrial da Alemanha havia crescido de tal modo que a Inglaterra e a França procuraram travá-lo. O núcleo maior, mais forte, rico e prestigiado dos judeus na Europa era então o alemão. Os judeus estavam ao lado do imperador alemão, nomeadamente porque a Alemanha procurava expandir-se para leste à custa da Rússia, onde os direitos dos judeus estavam a sofrer restrições.

Em consequência dessas rivalidades económicas e políticas em 1914 iniciou-se a Primeira Grande Guerra. A Áustria invadiu a Sérvia; a Alemanha invadiu a França; a Rússia sua aliada atacou os alemães a oriente e a Inglaterra com todo o seu império apoiou a França; o império Turco aliou-se à Alemanha. Começou a maior guerra da história do mundo até então com utilização de eficientes tecnologias industriais de matar. Para os países em guerra tornou-se evidente que quem desenvolvesse melhor tecnologia industrial com produção  massiva de armamento eficaz ganharia a guerra.

A Inglaterra, cuja indústria não estava a conseguir assegurar suficiente armamento militar com risco de a Alemanha ganhar a guerra, procurou aliciar os mais ricos capitalistas judeus incluindo da Alemanha para apoiar com os seus capitais a indústria militar inglesa e assim reforçar a frente militar anglofrancesa contra os alemães. Os sionistas judeus, porque a Inglaterra ocupava o Egipto e se propunha atacar os territórios do Médio Oriente do império turco, negociaram esse apoio contra o compromisso de ser criada uma pátria judaica na terra da Palestina então sob domínio turco.

Assim o governo inglês negociou com o chefe sionista Weizman e os banqueiros judaicos o apoio dos capitais judeus em troca de conquistar a Palestina, de não lhe dar independência e de nela instalar os judeus.

As negociações foram concluídas em 2 de Novembro de 1917 e formalizadas com a declaração Balfour, nome do ministro dos negócios estrangeiros da Inglaterra durante a Primeira Grande Guerra, Arthur James Balfour. Começa a declaração: “ Caro Lorde Rothschild, alegro-me em poder comunicar-lhe, em nome de Sua Magestade, a seguinte declaração de simpatia pelo movimento judaico sionista apresentada e aprovada pelo gabinete oficial: A construção de uma pátria para os judeus na Palestina  é vista pelo governo de Sua Majestade com bons olhos”.

A Inglaterra, com esse acordo, captou o apoio financeiro dos judeus alemães ao esforço de guerra inglês contra a Alemanha, o que contribuiu decisivamente para a derrota da Alemanha na Primeira Grande Guerra em 1918 e veio depois a intensificar os sentimentos antijudaicos que o nazismo, que se autoqualificava como socialista, demagogicamente usou na procura de apoio popular.

A Inglaterra no final da guerra conquistou à Turquia a Arábia, a Jordânia, o Iraque e a Palestina. Durante guerra o seu agente nesses territórios mais conhecido contra a Turquia foi o conhecido “Lourenço da Arábia” popularizado em filme, autor do livro notável “Os sete Pilares da Sabedoria”. Depois da derrota da Turquia a Inglaterra entregou o governo desses territórios a chefes tribais que deram origem às monarquias da Arábia, da Jordânia e do Iraque, tendo o cuidado de autonomizar desses novos reinos os vários minúsculos emiratos do golfo, que era onde, na época, se explorava petróleo, ou se sabia que havia petróleo explorável. Entregou esses territórios a pequenos emires locais com a condição de serem submissos aos interesses das grandes empresas petrolíferas.

À Palestina não foi dada a independência. Intencionalmente, no cumprimento da Declaração Balfour, foi conservada como colónia, tendo sido facilitada a imigração massiva de judeus para quem os banqueiros judeus Rothschild procuraram comprar, sem olhar a preço, toda a terra palestiniana que puderam, ao mesmo tempo que os armaram fortemente com a complacência dos ingleses.

Em 1948 os ingleses, sem desarmar os judeus, abandonaram a Palestina. De imediato os judeus iniciaram acções militares contra a população palestiniana desarmada, com expulsão de todos os habitantes locais, e morte dos que não fugiram.

Assim nasceu o Estado de Israel que os Estados Unidos da América passaram pouco depois a apoiar pouco para lhes servir de testa de ponte militar destinada a ser  guarda avançada a garantir o abastecimento de petróleo do Médio Oriente. Para assegurar a sobrevivência dessa máquina de guerra os EUA protegem incondicionalmente Israel, usando sempre o direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas em todas as deliberações condenatórias da sua ocupação ilegal do território da Palestina e pagando-lhe anualmente o equivalente a 5 mil milhões de euros.

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Redação Gazeta da Beira