A. Bica (14)

Reflexões sobre a vida e o mundo (14)

O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE  (14)

Reflexões do falecido José Pereira sobre a vida e o mundo em manuscrito que me foi confiado

CONCLUSÃO DE “A HIPÓTESE DE UNIVERSO TER ORIGEM EM EXPLOSÃO INICIAL É CADA VEZ MAIS SEGUIDA, MAS É ADMISSÍVEL O UNIVERSO NÃO TER LIMITE NO TEMPO E NO ESPAÇO SEMPRE RECICLANDO A MATÉRIA DE QUE SE COMPÕE”

 

Das observações do universo que até agora (2015) tem sido possível fazer não há que concluir necessariamente que o universo surgiu do nada pelo big bang nem que é como eterno coração (ou eternos corações na concepção de universo múltiplo ou multiverso) que sempre se contrai e expande na infinitude do espaço e do tempo.

A partir do que actualmente observamos com os nossos sentidos e o auxílio de instrumentos cada vez mais aperfeiçoados e inovadores, é admissível a hipótese de, tal como o sentimos, não ter o universo limite no tempo e no espaço. Embora a mente humana não consiga compreendê-lo ilimitado, também não o consegue entender sem limites, que logo se questiona: O que havia antes do tempo? O que está para além do limite do universo? Os humanos são como crianças que sempre replicam a resposta que se lhes dá a pergunta e que as não satisfaz: “porquê?”.

Quanto à observação do que parece ser alargamento das ondas electromagnéticas (que chegam à Terra), alargamento que é tanto maior quanto mais distantes da Terra estão os pontos emissores delas, não se pode deixar de admitir que novas observações com melhores ou novos instrumentos de observação poderão levar a conclusão de que isso não se deve à expansão do universo em contínuo alargamento do espaço entre as galáxias. Poderá ser devido a afectação das ondas electromagnéticas pelas chamadas matéria “negra” e energia “negra” (que não pode deixar de corresponder a matéria por a energia se propagar necessariamente em meio material). Os físicos designam-nas “negras” porque desconhecem as suas características, consequentemente ignorando como e em que medida afectam a radiação electromagnética que por elas se propaga. Dessa afectação é que resultará o seu alargamento, que será tanto maior quanto mais larga a distância entre o ponto emissor das ondas e a Terra onde são observadas. As ondas electromagnéticas poderão ser afectadas pela matéria interestelar e intergaláctica por que se propagam com consequente alargamento das respectivas ondas, efeito que tem sido interpretado pelos defensoras da teoria do big bang como resultar do conhecido “efeito de Doppler”. Como se sabe o efeito de Doppler corresponde a alargamento de ondas sonoras e das electromagnéticas emitidas por fonte que se afasta ou aproxima do ponto receptor delas.

Os defensores do modelo, cada vez menos seguido pelos físicos, de o universo não ter princípio nem fim no tempo e no espaço, sendo estacionário, confrontados com o desvio para o vermelho das ondas electromagnéticas, porque não souberam explicar esse desvio senão como resultado do afastamento entre si das galáxias, concluíram que teria de ser permanentemente criada nova matéria para preencher o espaço continuamente alargado entre as galáxias que aparentemente sempre se distanciam umas das outras. Foi concessão teórica de quem está a sentir falhar a teoria que defende sem ousar propor outra razão distinta do “efeito de Dopler” para o “desvio para o vermelho” das ondas electromagnéticas, que corresponde ao seu alargamento. Assim o modelo estacionário de universo aceitou haver constante criação de nova matéria no universo sem explicar como era criada; do mesmo modo o modelo de universo iniciado pelo big bang atribui a origem de toda a matéria a explosão inicial sem explicar como foi criada. A hipótese admissível explicativa do alargamento das ondas electromagnéticas observadas na Terra ser tanto maior quanto mais distante está o correspondente ponto emissor é a matéria interestelar e intergaláctica afectar a propagação através dela das ondas electromagnéticas causando o seu alargamento, o que corresponde o seu desvio para o vermelho. O desenvolvimento de novos instrumentos que vierem a permitir observações de que isso se possa deduzir poderá vir a contradizer a teoria do big bang hoje seguida por quase todos os físicos.

Teremos que admitir que os humanos nunca poderão compreender inteiramente o Universo. A maior dificuldade não estará no entendimento da sua estrutura acima do átomo, mas abaixo dele até aos seres ou realidades mais simples dela constituinte.

Mas como já foi anteriormente referido o mais racional será considerar o universo ilimitado no espaço e no tempo, portanto sem origem. Existe em contínuo movimento, o que é observado pelos nossos sentidos, embora não se explicando porque existe.

A matéria organizada em átomos observada pelos meios que a actual tecnologia possibilita, organiza-se no espaço por interacção entre a gravidade e a inércia. A gravidade interatrai os corpos, fazendo-os mover uns em relação aos outros. A inércia dos corpos em movimento tende a fazê-los continuar a mover em linha recta com tendencial afastamento. Mas, ao afastarem-se, a força da gravidade faz desacelerar, pela atracção, o movimento de afastamento, causando nova aproximação mútua com aceleração seguida, por acção da inércia, de novo afastamento, e assim sucessivamente. Estas interacções são de tal modo diminutas que os corpos celestes se movimentam uns em redor dos outros em aparente curva regular.

Se não houvesse matéria no espaço interestelar e intergaláctico a causar resistência, embora muitíssimo ténue, ao movimento dos corpos no espaço, a interacção entre a força da gravidade e o efeito de inércia faria com que os corpos celestes eternamente se movessem entre si, sem nunca alterar as suas posições relativas, num universo para sempre sem alteração. Essa matéria, embora muito ténue, exerce, por atrito, efeito desacelerador que reduz o da inércia, desequilibrando muito lentamente o movimento a favor da atracção pela gravidade. Em consequência os corpos ao gravitar uns em relação aos outros tendem a juntar-se em regra a muitíssimo longo prazo, vindo a fundir-se. Assim os corpos celestes circulam no espaço uns em redor de outros, e os conjuntos deles em redor de outros conjuntos. No muito longo decurso do tempo, ao ser a inércia vencida pela gravidade em consequência do muito ténue atrito que a matéria intra e intergaláctica exerce sobre os corpos em movimento, resultam grandes concentrações de matéria com libertação de enormes, frequentemente cataclísmicas, quantidades de partículas atómicas e realidades subatómicas, com regresso da matéria ao espaço interestelar e ao intergaláctico, onde se reorganizam de novo em matéria escura, em imensas nuvens de poeira interestelar, em estrelas, planetas e outros corpos celestes, por ciclos sem fim de concentração e dispersão da matéria.

 

Esse regresso da matéria de um corpo celeste ao espaço processa-se também pela radiação emitida pelas estrelas, a sua explosão, a perda de matéria pelos chamados buracos negros (segundo teorizaram os físicos soviéticos Yakov Zeldovich e Alexander Starobinsky antes de 1973 e, depois, Stephen Hawking), a radiação dos quasares, e de outras formas.

No actual estádio de desenvolvimento científico e tecnológico este será o mais razoável entendimento do universo, apesar da generalidade dos físicos ter actualmente como quase dogma a concepção da origem do universo em explosão inicial (big bang) criadora dele, esperando-se que o desenvolvimento tecnológico permita aos humanos continuar a avançar no seu conhecimento, que será sempre quase nada da complexíssima realidade do universo. Integrando os humanos o infinito universo (no espaço e no tempo), de que não são mais do que minúscula parte, a total compreensão dele estar-lhes-á vedada por impossibilidade de observação da sua total realidade acima do átomo e sobretudo abaixo dele. A capacidade humana de raciocínio abstracto, apesar disso, sempre impeliu os humanos a querer alargar cada vez mais o conhecimento do universo, e sempre irá impelir.

NOTA: A transcrição do escrito pelo falecido José Pereira foi autorizada pela família.Redação Gazeta da Beira