O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (37)
A Primeira e a segunda Intifada
• António Bica
A primeira intifada e a visibilidade internacional que essa luta quixotesca das crianças palestinianas com paus e pedras contra os canhões e as metralhadoras dos judeus forçaram os israelitas a iniciar, em 1991, conversações em Madrid com os palestinianos.
À margem disso os palestinianos e os israelitas negociaram em Oslo a “Declaração de Princípios sobre o Período Transitório de Autonomia”, justificando ambas as partes o texto nos seguintes termos: “É tempo de pôr fim a décadas de conflito, reconhecer os legítimos direitos políticos recíprocos, esforçando-nos por viver em coexistência pacífica, dignidade e segurança mútuas, alcançar um acordo de paz justo, duradouro e global e a reconciliação histórica.»
Em 13/9/1993, na capital dos EUA, Isac Rabin, primeiro ministro de Israel, e Yasser Arafat, em cerimónia pública para todo o mundo, formalizaram os acordos de Oslo, que previam:
– período de autonomia de 5 anos da Cisjordânia e de Gaza durante o qual a Autoridade Palestiniana administraria a vida dos palestinianos;
– retirada do exército judeu das cidades e das aldeias por ele ocupadas;
– negociação posterior das questões das fronteiras, de Jerusalém, dos refugiados e dos colonatos.
Depois de 1993 foram assinados cerca de 10 acordos, nomeadamente sobre a libertação dos palestinianos das prisões judaicas, a construção do porto de Gaza para servir o Estado Palestiniano, a construção de passagem segura para os palestinianos entre Gaza e a Cisjordânia. Mas os judeus arrastaram os pés no cumprimento dos acordos, recusando-se a cumprir as datas fixadas. Isac Rabin, que firmou os acordos, declarou mesmo que «nenhuma data é sagrada», afirmando o direito ao protelamento unilateral e sucessivo do cumprimento do acordado.
Os judeus mais radicais e intolerantes, os que querem expulsar de toda a Palestina os palestinianos, não perdoaram a Isac Rabin estes acordos e assassinaram-no em 4/11/1995.
Sucedeu a Rabin o governo judeu de direita chefiado por Netaniau que procurou todos os pretextos para não cumprir os acordos de Oslo. Seguiu-se-lhe depois, como primeiro ministro, o trabalhista Barac, que continuou a recusar cumprir os acordos de Oslo; nomeadamente recusou-se a retirar o exército judeu da Cisjordânia. Na Primavera de 2000, quando desde 1998 a Palestina já devia estar livre e independente da ocupação pelos judeus, Barac aceitou prosseguir as negociações com a Autoridade Palestiniana sobre o traçado das fronteiras entre Israel e a Palestina, o destino dos 3,7 milhões de refugiados palestinianos expulsos das suas terras em 1948 pelos judeus e o estatuto de Jerusalém. Verdadeiramente Barac não queria dar à Palestina independência, mas apenas autonomia limitada, continuando Israel a controlar militarmente a Palestina, incluindo as fronteiras, propondo-se anexar para Israel 9,5 por cento do território palestiniano e manter a ocupação por tempo indefinido do território palestiniano ao longo do rio Jordão, o que corresponde a 10% do território palestiniano, manter a ocupação da terra palestiniana pelos colonatos judeus e não reconhecer direitos aos refugiados palestinianos. Embora reconhecendo que os palestinianos têm direito a parte de Jerusalém, opôs-se a que fossem definidas as linhas de separação entre a parte judia e a parte palestiniana da cidade.
Para fazer fracassar estas negociações, em 28/9/2000, Ariel Sharon, assumindo a vontade de radicais e extremistas judeus, entrou provocatoriamente na área da mesquita de Jerusalém acompanhado de homens armados.
Essa profanação religiosa exasperou os palestinianos que, em resposta, iniciaram a Segunda Intifada. De novo o povo palestiniano desarmado se opôs com paus e pedras ao exército judeu armado com canhões e metralhadoras.
Depois do início da segunda Intifada, em 2000, o judeu Sharon foi nomeado primeiro ministro de Israel. Tem, desde então, mostrado indiferença pelo sofrimento dos palestinianos, recusa-se a reconhecer o direito do povo palestiniano a estabelecer um Estado soberano e independente com unidade territorial, a admitir o direito de quase 4 milhões de refugiados palestinianos a solução justa para a expulsão violenta das suas terras a que os judeus os sujeitaram em 1948, a restituir aos palestinianos a parte palestiniana de Jerusalém, direitos estes reconhecidos em resoluções da ONU.
O líder palestiniano Arafate recusou-se a vergar às exigências de Sharon, que tem sido apoiado explícita ou tacitamente pelo governo norteamericano. Por isso Sharon, com o apoio do governo norteamericano, quis que Arafate abadonasse o poder. Com esse fim lançou nos grandes meios de comunicação internacional campanhas persistentes para o descredibilizar, acusando-o de corrupção e de terrorrismo (como se lutar pela liberdade e o direito do seu povo fosse terrorismo).
Arafate foi eleito pelo povo palestiniano que continuou a manter confiança no seu líder. Não era fácil afastar Arafate da liderança palestiniana por novas eleições. Por isso Sharon, com o apoio do governo norteamericano, tentou enfraquecer a liderança de Arafate, exigindo a nomeação de primeiro ministro que se vergou às exigências de Sharon. Foi processo de tentativa de divisão dos palestinianos e de enfraquecimento do seu líder sem êxito. Sharon continuou a oprimir e a assassinar os palestinianos, a alargar os colonatos judeus nas terras palestinianas, a arrasar casas. À legítima reacção dos palestinianos a essas agressões chamava terrorismo.
Para melhor se perceber a crueldade dos judeus israelitas refere-se o que aconteceu em 16 de Março de 2003, em Rafah, território palestiniano ocupado pelas tropas israelitas. Um soldado às ordens de Sharon atropelou mortalmente, com uma escavadora, Rachel Corrie, norte-americana, de 23 anos, pacifista que tentava impedir a destruição duma casa de palestinianos. Nascida em Olímpia, Estado de Washinton, Rachel Corrie, cidadã norteamericana, pertencia ao “Internacional Solidarity Movement” e estava, havia alguns meses, com seis jovens norteamericanos, como escudo humano na defesa de um grupo de casas do bairro de Salem, no sul da Faixa de Gaza, perto da fronteira com o Egipto. Nesse dia Rachel pôs-se em frente da habitação de um médico palestiniano que a tropa israelita pretendia demolir com uma escavadora. Confrontou-se com o condutor da escavadora, falando com ele por megafone e interpondo o seu corpo entre a parede da casa e a pá do bulldozer. A seguir Rachel caiu no chão derrubada pela máquina. O operador fez marcha-atrás e arremeteu de novo, esmagando-a. Consumado o assassínio, o soldado de Sharon deu volta e passou ao lado da jovem sem se deter.
O carrasco judeu não tolera que a vítima esboce gesto de legítima defesa. O governo norteamerciano, autoafirmado como patrão do mundo, assiste indiferente à terrível acção opressora, a estes crimes, ao quotidiano assassínio de palestinianos, ao roubo das terras, à destruição das casas, mesmo quando Sharon mandava matar cidadãos norteamericanos que se solidarizavam com os oprimidos palestinianos.
A organização israelita de defesas dos direitos humanos “B´Tselem” calculou o número de mortos em 3.396 palestinianos e 994 judeus israelitas.
Em 2001 Ariel Sharon foi eleito primeiro ministro de Israel. Em 2004 morreu Arafate em circunstâncias ainda não esclarecidas, suspeitando-se de envenenamento por Israel. Foi eleito para a presidência da Palestina Mahmud Abbas.
Como a resistência na Faixa de Gaza se tornou cada vez mais difícil de combater por quase todo o território ser urbano, exigir cada vez mais meios militares e ter reduzido interesse económico, Sharon decidiu unilateralmente, em 2005, desocupar o território e uma pequena área do norte da Galileia. A restante parte da Palestina cercou-a de alta barreira militar para manter confinados dentro dela os palestinianos.
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Redação Gazeta da Beira
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