A. Bica (Ed. 696)

O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (36)

Os massacres de Sabra e Chatila sob o comando de Sharon

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Em 12/8/1982 foi declarado o cessar fogo na guerra entre o Egipto e Israel.

A O.L.P. concordou em deixar o Líbano e partir para a Tunísia. Para garantir o cessar fogo foi enviada para o Líbano força militar internacional com norteamericanos, italianos, franceses e ingleses. Nada fazia prever que as mortes continuassem. Mas em 10/9/1982 as tropas norteamericanas foram evacuadas apesar de os israelitas continuarem em Beirute. A seguir foram retiradas as tropas francesas, inglesas e italianas. Com o caminho livre, em 15/9/1982, a tropa  israelita ocupou os arredores ocidentais de Beirute onde se situam os campos de refugiados palestinianos de Sabra e Chatila, já sem a protecção da O.L.P., que fora forçada a partir para a Tunísia, e da força de paz internacional, e cercaram-nos não deixando entrar nem sair ninguém. Na noite de 16 para 17/9/1982 os judeus introduziram nos campos de refugiados milicianos falangistas libaneses por eles financiados e treinados, que mataram indiscriminadamente os refugiados palestinianos (homens, mulheres e crianças) e destruíram a dinamite muitas casas. Esta acção genocida continuou até à manhã de 18/9/1982. Foram assassinados cerca de 3.000 palestinianos nos dois campos de Sabra e Chatila.

Organizações defensoras dos direitos humanos tentaram levar Sharon a julgamento nas instâncias internacionais por estas e outras acções de terror e genocídio, mas o poder económico dos judeus e a protecção de que por isso beneficiam do governo dos EUAA tem-no impedido.

Sharon foi acusado por esses crimes perante a justiça belga, mas, beneficiando do apoio norteamericano, não veio a ser punido.

Os xiitas libaneses organizaram-se então militarmente para resistir às investidas dos judeus de Israel no território do Líbano e apoiar os palestinianos que luta por libertar a sua terra da ocupação judaica, criando o Hesbolah que tem carácter político e paramilitar, passando a ter o apoio do Irão.

Com a colonização judaica e confiscação de terras e casas do território da Palestina invadida e ocupada militarmente em 1967 por Israel os judeus procuram quebrar a resistência dos palestinianos. Em Setembro de 1967 foi criado o primeiro colonato na região de Hebron (Kfar Etzion). A seguir o governo trabalhista de Levi Eshecol iniciou a colonização, com judeus, da parte palestiniana de Jerusalém, a Jerusalém Oriental. Os judeus foram assim espalhando e estendendo colónias de fanáticos israelitas por todo o território palestiniano, confiscando terras e casas, procurando encurralar os palestinianos, vergá-los pela opressão e pela miséria, tentando que abandonassem a sua terra.

Com estas acções ilegais, condenadas pela ONU, de carácter genocida, os judeus apropriaram-se de 65% das terras da Cisjordânia e 40% das de Gaza e prosseguem. Até 2001, em Jerusalém Oriental, estabeleceram-se 200.000 judeus, na Cisjordânia outros tantos e 6.000 em Gaza.

Os judeus continuam a impor na Palestina duas leis: a aplicável aos judeus que habitam as colónias, que é a lei israelita, e a aplicável aos palestinianos que os discrimina e os mantém na situação de inferioridade de direitos. O israelita Eitan Felner, director da “Btselem”, organização israelita de luta pelos direitos humanos, considera esta situação equivalente ao regime de aparteid que os racistas brancos sulafricanos impunham à população negra da África do Sul.

O exército judeu ocupante não deixa construir novas casas, derruba as que entende, expulsa palestinianos das suas terras, numa prática sistemática e deliberada para forçar os palestinianos a emigrar, abandonando o país aos judeus.

A O.L.P. procura firmar o espírito de resistência dos palestinianos. Apesar dos vexames, dos insultos, dos roubos, das prisões, das ameaças, das mortes os palestinianos resistem. Sabem que abandonar a terra é deixá-la livre à usurpação pelos judeus. A revolta acumulou-se no coração do povo palestiniano até que, em 1987, os jovens (dos 7 aos 17 anos) se levantaram pegando nas armas que têm, as pedras da rua, e começaram a atirá-las contra o exército invasor judeu armado com tanques, metralhadoras, canhões e helicópteros. Foi a Intifada, que em árabe significa “levantamento”. Estas crianças palestinianas, que nunca haviam lido a declaração francesa dos Direitos do Homem de 24 de Junho de 1979, que diz que quando são violados os direitos do povo, a insurreição é o mais sagrado e inalienável dos direitos e dos deveres, sentiram e assumiram esse direito. Esse gesto heróico e quixotesco dos jovens palestinianos, que todos consideravam não ir durar mais que dias ou semanas, prolongou-se dia após dia, ano atrás de ano, até que fez tomar consciência ao mundo, em especial à Europa, que tinha obrigação de contribuir para a defesa deste povo invadido, espoliado, espezinhado e injustiçado.

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Redação Gazeta da Beira