A. Bica (Ed. 701)

O UNIVERSO DE QUE SOMOS PARTE (40)

A insensata aventura bélica americana no Iraque

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Só em 1938 é que se descobriram na Arábia Saudita poços de petróleo de qualidade e grande abundância, não tendo por isso os EUA prestado grande atenção a esse então atrasado e obscuro reino árabe.

No fim da Segunda Grande Guerra, por o petróleo se ter tornado matéria prima estratégica, o então presidente dos EUA, Roosevelt, negociou, a bordo de um porta-aviões estacionado ao largo, com o rei da Arábia da dinastia Saude, a venda do petróleo do país prioritariamente aos EUA em troca de os americanos defenderem politica e militarmente o reino saudita sem se intrometerem no seu sistema político autocrático, na intolerância e falta de liberdade religiosa do país, e no mais que medieval estatuto político, económico e matrimonial das mulheres árabes sujeitas ás restrições à sua liberdade e aos seus direitos semelhantes ás que se praticavam no início do primeiro milénio da nossa era. Esse compromisso político sempre foi sempre cumprido pelos EUA, que nunca condenaram as flagrantes violações sauditas dos direitos humanos, nomeadamente no que respeita às mulheres, em troca da promessa de abastecimento prioritário de petróleo aos EUA. Sempre os EUA respeitaram esse acordo apesar de em 6 de Outubro de 1973, quando eclodiu a guerra do Egipto contra os judeus de Israel, conhecida por guerra do Yom Kipur, a Arábia Saudita, em apoio do Egipto então liderado por Sadate, ter embargado o fornecimento de petróleo à Europa e aos EUA durante a curta guerra de cerca de 10 dias.

Os EUA, desde que negociaram, no fim da Segunda Grande Guerra, com a Arábia Saudita o fornecimento prioritário de petróleo aos EUA, nunca faltaram com o apoio militar e político ao regime da casa real Saude. Mas, como última garantia de que o petróleo saudita sempre afluirá aos EUA, transformaram o estado judaico de Israel em país satélite, fornecendo-lhe o seu melhor armamento e dotando-o com tecnologia de fabrico de armamento atómico por via da França.

A avidez americana por petróleo foi tão grande que o pouco inteligente presidente Bush Filho concebeu a estratégia megalómana de pôr os EUA a dominar militar e politicamente os mais importantes países produtores de petróleo do mundo, de modo que  unilateralmente, isto é sem decisão das Nações Unidas através do seu Conselho de Segurança, pudessem impor a qualquer país que não fosse suficientemente reverente aos interesses americanos o embargo internacional de petróleo. Dominando já os EUA a Arábia Saudita, precisava de passar a dominar o Iraque e o Irão, do que resultaria o controlo americano sobre muito mais de metade do petróleo mundial.

O presidente Bush Filho fez então (2002) os serviços secretos americanos inventarem  “armas de destruição em massa” no Iraque que não tinha delas nem vestígios e, com base nessa patranha grotescamente forjada, incluir no que chamou o “eixo do mal” o regime iraquiano, com o do Irão (os dois muito grandes produtores de petróleo), juntando-lhe, na tentativa de dar credibilidade a essa inventona, a Coreia do Norte.

Nessa tola aventura foi o presidente Bush Filho apoiado acéfala e subservientemente pelo chefe do governo inglês, Blair, pelo do governo espanhol, Aznar e pelo do de Portugal, o inefável Durão Barroso.

Tão desastrada e mortífera foi a guerra americana no Iraque que os EUA esqueceram logo o projecto de invasão do Irão. Dessa insensata guerra  resultou a actual anarquia bárbara e sangrenta no Médio Oriente a alastrar-se ao norte e ao nordeste da África, ao sudeste asiático e aos países onde há imigração islâmica significativa, como a França, a Alemanha, a Inglaterra, a Espanha, a  Dinamarca e os EUA.

Com o presidente Obama no governo dos EUA o claro apoio da Arábia Saudita aos combatentes do islamismo radical da corrente religiosa wabita, que a casa Saude perfilha, arrefeceu. O governo dos EUA passou a distanciar-se lentamente do regime político-religioso saudita, nomeadamente promovendo relações políticas e económicas entre os EUA e o Irão, que é considerado pela Casa Saude o seu principal inimigo por não seguir a corrente religiosa islâmica sunita, mas a xiita.

Porque desse distanciamento poderia vir a resultar corte de fornecimento de petróleo aos EUA, o que seria devastador para a economia americana e poderia desencadear actos de guerra de consequências imprevisíveis, foi dado grande apoio financeiro à indústria de extracção de petróleo americana, o que em tempo não longo tornou possível a extracção de petróleo e gás das camadas sedimentares muito profundas de rocha embebida em hidrocarbonetos (combustível fóssil). Isso tornou os EUA auto-suficientes em petróleo e gás natural. A auto-suficiência dos EUA em combustíveis fósseis permitiu a sua aproximação  ao Irão, país com que haviam cortado todas as relações políticas económicas desde 1979, quando foi derrubado do poder a o rei (xá) iraniano.

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