A. Bica (Ed.684)

Viajando no tempo com as palavras

VIAJANDO NO TEMPO COM AS PALAVRA

• António Bica

Nesta região de Lafões, onde as videiras se cultivavam (agora pouco se cultivam) na bordadura dos terrenos agrícolas para não ocupar a terra necessária ao pão, às batatas, à horta e ao linho, tendo que crescer acima do milho para o sol chegar aos cachos e poderem amadurecer, os suportes para as videiras por eles treparem eram feitos de fortes arrancas de carvalho para resistir ao tempo e à humidade, com o nome tanchoeira. Mais tarde, nas casas agrícolas com maiores posses, passou a usar-se para isso também peirões (pedras de granito talhadas com cerca de 2 metros de comprimento e 20 centímetros nos lados), ligados por arame.

Muito tempo me interroguei, depois de ter estudado latim dois anos, sobre a origem desse bonito nome (tanchoeira), sabendo que a generalidade das palavras portuguesas deriva de palavras latinas.

Muito mais tarde, ao juntar a processo de inventário certidão de matrizes de prédios rústicos situados no concelho da Lousã, verifiquei que as videiras neles existentes são designadas tanchas.

Fez-se então luz no meu entendimento: tancha deriva da palavra latina planta(m), que o grupo consonântico pl em latim frequentemente muda no português para ch (foneticamente, é uma palatalização). E muitas vezes, na ‘evolução’ das palavras, verifica-se transposição (metátese) de sons/sílabas dentro da palavra, o que aconteceu com tancha, que passou de chanta para tancha (ch < > t, metátese recíproca).

Entendi então porque se chama retancha à replantação de plantas secas, depois de plantadas, tanchão ao ramo grosso de árvore (por exemplo, de oliveira) que se planta para dar nova árvore, tanchoal à plantação de tanchões, tanchar espetar no lodo do leito de rio vara para nela amarrar barco pequeno, tanchagem à conhecida planta desse nome designada em latim plantagine(m).

Percebendo isso, confirmei o que aprendi, quando pequeno, nos longos serões de Inverno à volta da lareira, que não havia então electricidade, rádio, nem televisão, com os muito mais velhos. Diziam eles: se não perceberes, não desistas, que um dia entenderás.

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Os Judeus beneficiaram da tomada do poder na Europa pela burguesia

• António Bica

Ed684_judeusNas colónias inglesas da costa leste da América do Norte os judeus acabaram por ser admitidos

Em 1654, três judeus do Recife, que os portugueses do Brasil haviam acabado de reconquistar aos holandeses, refugiaram-se na colónia holandesa de Nova Amesterdão, na costa leste da América do Norte. A fuga destes e  depois de outros judeus do Recife acabado de reconquistar pelos portugueses do Brasil aos holandeses resultava de os judeus holandeses de origem portuguesa terem favorecido a conquista pelos holandeses do Recife aos portugueses para se apoderarem do negócio do açúcar.

A colónia inglesa da  Nova Amesterdão passou a ser, em 1664, colónia inglesa rebaptizada Nova Iorque. O governador inglês reconheceu a liberdade de religião dos habitantes da colónia, direito que abrangeu também esses primeiros judeus vindos do Recife. O princípio da liberdade religiosa foi reconhecido nas demais colónias inglesas da costa leste da América do Norte, cujos habitantes eram na generalidade refugiados das guerras religiosas na Europa. Posteriormente, com a independência dessas colónias e a constituição delas em estados independentes, nos fins do século 18, dando origem aos Estados Unidos da América do Norte, manteve-se o reconhecimento do direito dos judeus à cidadania na colónia.

Com a Revolução Francesa, no final do século 18, foi reconhecido na Europa aos judeus o direito á igualdade enquanto cidadãos franceses (decreto da Assembleia de 27/9/1791). As conquistas napoleónicas na Europa fizeram reconhecer aos judeus dos territórios conquistados da Europa direitos iguais aos dos demais cidadãos de cada país europeu.

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Redação Gazeta da Beira