Agricultura (Ed. 678)

Profilaxia das doenças do lenho da videira

Ed678_DSC03468Estamos em seca e a vinha vai começar a demonstrar inúmeros problemas: sintomas de carência de nutrientes, falta de água e doenças do lenho de que já aqui falei em tempos. No combate às doenças do lenho em geral e à Esca em particular, as medidas profiláticas foram muitas vezes relegadas para segundo plano nas preocupações do viticultor.

Embora estas medidas se tenham, de certa forma, tornado incontornáveis, é importante salientar que:

  • Nunca conseguirão a erradicação total das doenças do lenho;
  • Só a sua aplicação correcta, meticulosa e em grande escala dará garantia de resultados;
  • São medidas dispendiosas em tempo, recursos e paciência.

De seguida exponho a lógica da aplicação destas medidas e de outras medidas possíveis para a restauração de cepas afetadas por esta doença.

1º passo-Limitar o inóculo

Braços e cepas mortas

  • Eliminar e queimar, incluindo sarmentos;
  • Operação que deve ser efectuada antes da poda;
  • Evitar mortórios ou pilhas de madeira morta;
  • Evitar vinhas abandonadas;
  • Caso destine as cepas ao fogão, deve colocá-las sob coberto, de modo a evitar a dispersão da doença. Os esporos (“sementes” dos fungos) são normalmente libertados com temperaturas amenas e humidade elevada e transportados pelo vento por vezes em distâncias de vários km.

À poda

  • Remover e queimar a madeira de dois anos ou mais;
  • Não havendo ainda estudos conclusivos quanto à possibilidade das varas constituírem fontes de contaminação, sugere-se a eliminação das varas das videiras afectadas;
  • A pré-poda e outras intervenções em verde ainda não foram postas em causa como fontes de contaminação.

2º passo- Reduzir e proteger as feridas de poda

  • A disseminação dos esporos dos diferentes fungos é aérea, e a sua penetração efectua-se, principalmente, pelos cortes de poda;
  • Nas feridas em verde, embora as penetrações não sejam impossíveis, são pouco prováveis (e menos ainda se houver emissão de seiva). Há no entanto alguns fungos que esporulam durante o período vegetativo;
  • Não parece haver risco de contaminação pelas feridas resultantes da desponta, por as mesmas se encontrarem longe da fonte de contaminação;
  • O período de maior receptividade das feridas de poda é de aproximadamente quinze dias após a poda. A contaminação vai-se tornando impossível com a cicatrização.
  • Realizar o desladroamento e a eliminação de lançamentos no cedo, evitando cortes rasantes;
  • Caso as intervenções em verde sejam tardias, corte com a tesoura de poda, deixando um toco (deixar cabide), de modo a evitar que a cicatriz evolua para dentro do tronco;

Poda de Inverno

  • Cuidado com as grandes feridas de poda (cada vez mais fáceis graças às tesouras eléctricas);
  • Evite fazer cortes rasantes;
  • Privilegiar a poda em períodos secos;
  • Podar tarde (à subida da seiva): as feridas que choram não são tão receptivas.
  • Não esqueça que antes da poda deve remover e queimar toda a madeira morta. Só assim evitará novas contaminações.

Protecção das feridas de poda

  • Aplique uma calda de cobre/folpete em pulverização sobre as feridas logo após a poda.
  • Não recomendo produtos para recobrimento de feridas de poda como várias mástiques (derivados de petróleo) estes produtos secam a madeira impedindo-a de cicatrizar convenientemente, só isolam a madeira, não dão proteção química.

3º passo-Recuperação de cepas doentes, tanto em caso de apoplexia como da forma crónica.

O objectivo será evitar a perda total da planta, agindo a partir da detecção dos sintomas.

  • Ao aparecimento de sintomas, cortar o tronco 10-15 cm acima do porta-enxerto, assegurando que o plano de corte se encontra são (madeira branca, sem máculas). Não se torna necessário proteger a ferida, uma vez que há saída de seiva. O vigor da cepa irá permitir, em inúmeros casos, a emissão de ladrões a partir dos quais se poderá refazer a planta;
  • Caso já esteja presente algum ladrão, cortar o tronco 5 cm acima da inserção do mesmo. (o tronco deverá estar são). A nova planta deverá sempre ser tutorada (amparada), mas nunca usando o resto do tronco;
  • No Inverno seguinte as feridas resultantes do decepamento da videira deverão ser desinfectadas;
  • Caso não seja possível efectuar a enxertia em verde, a mesma poderá ser feita no Inverno, respeitando três condições:
    • Marcar convenientemente as videiras afectadas;
    • Eliminar as lenhas destas plantas antes de podar o resto da parcela;
    • Proteger as feridas de poda com um protector químico e físico.

Caso a lesão alcance abaixo da enxertia, ou não haja lançamentos ladrões

  • É possível proceder à re-enxertia sobre o porta-enxerto, aproveitando o plano radicular já instalado. Aconselha-se a enxertia com dois garfos de dois olhos, tendo em atenção:
    • O porta-enxerto tem de estar são.
    • Conservação correcta dos garfos, com grande variedade de diâmetros;
    • Enxertia na primavera, após a fase mais perigosa de geadas;
    • Protecção imediata dos cortes;
    • Cobrir a enxertia e regar abundantemente em caso de seca.

 

Caso pretenda conhecer melhor a doença poderá fazê-lo através do acesso (internet) ao seguinte endereços:

http://www.drapc.min-agricultura.pt/base/documentos/esca_videira.pdf

http://www.drapc.min-agricultura.pt/base/documentos/folheto.pdf

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Redação Gazeta da Beira