Agricultura (Ed. 652)

Jorge Sofia

10/04/2014 (Ed. 652)
Texto e fotos de • Jorge Sofia*

Vespa das galhas do castanheiro

Muitas são as vezes em que tenho falado do castanheiro.

Ed652_Fases-da-vida-da-vesp

Fases da vida da vespa

Durante séculos garante da despensa do interior Português, pelas castanhas, frescas e piladas e pelo reco por elas nutrido e garante das poucas proteínas que víamos. Como já anteriormente disse esse portento anda achacado: – Doenças como a tinta e o cancro dizimam-no, e agora fruto do comércio mundial e da circulação de vegetais, aproxima-se um novo perigo, desta vez para a produção. Trata-se de um inseto minúsculo, do tamanho ou inferior a uma mosca do vinagre, designado por Vespa-do-Castanheiro e mais cientificamente por Dryocosmus kuriphilus. Até ao momento e felizmente, ainda não foi assinalada em Portugal.

Ed652_Galhas-jovens

Sendo a dita vespinha originária da China, decidiu expandir fronteiras e foi há pouco detetada no Japão. Daí à Coreia foi um pulo e por via desta arribou aos EUA. Num lance arriscado chegou à Europa destruindo colheitas em Itália, França e Eslovénia. Dada a apetência destes países para o consumo de castanha fresca e transformada, esta praga revelou-se de certa forma uma benesse para os produtores nacionais, uma vez que os produtores daqueles países se viram obrigados a recorrer à nossa castanha para abastecer o seu mercado, cuja produção foi, nos últimos anos, destruída por esta praga. Mas se pimenta no dos outros é refresco, não nos devemos ficar a rir porque a bicha há de andar de olho nas demais castanhas do mundo e lendo os rótulos depressa cá chegará. Cabe-nos portanto a nós evitar a sua entrada e esperemos que não, dispersão.

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Há muitas espécies de castanheiros no mundo e a vespa ataca todos, não sendo particularmente esquisita. No entanto algumas espécies desta árvore aparentam ser mais sensíveis: Castanea dentata, Castanea crenata, Castanea mollissima, Castanea sativa e os seus híbridos. Dizem especialistas que a variedade “Bouche de Bétizac” é bastante resistente. Mas a procissão ainda vai no adro e haverá que estudar a reação de muitas mais variedades, nomeadamente as nossas (p.ex. martaínha, judia, etc…). As fêmeas adultas colocam os seus ovos nas jovens folhas. O castanheiro reage procurando isolar esse parasita, tal como os carvalhos fazem quando geram bugalhos. Assim, a partir de meados de Abril, surge o principal sintoma que é o aparecimento de galhas, nos ramos e folhas. Inicialmente as galhas são de cor verde-clara tornando-se rosadas à medida que o tempo passa. A sua dimensão oscila entre 5 e 20 mm.

A dispersão deste insecto é processada através do voo das fêmeas adultas, e das suas posturas. Porém a circulação de material infestado com ovos é sem dúvida a forma como melhor se espalhará essa praga. Curioso é que esse insecto consiga pôr ovos por partenogénese, isto é sem a intervenção de um macho (está o mundo condenado).

Se forem encontradas galhas ainda fechadas, quer em viveiros quer nos soutos, as plantas afetadas devem ser cortadas e queimadas e a situação reportada aos serviços de sanidade vegetal da sua região. Para sua proteção adquira sempre árvores de um produtor autorizado pelos serviços oficiais e só adquira plantas de castanheiro COM PASSAPORTE FITOSSANITÁRIO – um garante da vigilância exercida durante a produção e da qualidade do material.

Para quaisquer dúvidas ou esclarecimentos, estamos disponíveis através do correio electrónico

jorge.sofia@drapc.mamaot.pt

* Engenheiro, Técnico Superior da Estação de Avisos do Dão / Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro

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