A “Tinta do Castanheiro”

10/10/2013 (Ed. 640)

A “Tinta do Castanheiro”

A vindima vem fechar definitivamente a ilusão de Verão que ainda sentimos, apesar do calor os dias vão-se tornando mais curtos e começamos a sentir a necessidade de aconchego. É altura de começarem a aparecer as primeiras no “super” e dentro em breve surgirá o apelo de “quentes e boas”. Está a chegar a castanha! Aproveitamos para ir ao souto ver a promessa, e…Eis que nos deparamos com algumas árvores, às vezes centenárias, já mortas ou em vias de morrer. Serão muito possivelmente vítimas da “Doença ou Mal da Tinta” que nos últimos séculos tem vindo a destruir soutos e castinçais, modificando a nossa paisagem e hábitos, uma vez que o castanheiro sempre foi uma árvore estimada no nosso país pelo fruto, grandeza e madeira. A doença afecta fortemente as raízes, com consequências directas para a parte aérea da planta. Os sintomas sobre a porção aérea da árvore caracterizam-se pelo amarelecimento da folhagem com queda prematura das folhas. Se as folhas amarelecerem apenas sobre um lado da árvore, isto será uma indicação de que apenas uma parte das raízes se encontra afectada – a parte que alimenta aquele sector da árvore. Consequentemente, algumas ramas secam enquanto noutras embora permanecendo vivas os ouriços minguarão e os frutos secarão. As raízes apodrecem, começando pelas raízes mais finas (pastadeiras), seguindo-se as mais grossas e posteriormente o apodrecimento alcançará o colo da árvore. As raízes adquirem consistência mole, cor castanha e um aspecto húmido, descascando com facilidade.

Agricultura-Castanheiro_img015Sobre a porção baixa do tronco (até 0,5 m de altura) e colo é visível uma mancha e um escorrimento de cor negra (tinta) e consistência gelatinosa, surgindo esta exsudação em zonas onde o tronco gretou. Esta sintomatologia, que dá o nome à doença, progride rapidamente matando a árvore num curto período de tempo, uma vez que, na maioria dos casos, quando os sintomas se manifestam, já a infecção se deu há muito, o que dificulta a detecção, através da análise de sintomas, dos ataques na fase inicial.

Em condições de humidade no solo, o patogénio- Phytophthora cinnamomi – se existir no solo, desloca-se para as raízes das plantas, penetrando nelas por quaisquer zonas lesionadas. O sistema radicular vai sendo progressivamente invadido até alcançar o colo da planta causando a morte da mesma. O desenvolvimento deste patogénio é favorecido por temperaturas de 15 a 30ºC e forte humidade, podendo o seu “espalhamento” ocorrer através de propágulos infectados (madeira de enxertia, castanhas, etc.), águas, alfaias, animais, etc…

Para além da presença do fungo responsável no solo, outros factores são também responsáveis pelo declínio do castanheiro como a ausência de irrigação e a compactação do solo por  mecanização, impedindo o desenvolvimento das raízes e a formação de micorrizas (fungos que auxiliam a função das raízes).

Se ainda formos a tempo, quais deverão ser as nossas estratégias de luta? Devemos acima de tudo optar pela profilaxia  procurando sempre que possível adquirir plantas certificadas ou híbridos certificados menos susceptíveis à doença (como o “Colutad”, desenvolvido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Devemos evitar a propagação por sementes de proveniência desconhecida; Devemos cuidar do equilíbrio nutricional das plantas; Devemos arrancar e queimar todas as plantas infectadas.

Associada à profilaxia e como seu complemento, podemos recorrer à luta química embora para o combate à doença de uma forma preventiva. Encontram-se homologados para esta doença duas substâncias activas:

* Fosetil de alumínio: Com a recomendação para viveiros de 3 a 4 tratamentos a intervalos de 2 semanas desde o estado 4-6 folhas definitivas (Maio – Junho), e, para soutos instalados, de aplicações na Primavera, de preferência antes da floração, pulverizando até ao escorrimento, repetindo a intervalos de 1 mês.

* Oxicloreto de cobre: Com a recomendação de aplicação de Janeiro até final de Março, se possível em período de chuva, de 1 a 4 litros de calda à volta do tronco num raio de 1 m e no tronco até 1 metro de altura. Repetir o tratamento durante pelo menos 5 anos. Passados 5 a 10 anos voltar a repetir a série.

Eng. Jorge Sofia * Engenheiro, Técnico Superior da Estação de Avisos do Dão / Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro