Agricultura (Ed, 672)

A escoriose da videira

Ed672_Escoriose-019A Primavera rebentou. Durante o fim-de-semana fomos surpreendidos pelo renovar de vida depois de mais um Inverno frio e macambúzio. No sábado já se esborrachavam as primeiras moscas, as vespas surgiam ainda tontas de frio e sem problemas acompanhavam o destino das moscas e À noite já tínhamos borboletas a tentar entrar em casa procurando a luz e fugindo do frio (Também tiveram o destino das moscas e das vespas). Até já vi um sardão! Rebentou pois a primavera! As amendoeiras já deram flor, os pessegueiros começaram em breve serão as ameixoeiras. E tudo isto me diz que a vez da vinha está para bem perto. Na vinha muita gente crê que nesta fase inicial só devemos temer geadas, porém há uma doença que nesta fase pode provocar perdas irremediáveis na nossa vinha – a escoriose. Esta designação vem de escoriação, ferida, arranhão, porque este é um dos sintomas característicos desta doença (feridas de aspeto seco e em forma de fuso que lentamente se unem criando outras maiores; crostas superficiais negras, lesões castanhas, estriadas com aspeto de cortiça). Outros serão pintas amarelas nas folhas da base dos lançamentos. Esta doença manifesta-se na Primavera na base dos lançamentos (varas). Aquando da rebentação poderá destruir alguns dos gomos presentes nessa zona dos lançamentos, o que irá diminuir a próxima colheita. Estes lançamentos, quando muito afetados, terão a base estrangulada pelo que irão secar e tombar. Já no Inverno observamos em torno das zonas afetadas um embranquecimento das varas onde se veem pequenos pontos negros que são as frutificações (picnídeos) do fungo e de onde, na campanha seguinte serão emitidos os novos esporos. A escoriose acaba por enfraquecer a videira, ao matar os gomos teremos menos lenha de poda o que obriga a cortar para renovar a videira ou a deixar mais gomos para prevenir os que secaram no ano anterior.

As condições mais favoráveis para o desenvolvimento de Phomopsis viticola, fungo responsável pela escoriose, são temperatura próxima de 23ºC, humidade relativa elevada superior a 95% e vinha recetiva – estados C/D (ponta-verde-saída das folhas). Após esta fase de desenvolvimento só os extremos dos lançamentos são recetivos, por serem ainda de consistência herbácea mas como o crescimento nesta época é muito rápido, torna-se difícil serem atingidos pelos esporos emitidos na sua base.

A escoriose atingirá proporções importantes em anos de invernos chuvosos e primaveras húmidas, pelo que a opção de tratamento será mais indicada para vinhas onde há um historial recorrente de ocorrência da doença. A decisão de tratamento para esta doença dependerá, portanto, de três fatores: Estado sanitário da vinha (se há ou não a doença); Recetividade da vinha (o tratamento terá de ser feito na fase de desenvolvimento indicada anteriormente) e se houver risco de precipitação e/ou de humidade relativa elevada durante aquela fase de desenvolvimento. A fase de desenvolvimento é importante porque apenas as porções mais tenras serão sensíveis à doença. À medida que a vinha se desenvolve as varas endurecem, deixando de ser sensíveis ao ataque da doença, daí que a doença só se manifeste na base das varas que é a porção da videira que estava exposta naquele momento inicial.

Para o tratamento tem várias opções:

Opção 1) Recorrendo às formulações homologadas contendo: enxofre, azoxistrobina, azoxistrobina + folpete, folpete, mancozebe, metirame, metirame + piraclostrobina, propinebe – o tratamento deverá ser efetuado em dois períodos: o primeiro entre os estados de gomo de algodão e o de ponta verde e o segundo entre a saída das folhas e as três folhas livres.

Opção 2) Recorrendo às formulações homologadas contendo: fosetil de alumínio + folpete ou fosetil de alumínio + mancozebe – deverá efetuar apenas um tratamento ao estado fenológico D.

Opção 3) Se a vinha se encontrar pouco afetada, poderá recorrer à formulação homologada contendo: metirame + piraclostrobina – efetuando uma única aplicação entre os estados de gomo de algodão e de três folhas livres.

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Redação Gazeta da Beira