Agricultura (Ed.648)

13/02/2014 (Ed. 648)
Texto e fotos de • Jorge Sofia*

O xiléboro das fruteiras

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A chuva tarda em passar. As podas já deveriam estar feitas e não há maneira! Hoje falaremos de um problema fitossanitário da macieira, pereira, castanheiro e de outras fruteiras, que normalmente só detectamos à poda ou imediatamente após a mesma – o Xiléboro, ou mais cientificamente os insectos do género Xyleborus spp.(O spp. significa que há muitas espécies dentro daquele género) – Trata-se de um insecto coleóptero (como a joaninha, o escaravelho da batata, gorgulho da oliveira, etc…) pertencente à família dos escolitídeos, e é uma praga comum a várias espécies de árvores, atacando sobretudo plantas debilitadas. Na nossa região, no entanto, têm sido observados fortes ataques sobre plantas jovens e sãs com perda completa das plantas. Convém salientar que estas ocorrências, embora fortemente prejudiciais, foram pontuais no tempo e no espaço e não se generalizaram a toda a região!

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Como é que este bichito de pouco mais de 2mm trabalha e quais as consequências do seu ofício? Na Primavera, quando as temperaturas diurnas rondam os 20ºC e com tempo ensolarado, os insectos adultos começam a ganhar movimento. Ainda dentro de uma galeria, escavada na madeira da fruteira no ano anterior, acontece o inevitável: o macho descobre a fêmea ou vice-versa e depois de um breve namoro acasalam. Depois do acasalamento a fêmea sai do refúgio de inverno e ninho de amor, em busca de um local apropriado para aí depositar os ovos. Assim que encontra o local desejado (vide árvore a sacrificar), perfura a casca, perpendicularmente ao eixo do tronco ou ramo, até pouco abaixo da mesma, atingindo assim os vasos que conduzem a seiva bruta – xilema. Ao atingir essa profundidade a fêmea muda de direcção roendo um anel em torno do órgão vegetal. Desse anel para cima e para baixo escavará novas galerias.

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Nestas últimas, sem saída, irá depositar os ovos, dos quais, ao fim de poucos dias, sairão larvas esbranquiçadas. Estas larvas, vão-se desenvolver nestas galerias nutrindo-se com um fungo (bolor) do grupo das Ambrosias, “semeado e cultivado” pela fêmea, e que cresce nas paredes das galerias. Nos meses mais quentes (Julho/Agosto) surgem os novos adultos, que irão passar o Outono e Inverno nas galerias, saindo na Primavera seguinte, após nova e intensa cena de amor. Com tanto trabalho, esta praga apresenta apenas uma geração por ano.

A destruição dos vasos xilémicos e a consequente interrupção de circulação da seiva conduzirão a uma debilitação da planta, a qual será tanto mais intensa, quanto maior for a intensidade do ataque e o stress a que a planta estiver sujeita (falta de água, calor fora de época, falta de adubação, etc…). Esta debilidade é particularmente visível no período final da floração, quando se vê seiva a emergir das galerias e as flores a secarem, o que não é suposto acontecer.

Ah! E como controlar mais esta bicha? Não há de momento soluções químicas que nos permitam o combate directo a esta praga, pelo que só nos restam as medidas indirectas que ajudarão baixar e controlar a intensidade da infestação:

• Manter a planta em boas condições vegetativas, através de uma implantação criteriosa do pomar (análise de solo, boa adubação, estrumação e calagem se necessário), de rega eficaz e de boas condições nutricionais. O vigor da planta e a consequente forte circulação de seiva impedirão fisicamente o bom desenvolvimento das larvas (afogam-nas).

• Eliminar rapidamente os resto de poda, pois estes quando deixados no solo são fonte de atracção, criação e reprodução de escolitídeos, que são atraídos pelo cheiro a fermentado alcoólico da seiva que resta.

• Se o ataque à árvore for considerado intenso só nos resta a remoção e destruição da planta completa.

Alguns autores referem a colocação de ramos-isco no solo da parcela, em montículos, desde a Primavera até ao final do Verão, devendo estes iscos ser substituídos mensalmente e destruídos longe da parcela.

Estamos na época de começar a tratar os pessegueiros, damasqueiros, cerejeiras, etc… contra a lepra. O amigo leitor já saberia disto se assinasse os avisos agrícolas cuja séria de 2014 agora se inicia. Se já o fez, desculpe o abuso da minha parte. Se ainda não o fez e digo-lhe isto porque sinto para consigo alguma afinidade, ainda o pode fazer, solicitando a ficha de inscrição para  Estação de Avisos do Dão – Estação Agrária de Viseu – Quinta do Fontelo – 3504-504 Viseu, ou para eadao@drapc.mamaot.pt. Ao fazê-lo conseguirá comer pêssegos ainda este ano e ajudar-me-á a manter o meu posto de trabalho e  consequentemente a continuar esta nossa colaboração.

 

Para quaisquer dúvidas ou esclarecimentos, estamos disponíveis através do correio electrónico

jorge.sofia@drapc.mamaot.pt

* Engenheiro, Técnico Superior da Estação de Avisos do Dão / Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro

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Redação Gazeta da Beira