M. Guimarães da Rocha (Ed. 668)

Crónica

MODA É MODA

Ed668_ModaA moda, vagarosa ou bruscamente, vai invadindo o nosso quotidiano, e escapar a esta invasão é tarefa árdua e impossível de vencer, quase perigosa, mas que constantemente se nos impõe.

Este fenómeno desenvolve-se em todas as frentes: são as passagens de modelos de roupas minimalistas, que deixam ao imaginário de cada um, o preenchimento dos pequenos espaços escondidos, são os anúncios de automóveis, sabonetes, electrodomésticos, sempre acompanhados de mulheres bonitas e famosas e eu sei lá que mais!

É o bombardear sistemático da T.V.,da rádio e das redes sociais que penetra, cientificamente dirigido, até “ao fundo” do nosso inconsciente. São os cartazes gigantes e gritantes que nos rodeiam na cidade, nas estradas, restaurantes e até nas retretes, incitando de forma indirecta ou directa à compra ou ao voto no candidato, à inscrição Universitária, etc, etc,.. Será isto o resultado da globalização?!

Como vemos, portanto, esta “moda” não se resume apenas à “vestimenta, e seus aviamentos”! Nada disso…ela vai-nos invadindo e escravizando, levando-nos a um consumismo “rotulado”. Quer isto dizer que, hoje em dia, já ninguém que se preza, usa nada que não seja de “marca” e mesmo que tente não consegue encontrar algo diferente, independente sem uma marca conhecida bem chapada no seu interior ou exterior!

As marcas decidem o que é moda para a estação, em todas as áreas da nossa vida tão díspares como: as roupas, os perfumes, os electrodomésticos, os relógios ou mesmo a tampa da sanita da nossa casa de banho.

Tudo, tudo é invadido de uma forma sistemática, cientificamente estudada e devidamente divulgada — “ o marketing”. Passámos dos reclames aos anúncios, da publicidade ao “marketing”, da informação fragmentada e local, à invasão globalizada que progressivamente nos impede de ser diferentes.

Você não compra uns sapatos compra uns “Sebago” ou uns “Hush Puppies”, ou uns “Timberland”.Você não compra um fato, compra um “Pierre Cardin”, um “Valentino” ou um “Moschino”. Você não compra um relógio, compra um Tissot, um Rolex, ou um Omega. Você não compra um automóvel, compra um Renault, um Citroen, um Opel, um B.M.W.,um Mercedes ou um Rolls-Royce. E mesmo que deseje não encontra no mercado, produto de categoria sem marca(!) impoluto, pronto a ser adquirido(!), a não ser… em contrafacção!

As mulheres então, são umas vítimas, pois além da escravidão das marcas, são “obrigadas“ anualmente a mudar o seu guarda-roupa e as cores do mesmo, todas as estações, a preços também globalizantes e escaldantes.

E para que se saiba que o que usam é de “marca”, exibem-na garbosamente nas várias peças de roupa que os fabricantes despudoradamente colocam, em letras garrafais, douradas e prateadas, no exterior das mesmas, possivelmente como atestado de garantia…e, assim, além de despenderem somas avultadas para as adquirir, ainda lhes fazem gratuitamente publicidade e sem qualquer intencionalidade!

Esta invasão não pára, e tal qual areia do deserto em dia de tempestade, penetra em tudo e em todos nós, indiscriminadamente…

Senão vejamos o que acontece com a arte e os artistas, sejam eles de circo, teatro, cinema, T.V., escritores, etc, que para serem “bons”… necessitam estar na moda, que muitas vezes, os consome como se fossem papel de embrulho, rodeados de drogas letais.

E como nada nem ninguém escapa a esta praga, somos confrontados constantemente com novas publicações, estrategicamente colocadas nos escaparates dos quiosques e livrarias com:

– Artigos e fotografias em revistas semanais, portuguesas e estrangeiras, exibições de casas de família que “vaidosamente” nos facultam a visão das suas “jóias“ dos seus quadros, móveis e colecções várias!

– São as notícias das caçadas em África ou mesmo da caça aos “faisões de aviário” no Alentejo, criados em condições especiais, para cumprirem este propósito,

– Mas é também o escritor da “moda” que lança em todo o Mundo histórias de leitura fácil estereotipada, tipo chicletes ou Coca-Cola e que vende aos milhões!

– Mas é também o advogado e o médico que impõe a “moda” de certa patologia (“apendicites crónicas”, cirurgia estética, para modelar os seios, os olhos, a boca, e todas as demais partes do corpo, para vencer a idade… que não perdoa!).

 

Na escrita é a mesma coisa. A linguagem é como um ser vivo que todos os dias recebe novas contribuições das mais diversas origens – principalmente brasileira e mais recentemente africana, e então é um fruir de “bué” de novas e deliciosas expressões.

…e nesta área de palavras em “moda”, os políticos estão na primeira linha. Usam e abusam da palavra, quer em breves reflexões (o que é raro), quer em discursos de horas, aliás sempre insuficientes para o “muito” que tinham para explicar.

E então aqui a palavra certa e a sua utilização adequada é fundamental, na medida em que, para um político, a resposta a perguntas concretas deve ser dada com evasivas, sem grande compromisso ou conteúdo, mas que ao mesmo tempo transmitam aparente segurança e domínio da matéria. Passam então ao jogo das palavras e mais concretamente as que estão “de moda”, como sejam: agilizar,  contratualizar, obstaculizar, alavancar, implementar, credível, incontornável, globalização,  resiliência, etc., Chega-se ao ponto de, ser mais conhecido o político pelos termos novos que emprega, do que pela obra feita!

E os Economista, os Financeiros e os Banqueiros (!!!) procurando explicação para o inexplicável?! Grudam-se em terminologia cerrada, que até o diabo atemoriza e, que só parece esconder incapacidade para a explicação lógica e racional do erro ou da ousadia, tentando apagar aos olhos e ouvidos dos mais atentos e conhecedores, o sentimento de culpa! Aqui a “barra está pesada e, com tantas Imparidades encontradas façam favor de encontrar, fabricar nova terminologia que fure os tímpanos dos ouvintes, cinzelando-os, talvez em línguas germânicas, que sempre são mais agressivas aos latinos pavilhões auriculares.

No sector muito importante da “saúde”, tem-se vindo a valorizar o discurso, normalmente economicista, em detrimento da cerrada terminologia médica e da resolução dos problemas, reais do dia-a-dia do doente, perdão do utente. Todo o olhar “pseudo-racional”, começa sempre pelos custos e pelo “organigrama funcional”, pelo “despesismo inútil”  e “custos exacerbados” e pela terapêutica abusiva e ineficiente!

Cuidado, tudo pode mudar e, começar a ser exigida mais eficácia terapêutica e menos conversa fiada!

Pelo que ouvimos recentemente teremos que pular de contentamento, depois de tanto, “nacionalizar”empresarializar” fazer “ajuste directo”, “concurso público”, criar “concessões,” privatizar, reprivatizar todos os sectores, com recurso a “parcerias público-privadas”, CDS’s e outras manipulações terminológicas, cujos nomes desconheço! No S.N.de Saúde, actualmente, parece que temos uma organização hierarquizada, rígida, inquestionável, quase sovietizada. Cuidado, “é o benefício mais palpável da Revolução de Abril”, que Deus tem.

Será possível criar algo que impeça a queda do “Carmo e da Trindadecom a Europa agarrada, à ridícula nova terminologia que por todo o lado que se criou?

 Ou se actua rapidamente, ou teremos um enterro da Europa em cofre fúnebre, com inscrições misturadas, nas vinte e sete línguas (!) que a servem, cujo somatório final, tal como hoje, também vai ser ilegível pelos vindouros!

Antevejo rapidamente um europeu, com um emblema do Manchester United na lapela, um boné do sindicato, tendo á direita o nome Portugal e á esquerda o nome da Lituânia, usando uma camisola branca com letras garrafais de coloridos estonteantes dizendo MOSCHINO, exibindo uns”PEPE JEANS”,uns sapatos HUSH PUPPIES, tendo nas costas a inscrição “OROPA” etudo comprado em contrafacção!

Será autêntico, rico Moderno, actualizado… Bonito (!), mas tem que ser rápido, antes que o petróleo incendeia o sonho…

Duma forma pouco “credível, incontornável e agilizadacheguei ao fim desta crónica, quase “Tristorrisonha”, dedicada á “modanacional Europeia!

Desejo um Bom Ano para todos e fico contente e espantado pela vossa notável resiliência ao ler estas linhas.

Espero voltar brevemente duma forma talvez não muito em MODA… mas autêntica.

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Redação Gazeta da Beira