M. Guimarães da Rocha (Ed. 650)

Regresso Imaginário

Crónica 13/03/2014 (Ed. 650)
• M. Guimarães da Rocha (mguimaraesrocha@hotmail.com)

A RAMPA DA CAPELA DE SANTO ANTÓNIO

Antes de continuar a viagem ao passado tive o cuidado de dar uma“vista de olhos” á Farmácia Dias. Revi a grade de separação artisticamente feita em madeira, a balança de farmácia, os armários primorosamente modelados que davam corpo às paredes. Era um trabalho exemplar em madeira, que parecia feito para acalmar com a sua beleza, a agressividade das patologias, que tinham conduzido os pacientes àquele lugar.

Penso que esta estrutura da farmácia se devia preservar, aqui ou noutro local para onde possa vir a ser deslocada, certamente adoçada por novas estruturas arquitetónicas.

Ed650_cronica-01-BEm frente à farmácia no final da rua Direita, deparávamo-nos com um pseudo largo, aparentando o propósito de arranjar espaço para  estacionamento de automóveis de quem buscaria aquisição urgente de medicação.

Continuando em direção á Igreja matriz, a nossa viagem era balizada, à direita pela imponência do palácio do Marquês de Reriz, e á esquerda pela simplicidade da parede lateral da Capela de Santo António. O panorama actual que se disfruta do cimo da rampa, é quase sobreponível à visão dos anos cinquenta, se levarmos em linha de conta a evolução tecnológica automobilística. Com efeito, até o estacionamento dos automóveis de aluguer se mantem praticamente na mesma localização. A grande diferença está na evolução tecnológica do automóvel, que nos permite medir o tempo quando observamos os antigos modelos.

Ainda recordo a “Bomba de gasolina “ATLANTIC”, posteriormente transferida para o lado do “café Edgard”, mesmo em frente ao local onde está hoje o “café de Baixo “e que naquele tempo era o “Stand Clemente”.

Pelos meus quinze anos os automóveis começavam já a ter a aparência dos contemporâneos, mas ainda tenho presente os modelos de alguns bem antigos, semelhantes aos que a foto apresenta.

Merce da visão do nosso artista conterrâneo, Sr. Edgard de Vasconcelos, hoje todos podemos disfrutar da realidade visual deste local no final dos anos quarenta e início dos cinquenta. Podemos também mercê da obra desse artista (e com a autorização de seu filho, Eng. José Vasconcelos), darmos conta da mudança da bomba de gasolina para o passeio em frente, bem como constatar a presença simpática do Sr. Marquês de Reriz, lendo repousadamente o jornal, sentado numa mesa da pequena esplanada à porta do café. Nesta foto vemos já duas bombas de gasolina, uma da Atlantic e outra da Vacuum. Penso que nenhuma delas existe hoje no comercio mundial.Já nesse tempo, tal como hoje, havia a pretenção de colocar as bombas de gasolina “quase” dentro das habitações. A pouco mais de cinquenta metros do antigo café Edgar estão hoje instaladas três excelentes estações de serviço!!!!

Esta visão fotográfica, separada da actualidade, por pouco mais de sessenta e cinco anos, permite-nos a todos, mais novos ou mais idosos, meditar nas vantagens e inconvenientes da evolução tecnológica, que separa ou une duas épocas historicamente tão próximas!

Ed650_cronica-02Basta pensarmos na poluição que hoje disfrutaria o Marquês de Reriz, sentado no mesmo local lendo pausadamente o seu jornal diário! Imaginem só o salto que ele não daria ao ser bombardeado pelo estridente buzinão de um camião TIR e os gases que não respiraria pela passagem constante do trânsito actual!

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança:

Todo o mundo é composto de mudança

Tomando sempre novas qualidades.”… Pensava já Camões no século dezasseis!

Continuando a nossa caminhada em direcção á Ponte atravessávamos a praça e ao fazer a curva deparávamos com o Quartel dos Bombeiros do “Corpo Voluntário de Salvação Pública”.

Ed650_cronica-03Ora bem, para terminar por hoje, aqui os temos, fardados, alinhados para a fotografia e possivelmente a inaugurar, ou a festejar algo, aí pelos anos quarenta ou cinquenta. Quem se recorda? Quem consegue reconhecer algum dos presentes?

É um desafio que deixo aos mais idosos e todos os familiares dos bombeiros da “Vonva Nova”. Vamos a ver quem tem a paciência de me enviar um email , telefonar ou escrever!

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Redação Gazeta da Beira