A. Moniz de Palme (Ed. 671)

Adriano Moreira, a Fénix Renascida – 3ª Parte

Adriano Moreira, a Fénix Renascida – 3ª Parte

ed670_AdrianoMoreiraCom a revolução do 25 de Abril e a descolonização exemplar levada a cabo, só restava a quem gostava e se interessava pelas nossas antigas províncias ultramarinas, e a quem delas fazia a sua Pátria, sair rapidamente com as famílias de suas casas e terras, com o que tinha vestido, abandonar o seu chão sagrado e chorar de raiva, assistindo impotente ao descalabro que varreu os nossos antigos ter

ritórios coloniais, sem qualquer proveito útil para a maioria esmagadora das populações autóctones, que viram os seus circuitos familiares, espirituais e comerciais destruídos, sendo-lhes tirada a paz, a segurança e nada lhes tendo sido dado em troca pelas novas autoridades, dominadas por potências de opostas ideologias políticas, mas com um único objectivo, sacar e apropriar-se das riquezas e matérias primas locais.

Apareceu então um livro de Adriano Moreira, o “Novíssimo Príncipe”, que fez sucesso e ajudou os espíritos independentes deste País a fazerem a necessária e fria análise da revolução acontecida, procurando a paz de espírito necessária para viver na confusão política portuguesa, encontrando um caminho certo, uma significativa tábua de salvação, no meios de toda a incapacidade e arrivismo dos que se perfilavam para governar o Continente Português e as suas Ilhas. O seu autor, já uma mítica figura reaparecida das brumas, no meio da turbulência da actividade partidária, surgia como um fio condutor que unia os apoiantes cultos t

anto da esquerda como da direita. Mas o seu passado não permitia que, numa primeira fase, aparecesse a público como um pretendente a líder político.

O oportunismo, a ignorância política crassa da população, a pressão do bando de Argel, o seguidismo comunista dos impreparados elementos do MFA e as determinações motivadas por interesses económicos de Moscovo e de Washington, não permitiam que uma personalidade como Adriano Moreira aparecesse na ribalta, nessa primeira fase revolucionária da vida portuguesa. Todos tiveram consciência disso. E, a pouco e pouco, o bom senso começou a renascer no espírito da população, sendo criadas circunstâncias que permitiam a autêntica liberdade de expressão e de reunião e o saudável exercício da inteligência.

Já era eu deputado e estava no Parlamento, representando o PPM, quando encontrei Adriano Moreira que estava ligado ao CDS, apesar de saber perfeitamente que o seu espírito abrangente e planetário não se coadunava com a limitação cerceadora de qualquer p

rograma político partidário. Várias conversas tivemos nos Passos Perdidos, recordando factos passados e até alguns que me diziam respeito e que guardei no baú das boas recordações. Relatou-me, com um ar divertido, que durante a minha estadia no serviço militar, tinha acompanhando, mais uma vez, o Almirante Lopes Alves, num jantar em casa dos meus pais, em Coimbra. Um dos presentes era o amigo de meu Pai, Prof. Doutor José Carlos Martins Moreira, com o seu imprescindível monóculo e a sua proverbial boa disposição, aquém foi pedido que escolhesse uma bebida para acompanhar os aperitivos e a conversa antes da refeição. Carlos Moreira escolheu uma garrafa de Madeira, que Ele próprio exigiu abrir e que serviu cuidadosamente aos presentes. Todos se deliciaram com a alta qualidade do néctar que beberam e elogiaram o excelente Vinho da Madeira, dando os parabéns ao meu Pai Porém, o dono da casa não acreditou na excelência do vinho, e agradeceu a amabilidade dos presentes, muito pouco convicto da qualidade da bebida. Não o tinha ainda provado e confessava que aquela garrafa tinha sido um presente do seu filho António, a minha pessoa, trazida da Madeira, aquando de uma visita deste ao Funchal com o Orfeon Académico de Coimbra. E que eu não devia ter dinheiro para comprar um Vinho da Madeira decente. O Carlos Moreira protestou, fazendo todos os presentes coro no elogio ao Vinho da Madeira que estavam a beber. Mais tarde o Prof Doutor Carlos Moreira perguntou-me onde tinha desencantad

o pomada tão boa. Lá lhe expliquei, que tinha sido uma oferta do Maia, antigo estudante de Coimbra, que Ele igualmente conhecia. O Prof. Adriano Moreira igualmente achou aquele vinho velho uma maravilha. Lá lhe contei a história daquel

e Madeira que tinham bebido, um presente de um amigo madeirense, grande vinhateiro, meu companheiro nas andanças coimbrãs, e que para comemorar aquele encontro na sua terra, me deu duas garrafas com mais de cem anos…. Aí assentou o terrível mistério de ter dado ao meu pai, apesar das minhas magras posses de estudante, um vinho tão bom!!!!.São Vidas…

Além de ouvir os seus primorosos discursos parlamentares, tive oportunidades várias para conversar com um dos maiores intel

ectuais portugueses deste Século. Nos trabalhos da Assembleia da República, fui sedimentando ainda mais a admiração que por Ele tinha. Ainda por cima, quando tive um conflito grave, no Parlamento, com Freitas do Amaral, devido ao projecto apresentado no Parlamento, pelo PPM, e por mim subscrito, para a Restauração do Concelho de Vizela, houve momentos de grande tenção entre mim e o líder do CDS. Nessa altura, Adriano Moreira, ostensivamente, passeava de um lado para o outro, de braço dado com a minha pessoa, nos corredores do Parlamento, nas barbas do responsável do CDS, inimigo número um da autonomia municipal de Vizela. Além de diplomaticamente me dar razão, procurava proteger-me, colocando-se in

condicionalmente ao meu lado na questão de Vizela. E foi essa amizade e cumplicidade que, mais tarde me fez solicitar-lhe o prefácio para o meu livro “ O Almofariz”.

Continuo ler e a ouvir Adriano Moreira sempre que posso, pois continua a ser um grande homem português, talvez um dos melhores representantes, no nosso País, do Humanismo de Unamuno.

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Redação Gazeta da Beira