O Jornal republicano volta a pôr em causa as contas das Termas
A Imprensa Regional de Lafões na 1ª República
O Jornal republicano volta a pôr em causa as contas das Termas
• Norberto Gomes da Costa (norberto.g.costa@sapo.pt)
Crónica 10/04/2014 (Ed. 652)
Pelo que se constata, dada a informação prestada pela imprensa sampedrense, pelo menos nos cinco primeiros anos do regime implantado em 5 de Outubro de 1910, não houve um só executivo camarário que se assumisse como defensor dos ideais republicanos. Uns a seguir aos outros, repetem-se os políticos que sempre pertenceram aos partidos monárquicos à frente dos destinos do município de S. Pedro do Sul. Aliás, como tenho, mais de uma vez, referido, o líder da autarquia continua a ser o mesmo que, há mais de uma década, domina e dirige todas as instituições relevantes no maior concelho da Região de Lafões, o médico Ferreira de Almeida.
Neste contexto, não pode constituir surpresa, conhecendo-se o espírito combativo dum jornal republicano da estirpe do Ecos do Vouga, que o alvo preferencial e o “bombo da festa” de estimação da referida publicação teria forçosamente de ser a pessoa que tudo controla, que tudo decide na terra onde os republicanos, além do jornal de referência, pouco mais têm para lutar contra os seus poderosos adversários.
E, assim sendo, o combate sem tréguas do periódico liderado por Moreira de Figueiredo, continua e continuará a ser dado a este e a todos os personagens manipuladores e dominadores da sociedade conservadora e obediente da bela “Cintra da Beira”.
Estando, então, O Ecos do Vouga com um assunto dominante nas suas primeiras páginas, há umas boas semanas a esta parte, não é ainda altura de largar de mão este caso, mas, isso sim, insistir, até à exaustão, nas eventuais más contas do Balneário das Termas.
Para apimentar o tema, existe o jornal que Ferreira de Almeida utiliza, como contraponto ao semanário republicano, o Jornal de Lafões. Está, portanto, reunido todo um caldo de cultura propício para continuar o “folhetim” termal que, assim, vai animando, apesar da instabilidade do regime, o calmo ambiente dos princípios do século XX, na vila de S. Pedro do Sul.
Então, em 20 de junho de 1915, o semanário, repetindo o titulo “ O DESCALABRO DA ADMINISTRAÇÃO TERMAL”, escreve: “Tem sido o “J. de Lafões” elemento perturbador, o que mais contribue para desprestigio e ruina do concelho. Adaptando-se a todas as personagens que, em fases diferentes, o dirigem, assim tem sido, sem brio e dignidade, monárquico, republicano, de origem evolucionista, ou de democrática, consoante as exigências de quem dele se apossa.
É uma espécie de cão vadio, sem coleira nem açamo, metendo o focinho em tudo e ladrando à mercê das conveniências, defendendo o proveito da ultima côdea.
Para defender o concelho, e, só para isso, foi este semanário organizado; e, da missão, se tem desempenhado, falando claro, abertamente, sem dobre sentido, não se deslocando dos seus princípios, que jamais renega, sem cultivar o erro, a ilusão no espirito alheio.
Insiste-se nestas declarações para que não cause estranhesa a atitude democrática e liberal, através da qual expõe as questões vitaes, as que importam beneficio imediato ou vindouro, para este concelho, sem preocupação de clientelas que não mantem nem deseja……”
E ainda: “…..Porque falámos, assim, claramente ás Juntas de Paroquia, não foi aprovado o ultimo emprestimo projectado pela Camara, resolução significativa de não merecerem confiança, e, portanto, indicação bastante para se dimitirem se houvesse um pouco de brio e honestidade no proceder. Mas tudo suportam porque não teem vergonha, porque se fizeram eleger para fins diversos, bem evidenciados, e da Camara não saem por não terem completado a missão!!….”
E termina: “…….São assim. Mentem, desvirtuam, por interesse próprio. Não está, aí, bem patente essa politica de cafres, dos jornalistas que mal soletram em tantíssimas obras que são uma vergonha e ruina de concelho?!….”
A viver na incerteza do dia-a-dia, com os parcos recursos que os seus mentores lhes colocavam à disposição, estes pequenos periódicos, lutadores pelos ideais que abraçaram, diziam presente até ao dia em que, não suportando mais as dificuldades, fechavam as portas. Era o que acontecia com as publicações republicanas que, de Norte a Sul do País, defendiam a sua “dama”, ou seja, o Regime. Foi o que aconteceu com o jornal Ecos do Vouga: três anos de intensa luta, sem tréguas de espécie alguma, mas impotente perante as adversidades que se lhe colocaram e que tornaram impossível a sua continuação. Ainda assim, enquanto pôde, os seus inimigos tiveram que contar com ele, sofrendo o seu apertado escrutínio aos negócios nebulosos ou, no mínimo, mal explicados.
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