A Imprensa Regional de Lafões na 1ª República
• Norberto Gomes da Costa (norberto.g.costa@sapo.pt)
Crónica 12/12/2013 (Ed. 644)
A I Guerra Mundial evoluia a um ritmo cada vez mais acelerado, envolvendo os principais países da Europa e arrastando várias outras nações que, com os primeiros, tinham alianças. Portugal continuava sem decidir qual o seu futuro no conflito, apesar da grande pressão que se exercia, principalmente, ao nível do seu ministro João Chagas em Paris. Evocava-se a velha Aliança com a Inglaterra como uma obrigação a que o nosso País não se poderia furtar a oferecer o seu contributo, ao que se contrapunha os escassos e degradados meios bélicos, assim como a má preparação dos militares, para não se aconselhar a nossa participação nessa guerra.
Entretanto, a contenda já se alastrara a África, onde vários países, entre eles Portugal, tinham colónias, alvos das forças inimigas e, por conseguinte, objectivos a defender. É neste contexto que chega a Lisboa a notícia de que a Alemanha, apesar da, até aí, neutralidade lusa, atacara o posto de Maziúa, em Moçambique, o que causou forte indignação.
e convenceu o Ministério a tomar providêcias para defender a nossa soberania em África.
Reuniu-se o Congresso da República, que autorizou o poder executivo a intervir militarmente na luta armada internacional, “quando e como julgue necessário aos nossos interesses e deveres de nação livre e aliada de Inglaterra”. Esta autorização destinava-se a enviar tropas para Angola e Moçambique, mas, implicitamente, sem romper a Paz com a Alemanha, também a disponibilizarmo-nos a assumir as nossas obrigações militares, que a Grã-Bretanha, dada a Aliança de Portugal com este País, decidisse um dia invocar.
O que é certo é que o primeiro corpo expedicionário se pôs a caminho de Moçambique, o que fazia com que Portugal tomasse, efectivamente, parte na I Guerra Mundial.
O jornal Ecos do Vouga ,num editorial patriótico, evocando o nosso glorioso passado com inaudita ênfase e apelando à unidade e solidariedade de todos os Portugueses, anuncia a S. Pedro do Sul e a Lafões a partida das nossas tropas para África. Em 17 de Setembro de 1914, num artigo intitulado “PARTIRAM”, escreve o jornal: “E com eles a nossa prece mais sincera, a simpatia, a amisade, o nosso melhor desejo de que todos regressem – esses valentes soldados, cobertos de gloria, justamente orgulhosos e envaidecidos, se tiverem de erguer o braço forte, de leaes portuguezes em defeza da Patria querida.
Se fôr preciso eles saberão, em terras d’Africa, para onde se dirige a primeira expedição organisada sob o regimen republicano, sem desfalecimentos, antes com o maior patriotismo e valor civico, – impôr-se-á admiração e respeito do mundo como out’rora os nossos antepassados faziam sentir o peso das aljavas e mortiferos alfanges, como protogonistas audaciosos e heroicos das grandes batalhas de que foram testemunhas – Campo de Ourique, Aljubarrôta, Atoleiros, Diu, Ormuz, Ceuta e tantas outras que a Historia regista e perpetua.
Nessas paragens inhospitas, onde o prestigio e o dominio portuguez impera glorioso, mister se torna não haver um desfalecimento para que a espinhosa missão de que vos incumbiram, se torne proveitosa e digna do soldado portuguez.
E soldado, destas serranias Beirãs, açoitado pelo vento agreste que, dos Herminios e Caramulo, vem enrigecer-lhe o braço musculoso, e que o torna celebrado em sua coragem invencivel, aguerrida, tenás, como em tempos idos era personificada pelo destemido Viriato, chefe dos lusitanos, assombroso guerreiro, de que Vizeu tanto nse orgulha de o haver contado entre os seus filhos dilectos…..”
E a terminar: “…….Nada de desanimo, valentes soldados, que é honrosa a missão de irdes assegurar os nossos dominios nessa região vastissima onde fomos os primeiros, a alcançar o piso, e a colonisar.
E á vossa largada, pelo Tejo em fôra entre as aclamações entusiasticas da multidão vereis um só adeus da Patria agradecida, que nessa hora vibrou de comoção e de supremo alento em vos vêr partir para a pratica de um sagrado dever de patriotismo.
A essas manifestações, de fraternal despedida feita aos expedicionarios onde vão bons e leais amigos – o “Ecos do Voga” junta tambem o seu grito de saudação: Vivam os expedicionarios!
Viva Portugal!. Viva a Republica!”
Como é sabido, a I República fazia ponto de honra, na política colonial, considerar as então colónias portuguesas africanas parte integrante do todo nacional. Considerava-se, até, que o futuro da Nação passava, essencialmente, pelas nossas possessões no continente negro. O que significava que qualquer movimentação, como a que aconteceu da parte dos Alemães, que indiciasse atacar ou pôr em causa alguma parcela do nosso território em terras africanas, teria imediata resposta das autoridades republicanas.
E o texto que acabei de, em parte, citar é bem revelador do que a Imprensa republicana sentia e pensava acerca desse melindroso assunto, como caixa de ressonância da filosofia política colonial de Afonso Costa e seus pares (neste caso personificada em Bernardino Machado). Numa inflamada peça jornalística, procurando atingir o mais íntimo da alma portuguesa, o semanário sampedrense dava o seu contributo para manter mobilizados todos os portugueses, quando, no seu entender, a Pátria estava a ser atingida e era necessário, com todas as forças, defendê-la.
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