• Carlos Alberto Paiva / Fotos Ana Rosa e Hugo Carvalhal
Edição 831 (14/07/2022)
Síndrome de Verão
Esqueci-me de lembrar
O que era p’ra fazer,
Sucedeu, em seu lugar,
Eu lembrar-me de ‘squecer.
Amanhã, se eu puder,
Entr’ as duas e as três,
O que for p’ra eu fazer
Vou ‘squecer-me outra vez.
Quero é fazer nenhum,
É a minha profissão,
Se puder’s fazê-lo tu,
Agradeço, pois então.
O meu sonho é ter nada,
O meu sonho é ser ninguém –
Desta forma tão errada
É que eu me sinto bem.
Se me lembro de ‘squecer
O que nunca mais se faz,
É sintoma de querer
Passar tempo em sofás.
E se dou por mim ao Sol,
Quero dar é aos pedais.
‘Star à sombra é bem melhor,
Faço menos, gozo mais.
Sou cigarra e sou feliz,
Ser formiga não me apraz,
Quanto menos eu já fiz,
Mais comigo ‘stou em paz.
E se nunca vou saber,
Na verdade, quanto valho,
É tão-só por entender
Qu’ isso dá muito trabalho.
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• Paula Jorge (Diretora Adjunta)
Eu só sei viver aqui
Talvez não consiga viver noutro lugar
Esta foi a terra que me acolheu
A serra que me despiu
As gentes que fizeram de mim aquilo que hoje sou
Sou como sou na simplicidade
Aqui eu tenho tudo
Lenha para me aquecer no inverno, o pão na mesa,
A tranquilidade que me amacia a alma…
E o meu gado que é tudo para mim
Talvez eu não soubesse viver noutro lugar
Talvez eu não quisesse viver noutro lugar
Porque aqui eu encontro a felicidade
Porque aqui eu encontro a paz.
Outrora tive sonhos, sonhos que me faziam voar
Voava sobre as minhas serras, voava sobre o meu chão
Bebi a cultura do meu povo como um jovem aprendiz
Nunca ousei voar para outras paragens
Nunca quis outras paragens
Porque só aqui eu me encontro
Porque só aqui eu sou feliz
• Novo projeto: A FOTOGRAFIA E A PALAVRA, Fotografia de Arménio Moreira, a Autora das Palavras, Paula Jorge.
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