Edição 817 (12/12/2021)
Noite de Natal
Fui deitar-me nas palhinhas,
Enrolado numas fraldas,
Mas nem burros nem vaquinhas,
Só, ao lado, umas velhinhas
A cobrir-me de grinaldas…
Isto foi a meia-luz,
Era dia de Natal,
Eu fazia de Jesus,
Entre outros seminus,
Numa ala de hospital.
Nem José, sequer Maria,
Ali perto se encontravam.
Um havia que se ria,
Outro ‘stava com azia,
Os restantes… vomitavam.
Demorei um bom pedaço
Até eu cair em mim.
E agora? O que faço?
Estendi até um braço,
Nem sinal dum querubim!
Não tardei a dar-me conta
Da extensão dos meus estragos:
A barriga, uma afronta,
A cabeça, nem se conta,
Tudo culpa dos Reis Magos –
Percorremos, com destreza,
Uma lista de bons vinhos,
Só p’ra termos a certeza
De irmos todos, em beleza,
Qualquer dia prós anjinhos.
Foi assim, nestas maneiras,
Que me vi tão menos mal,
Quando as ditas enfermeiras
Lá vieram, sorrateiras,
Desejar-me… Bom Natal!
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