• Carlos Alberto Paiva / Fotos Ana Rosa e Hugo Carvalhal
Edição 822 (24/02/2022)
Quem feio ama
Foto de Hugo Carvalhal
Eu fui feito para amar
O que é feio e bizarro
Não consigo suportar
O que é belo, fico farto
Tragam a mim as crianças
A quem a sorte traiu
Que não têm nem lembranças
De sua Mãe que partiu
Tragam a mim os velhinhos
Que têm vidas sem glória
Desses que morrem sozinhos
À janela da memória
Se são coxos, entrevados
Se são falhos de razão
Se são vesgos, amputados
Tão perfeitos p’ra mim são
Se não tem medida certa
Nem padrão onde se encaixe
Para mim é mais completa
Toda a falta por que passe
Para ser a perfeição
Que eu tenho no meu íntimo
Há-de ter vida de cão
E ser filho ilegítimo
Tu não queiras iludir-te
Natural que o assuma
Amo sem ter mais limite
O que até a Deus repugna
O que nasce sem respeito
Pelas leis da Natureza
Isso sim, é bem ao jeito
Do que tenho por Beleza
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