CULTURA (Edição 822)

• Carlos Alberto Paiva / Fotos Ana Rosa e Hugo Carvalhal

Edição 822 (24/02/2022)

Quem feio ama

Foto de Hugo Carvalhal

Eu fui feito para amar

O que é feio e bizarro

Não consigo suportar

O que é belo, fico farto

 

Tragam a mim as crianças

A quem a sorte traiu

Que não têm nem lembranças

De sua Mãe que partiu

 

Tragam a mim os velhinhos

Que têm vidas sem glória

Desses que morrem sozinhos

À janela da memória

 

Se são coxos, entrevados

Se são falhos de razão

Se são vesgos, amputados

Tão perfeitos p’ra mim são

 

Se não tem medida certa

Nem padrão onde se encaixe

Para mim é mais completa

Toda a falta por que passe

 

Para ser a perfeição

Que eu tenho no meu íntimo

Há-de ter vida de cão

E ser filho ilegítimo

 

Tu não queiras iludir-te

Natural que o assuma

Amo sem ter mais limite

O que até a Deus repugna

 

O que nasce sem respeito

Pelas leis da Natureza

Isso sim, é bem ao jeito

Do que tenho por Beleza

 



Cultura (Edição 821)
Cultura (Edição 820)
Cultura (Edição 819)
Cultura (Edição 818)
Cultura (Edição 817)
Cultura (Edição 816)
Cultura (Edição 815)
Cultura (Edição 814)
• Cultura (Edição 763 a 813)