Cultura (Ed. 824)

• Carlos Alberto Paiva / Fotos Ana Rosa e Hugo Carvalhal

Edição 824 (31/03/2022)

Abismo

Galinhas comem o milho

Do chão do meu pensamento,

Um qualquer bicho maninho

Encontra nele alimento.

 

Minhas palavras são simples

Como o cantar dos pardais,

Sem trejeitos nem requintes,

Vento que varre os quintais.

 

Qual amanhece o teu dia,

Após a noite tão ‘scura,

Serei a luz que alumia,

Que rasga o breu da loucura,

 

Rudimentar como pedras

Que servem à construção,

O cabo das ferramentas

Que deixam calos na mão…

 

Há cães que dormem à sombra

Dum pensamento fugaz,

Vão esperando p’la sobra

Que o fim do dia lhes traz.

 

Se anoitece, por fim,

Ao longe os corvos crocitam,

Eu caio num frenesim

De coisas que não s’ explicam:

 

Meu pensamento descubro

Como ilusão em que cismo

E tem alturas que subo…

Só p’ra cair no Abismo.



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