Cultura (Ed. 823)

• Carlos Alberto Paiva / Fotos Ana Rosa e Hugo Carvalhal

Edição 823 (17/03/2022)

A tristeza veste branco

De ser noiva prometida,

Vai casar-se um dia quando

For a hora da partida.

 

A tristeza nunca fica

Lá sozinha no altar,

Haverá quem leve fita,

Um anel para casar.

 

A tristeza foi amante

De bem mais do que se pensa,

Só mais um não é bastante,

Mas também não faz dif’rença.

 

Se o tempo for de crise,

A tristeza faz negócio,

Lá comete o seu deslize,

Logo pede o seu divórcio.

 

E agora, por maldade,

Por castigo ou por mazela,

Por capricho de saudade,

Já não sabes ‘star sem ela.

 

Por vergonha, não assumes,

Até negas recebê-la,

Fazes cenas de ciúmes

Mais desculpas para vê-la.

 

É melhor que se encontrem

À socapa dos olhares,

Que depois apenas contem

Os pretextos qu’ encontrares.

 

E um dia, já rendido

Aos seus olhos de candura,

Ficarás arrependido

Por amor que não tem cura:

 

Pedirás a sua mão

Com a bênção do padrinho,

Só p’ra te dizer que ‘não’,

E no fim ficar’s sozinho.



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