António Bica

As razões por que o mato passou a desenvolver-se nas áreas de floresta e a mato (parte 4)

Este texto, “Algumas questões da agricultura portuguesa. A progressiva desertificação humana nas áreas de economia agrícola dominante do norte e centro do país”, está subdividido em 17 pontos, pelo autor, António Bica.

Na sequência da publicação da 1ª parte deste artigo, na Gazeta da Beira nº696 de 12/05/2016, continuamos, para facilitar a leitura do texto, e uma vez que se trata de um artigo extenso, por mais 13 partes.

699_DrBica-p04

As razões por que o mato passou a desenvolver-se nas áreas de floresta e a mato (parte 4)

Porque os jovens acederam ao ensino não quiseram ficar a viver da exploração da pequena área de terra a herdar dos pais, que, em regra, não passava de menos de um a três hectares; era vida de trabalho duro e baixo rendimento. Aspiravam a progredir nos estudos e emigrar internamente (para as cidades e vilas), ou, fazendo como os pais, emigrar para a Europa. Com esta evolução social e demográfica os terrenos não arroteados de montanha e planalto do norte e centro, a larguíssima maioria, onde os agricultores anteriormente pastoreavam o seu gado (ovelhas, cabras e vacas), a alimentar-se da vegetação arbustiva, deixaram de ser percorridos pelos rebanhos entretanto vendidos; a fertilização das terras deixou de ser feita pelo mato roçado para ser curtido nos currais do gado, quer porque muitas terras haviam deixado de ser cultivadas, quer porque as que as ainda cultivadas passaram a ser fertilizadas com adubos químicos; a lenha para aquecer o forno onde semanalmente se cozia o pão e pôr a ferver as panelas de ferro e três pés da cozinha deixou de ser apanhada nos incultos das serras, substituída pelo gás de botija.

De 1999 a 2009 o número médio anual de incêndios foi de 24.937, a área anual média queimada foi de 148.452 ha. Entre 1990 e 2004 os incêndios florestais e em matos ocorreram anualmente em muito maior número onde a desertificação humana foi maior.

Assim nos largos terrenos de montanha e planalto não agricultados o mato passou a poder crescer denso, sem controlo, até altura de 2 a 3 metros. Sendo no norte e centro do país os verões secos e as temperaturas altas, criaram-se as condições para todos os verões os fogos percorrerem largas áreas de mato e de mato com arvoredo, tudo destruindo, o que passou a acontecer entre os fins da década de 1960 e princípios da de 1970. Os terrenos a mato e com floresta passaram a ser repetidamente queimados por incêndios de Verão em períodos entre 5 e 10 anos. Inicialmente as sementes das resinosas adultas queimadas (predominantemente pinheiros bravos) caíam, possibilitando a regeneração natural da floresta. Com a sucessão dos fogos em ciclos de tempo curtos que não possibilitavam que as árvores jovens nascidas depois de incêndio anterior produzissem sementes, deixou de haver regeneração natural em grandes áreas. As graves consequências dos fogos florestais resultam evidentes dos números que se seguem.

De 1999 a 2008, os números médios dos incêndios florestais e em matos em Portugal foram: Junho – 2.700, Julho – 5.000, Agosto – 6.500, Setembro – 4.200.

De 1999 a 2009 o número médio anual de incêndios foi de 24.937, a área anual média queimada foi de 148.452 ha.

Entre 1990 e 2004 os incêndios florestais e em matos ocorreram anualmente em muito maior número no interior norte e centro do país e também no Alto Minho, na serra ocidental algarvia e na área de serra do distrito de Portalegre (estes números podem ser consultados pela internet na Autoridade Nacional de Protecção Civil), onde a desertificação humana foi maior.

———————

Links para artigos publicado nas quinzenas anteriores

A perda de população no interior norte e centro do país e os consequentes fogos (parte 3)
Emigração na década de 1960 (parte 2)
A pequena e média propriedade a mato e a arvoredo florestal (parte 1)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *