Reportagem (Ed. 643)
Ousar, contrariar as adversidades
Bons negócios, também nascem em tempos de crise
• Patrícia Fernandes
A maré em que navegamos, é, como sabemos, uma maré com ventos intempestivos e chuvas fortes, muitas vezes, destruidoras. Essa maré a que chamamos de crise já fez estragos e continua a fazer. Todos os dias há novos desempregados a juntar ao alto número que o país já regista. Todos os dias, empresas fecham e roubam o futuro de tantos trabalhadores. Este quadro, pintado em tons tristes, marca a actualidade, mas há excepções das quais não nos podemos esquecer. Há, ainda, quem não desista de rumar para bom porto, independentemente das dificuldades do caminho a trilhar. Afinal, é com o esforço das excepções que se preconiza a mudança
A Gazeta da Beira procurou essas excepções e encontrou-as. Conheça a história de três jovens que decidiram criar o seu próprio emprego e abrir um negócio. Exemplos de sucessos, entre os muitos que se podem encontrar na região.
Quando todas as portas se fecharam, Ana Maria construiu a sua própria saída
Ana Maria Oliveira trabalhava há quase seis anos numa sapataria, em São Pedro do Sul. Os tempos mudaram, a crise chegou e a sapataria fechou as suas portas. Ana Maria acabou por perder o seu posto de trabalho, uma notícia triste para quem já tinha o marido nas mesmas condições e dois filhos, ainda por criar.
Ana Maria teve mais de um ano no desemprego e por mais que tivesse procurado, não encontrou nenhum trabalho. Todas estas adversidades não a deixaram desistir, como conta: “se nos vamos abaixo a vida não vai para a frente”. Perante as portas que se fecharam Ana Maria construiu a sua própria saída e decidiu abrir uma sapataria, no centro comercial Camões a que deu o seu próprio nome. Sapatos para homens, mulheres e crianças, assim como alguns acessórios, numa casa que, como defende, “ prima pela variedade dos produtos”.
O negócio ainda abriu há pouco tempo, mas os primeiros indicadores são positivos. Ana Maria encara, agora, o futuro com confiança, até porque, já tem experiência no ramo e os sapatos são um mercado, onde, há ainda muito por explorar. Como explica: “penso que não há muitas sapatarias em São Pedro do Sul e decidi apostar. Além disso, como já tinha trabalhado na área é tudo muito mais fácil, já conhecia muitos clientes da antiga sapataria que agora vêm cá, sei quais são os números mais vendidos e também os gostos da maioria”.
Jovem licenciada cria o seu próprio emprego
Mariana Teixeira é licenciada em gestão de empresas e é técnica de compras. Um vasto currículo, que, contudo, não impediu que a jovem trilhasse o caminho do desemprego. Quanto mais respostas negativas ouvia, mais Mariana tinha vontade de começar algo novo e assim o fez. Mariana juntou-se à irmã, Marta Lopes e juntas abriram uma loja de roupa juvenil. As duas irmãs escolheram abrir esta boutique, localizada em Vales, Oliveira de Frades, porque acreditam que “não há, muita oferta nesta área, na zona”.
As empresárias não escondem o entusiasmo com o “seu projecto” e procuram marcar a diferença, assim, procuraram “um nome diferente e engraçado”: Balão Sabichão e, como referem, primam por marcas de qualidade. Cientes das potencialidades geradas no mundo virtual, as duas irmãs, já criaram, também, uma página no facebook.
Mariana Teixeira assume, assim, uma nova profissão diferente de tudo o que já fez, uma experiência nova que, até então, está a ser positiva. Como conta a nova empresária: “Noutros empregos já tive que lidar com o público e portanto, tenho alguma facilidade, mas vender roupa é diferente de tudo o que já fiz”.
A vontade de vencer pesou mais que a crise
Fátima Almeida, desde que se lembra, sempre “tratou as flores por tu”. A beleza natural das Rosas, Orquídeas, Gerberas e de todas as flores, em geral, sempre foi um interesse que, rapidamente, se tornou num, sonho e agora, finalmente, num modo de vida. Há já algum tempo que Fátima trabalha como florista, mas, agora, decidiu tornar-se, também empresária e abriu um negócio próprio.
Também foi depois de estar no desemprego que Fátima Almeida decidiu arriscar no mundo dos negócios. Aproveitando o facto de já ter trabalhado na área das flores, numa loja em Viseu que acabou por fechar, a florista abriu a sua própria loja, nas instalações de Campo Cravo, em Paredes de Cravo, Oliveira de Frades. A crise não lhe conseguiu destruir a esperança e seguiu em busca do projecto de sempre. Como conta à Gazeta da Beira: “fazer arranjos florais é aquilo que eu gosto de fazer, sei que estamos em crise, mas se começarmos devagarinho, com um pequeno investimento, penso que temos tudo para dar certo, a crise não pode ser motivo para desistirmos daquilo que queremos”.
O negócio está ainda a dar os primeiros passos, mas, para, já Fátima Almeida não podia estar mais realizada. Devagar, dando firmemente cada passo, Fátima Almeida, em tempos de crise, ousa pensar o futuro com positivismo. Como refere: “Estes primeiros dias tem corrido muito bem, já tinha muitas pessoas que conheciam e gostavam do meu trabalho que agora vêm à loja, mas sei que há ainda muitas pessoas que não conhecem o meu trabalho”.
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