«Uma história de vida, com o olhar no futuro e Vouzela no coração»

Dr. Telmo Teixeira de Figueiredo

Quando, no início dos anos setenta, assentámos arraiais em Vouzela, “terras e termo de Lafões”, travámos conhecimento com o Sr. Dr. Telmo. Rapidamente constatámos estar perante uma pessoa simpática, de fácil trato, prestável e carismática, na sua terra e na região.

Licenciado em Farmácia, é natural de Vouzela, de tradição familiar agnóstica e republicana, há várias gerações. Seu avô, Cesário Teixeira, oriundo de Tabuaço, aportou a esta vila, onde criou a farmácia e foi o primeiro Presidente da Câmara de Vouzela, em 1910, quando se iniciou o regime republicano. Veio a herdar a referida farmácia, da qual passou a ser proprietário e director técnico.

Na sua juventude, integrou o MUD (“Movimento de Unidade Democrática”) Juvenil; fez a campanha da candidatura à Presidência da República do General Norton de Matos, em 1948, tendo tido igual desempenho, em 1958, na candidatura do General Humberto Delgado; em 1969, fez parte da candidatura oposicionista CDE, para a Assembleia Nacional. Depois do “25 de Abril de 1974”, por várias vezes integrou listas candidatas aos órgãos do Poder Local. Teve um papel activo e decisivo na candidatura e eleição do candidato Sr. João Ribeiro, para a presidência da Câmara de Vouzela (candidatura do PS); nesta conformidade, foi eleito Presidente da Assembleia Municipal, cargo que exerceu durante um mandato. O Sr. Dr. Telmo, a nível local ou nacional, assumiu um espaço político de centro-esquerda, candidato ou apoiante, de forças como: MDP/CDE, FEPU/APU/CDU, PRD, PS e Candidatura Independente “Por Vouzela”.

No campo da Educação, integrou o grupo que, em 1961, criou a Sociedade que viria a criar o Externato de S. Frei Gil (o ‘Colégio’), instituição que, ao fim de 14 anos de funcionamento, cedeu o espaço que contribuiu para as actuais escolas-sede do Agrupamento de Escolas de Vouzela (EB2) e Escola Secundária de Vouzela. Leccionou no referido Externato, bem como na Escola Preparatória de S. Pedro do Sul e na Secção de Vouzela da Escola Industrial e Comercial de Viseu, de cuja Comissão Directiva fez parte. Durante anos, foi dirigente da Cantina Escolar de Vouzela.

Em devido tempo, o próprio reconhecia que sempre pudera contar com uma «disponibilidade económica e de tempo», condições «favoráveis a fazer alguma coisa por esta terra»…, (com a anuência de sua esposa, Sra Professora D. Carminda de Albuquerque e dos filhos), sendo «erro indesculpável», se o não  fizesse. Nesta conformidade, regista-se uma participação indelével do Sr. Dr. Telmo, em múltiplas vertentes:

A nível associativo. Foi Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vouzela, de 1953 a 1958, tendo exercido a presidência da Direcção, em vários períodos, com uma acção relevante e decisiva na renovação e ampliação das instalações e ainda na criação da Secção de Campia. Presidiu, ou fez parte de vários elencos directivos, da Associação “Os Vouzelenses”, bem como da Associação de Futebol de Viseu. Foi presidente da Assembleia-Geral da Sociedade Musical Vouzelense, cargo que desempenhou por diversas vezes. Apoiante e sempre atento à vida da Associação Cultural e Recreativa de Vouzela (ACRV). Dotado de uma forma de ser e de estar aberta, descomplexada e eclética, foi  também ‘irmão’ da Santa Casa da Misericórdia de Vouzela, tendo feito parte dos órgãos sociais desta Instituição, exercendo, nomeadamente, o cargo de presidente do Conselho Fiscal.

O bairrismo e empenho em ver progredir a sua terra («… uma das mais bonitas do país», onde se podem testemunhar diversos ‘ex-libris’) explicava, desta forma, o seu envolvimento em iniciativas locais: em 1955, integra o grupo que adquiriu o “Notícias de Vouzela” (posterior e transitoriamente, “Vouga Livre”), administrando-o e fazendo parte da Redacção, durante 20 anos. Ainda nos anos cinquenta, fundou, com outros conterrâneos, a“Gráfica Vouzelense”.  Em 1981, deu o seu contributo à constituição da “CTV-Confecções Têxteis de Vouzela”, que veio a transformar-se em significativa unidade industrial. Ajudou a lançar, com notável empenho seu, a Cooperativa da “Rádio Vouzela”, a cuja Direcção presidiu, quase ininterruptamente, durante mais de 20 anos. Durante muitos anos, contribuiu para a realização ininterrupta das emblemáticas “Festas do Castelo”, integrando e dinamizando as respectivas Comissões, cuja acção marca o seu ‘período de ouro’. Cedeu, graciosamente e com a anuência da família, o terreno para construção do actual Cine-Teatro Municipal de Vouzela, uma antiga aspiração da terra. Também por isso, Vouzela muito lhe deve.

Profissionalmente, o Sr. Dr. Telmo guindou-se a um elevado patamar, tendo granjeado um estatuto, mediante o qual integrou, por diversas ocasiões, órgãos relacionados com a actividade farmacêutica, designadamente: o “Conselho Nacional das Farmácias” (representação do distrito de Viseu); “Conselho Disciplinar” (presidência, durante 6 anos); “Ordem dos Farmacêuticos” (Secção Regional de Coimbra), presidência  do  Conselho  Fiscal  e  presidência  da mesa da Assembleia-Geral, de 1994-2000; “Farbeira – Cooperativa de Farmacêuticas do Centro”,  sucessivamente suplente da Direcção, Presidente do Conselho Fiscal, Presidente da mesa da Assembleia-Geral e Presidente do Conselho Consultivo.

Humanamente, releve-se a sua maneira de ser e de estar, no exercício da actividade farmacêutica: nunca o cliente/doente deixou de levar os medicamentos, por falta de dinheiro para os pagar ‘na hora’. Sabemos que alguns desses débitos demoravam a ser pagos, ou não o eram nunca!

Perante um currículo de tal dimensão, o Município de Vouzela entendeu ser de toda a justiça homenagear o cidadão Telmo Teixeira de Figueiredo, «personalidade idónea e respeitada… sinónimo de credibilidade, uma das mais proeminentes e prestigiadas do Concelho de Vouzela», atribuindo-lhe o galardão máximo. O evento teve lugar no feriado municipal, em 14 de Maio de 2006, tendo, então, o homenageado expresso algumas das preocupações, oportunas e desassombradas. Efectivamente, urge, na qualidade de vouzelenses e lafonenses, assumir «uma vigorosa tomada de consciência do que somos e do que pretendemos ser» e se estudem «soluções sem miserabilismos doentios e sem acomodações perniciosas».

Dotado de exemplar grau de cidadania, perspicaz e inteligente, sempre atento, seguia uma constante análise do que se passa no mundo, no país, na região e, sobretudo, na sua terra. Atitudes que podemos desta forma contextualizar: o Sr. Dr. Telmo bem poderia ter-se deixado ficar, instalado, à sombra do seu “berço dourado”. Não foi por aí.

‘Gazeta da Beira’ merecia da sua parte um apreço muito especial. Em nome de toda a Redacção, compete-nos endereçar os mais sentidos pêsames a toda a família enlutada:

Esposa

– Carminda Gonçalves de Albuquerque

 

Filhos

– Maria Beatriz de Albuquerque Teixeira de Figueiredo Brinca

– João Afonso de Albuquerque Teixeira de Figueiredo

– Manuel Eduardo Albuquerque Teixeira Figueiredo

 

Netos

– André Lopes Teixeira de Figueiredo

– Carolina Teixeira de Figueiredo Brinca

– Joana Lopes Teixeira de Figueiredo

– Cristiana Teixeira de Figueiredo Brinca

– Beatriz Ribeiro Tavares Teixeira de Figueiredo

 

Bisnetos

– Óscar Farinhas Lopes Figueiredo

– Francisco Farinhas Lopes Figueiredo

– Maria Lopes Figueiredo da Costa Moreira

– José Maria Figueiredo Brinca Galvão Teles

 

• Texto por António Alexandrino

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