Vasco Coutinho
Relembro-me de miúdo
Tardes de eterno momento
Que fazem em mim, graúdo,
Sempre teu em pensamento.
Ao sabor de uma laranja
Que colhi em Pessegueiro,
Celebrei-te numa granja,
Sentado no ermo outeiro.
No louvor do teu correr
Tão Célere, tão tranquilo,
Ia-se vendo florescer
Cada planta de mirtilo.
E a noite calma do peixe,
Que silencia as candeias,
Aclama o brilho dum feixe
A iluminar as lampreias.
Salvaguardem os arpões
Que despertam teus sabores
E do Ventoso a Arões
Despertam fátuos amores.
Sou inteiro nas tuas margens,
No aconchego confortável
Das bifurcadas paisagens,
No amor incomensurável.
E cá nas terras de deus,
Terras de divinos montes,
Vão-se educando ateus
belos como tuas pontes.
Despertas paz em Minh’ alma
Despertas, água fugaz!
Tua silhueta m’acalma,
Ondas que vão onde vás.
Escrevo-te hoje, e pra sempre.
Escrevo-te em cada etapa.
Escreves eternamente,
Trovas que nascem na Lapa.
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