“Relembro-me em miúdo…”

Vasco Coutinho

Relembro-me de miúdo

Tardes de eterno momento

Que fazem em mim, graúdo,

Sempre teu em pensamento.

 

Ao sabor de uma laranja

Que colhi em Pessegueiro,

Celebrei-te numa granja,

Sentado no ermo outeiro.

 

No louvor do teu correr

Tão Célere, tão tranquilo,

Ia-se vendo florescer

Cada planta de mirtilo.

E a noite calma do peixe,

Que silencia as candeias,

Aclama o brilho dum feixe

A iluminar as lampreias.

 

Salvaguardem os arpões

Que despertam teus sabores

E do Ventoso a Arões

Despertam fátuos amores.

 

Sou inteiro nas tuas margens,

No aconchego confortável

Das bifurcadas paisagens,

No amor incomensurável.

 

E cá nas terras de deus,

Terras de divinos montes,

Vão-se educando ateus

belos como tuas pontes.

 

Despertas paz em Minh’ alma

Despertas, água fugaz!

Tua silhueta m’acalma,

Ondas que vão onde vás.

 

Escrevo-te hoje, e pra sempre.

Escrevo-te em cada etapa.

Escreves eternamente,

Trovas que nascem na Lapa.